Poucos jogos conseguem causar estranhamento logo nos primeiros segundos e, ainda assim, convencer o jogador a continuar. Tingus Goose – Weird Idle Game faz exatamente isso. Entre o grotesco, o humor absurdo e a lógica fria dos jogos incrementais, o título se firma como uma das experiências mais inusitadas do cenário indie recente.
Criado por Mastertingus, animador conhecido por curtas perturbadores e cômicos protagonizados por gansos, vacas e criaturas indefiníveis, o jogo nasce diretamente dessa estética de internet que sempre prosperou no desconforto. Funciona em vídeo, mas parecia improvável que funcionasse como jogo. Contra todas as expectativas, funcionou e bem.
Lançado para celulares em 2024, Tingus Goose ultrapassou 1 milhão de downloads e, agora, chega ao Steam com uma versão mais robusta, limpa e alinhada com sua proposta original.

Uma ideia absurda que encontra lógica
Descrever Tingus Goose é sempre mais estranho do que jogá-lo. A proposta central gira em torno de fazer um ganso crescer até o céu, financiado pelos filhotes que ele gera. Esses bebês, os famosos Tingis, despencam pelo cenário, interagem com flores, quicam em cabeças, são engolidos por outros gansos e, no processo, geram recursos.
O dinheiro arrecadado alimenta um ciclo de upgrades que expande o pescoço do ganso, desbloqueia novas flores (plataformas passivas) e amplia a eficiência da produção. O objetivo final de cada capítulo é simples: crescer o suficiente para permitir o acasalamento no céu e seguir adiante.
Incremental, mas não exatamente ocioso

Apesar de ser classificado como idle (o usuário pode progredir de várias maneiras sem ter que jogar de forma ativa), Tingus Goose exige envolvimento. Há espaço para deixar o jogo rodando sozinho, mas o mais divertido é escolher as flores, testar combinações, acelerar ganhos e encontrar o ponto ideal de produtividade.
O jogo é dividido em 17 capítulos, e cada um reinicia a progressão com novos desafios. Em compensação, há uma boa quantidade de desbloqueios permanentes, árvore de habilidades e melhorias passivas que tornam cada retorno mais eficiente do que o anterior.
É o tipo de experiência que prende sem avisar. A intenção de jogar “só um pouco” quase sempre termina com o relógio acusando meia hora a mais do que o planejado, um sinal claro de que o loop funciona.
Estética grotesca como identidade

Visualmente, Tingus Goose não pede permissão. Ele invade a tela com horror corporal estilizado, figuras simples e animações desconcertantes. O choque inicial é forte, mas logo se transforma em curiosidade.
O uso de cores e minimalismo é surpreendentemente eficiente. Cada nova flor, criatura ou animação provoca aquele breve atraso mental em que o cérebro tenta entender o que está vendo. E isso nunca desaparece completamente. O jogo não busca conforto visual; ele constrói identidade através do desconforto.
Além disso, as animações entre capítulos reforçam essa sensação, funcionando quase como pequenas recompensas narrativas, se é que esse tipo de arte pode ser chamada de recompensa sem ironia.
Som e desempenho: funcionais e consistentes

A trilha sonora é discreta, com faixas curtas que se repetem com frequência. Não chega a comprometer a experiência, mas dificilmente se destaca. Já os efeitos sonoros cumprem melhor seu papel: grasnados, sons viscosos e ruídos estranhos ajudam a sustentar a atmosfera bizarra do jogo.
No aspecto técnico, não há do que reclamar. Por ser um jogo 2D, Tingus Goose roda com facilidade em qualquer máquina moderna, mantendo desempenho estável mesmo quando a tela está tomada por gansos, Tingis e flores em plena atividade.
Vale a pena jogar “Tingus Goose – Weird Idle Game”?
Tingus Goose – Weird Idle Game é um jogo que não tenta ser universal. Ele abraça o estranho, o desconfortável e o absurdo como pilares da sua identidade. Mais do que um bom incremental, é uma experiência autoral que se destaca em um gênero saturado.
O jogo não é perfeito e nem pretende ser. Mas é criativo, memorável e difícil de ignorar. Um jogo que provoca risos nervosos, confusão genuína e aquela vontade insistente de “ver só mais um capítulo”.
No fim, talvez ele não explique o sentido da vida. Mas deixa uma pergunta impossível de esquecer: qual é, afinal, o verdadeiro significado dos gansos?
Imagem da capa: Sweaty Chair
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