Uma Mente Excepcional mistura humor, drama familiar e casos semanais, sustentada pelo carisma de Kaitlin Olson (Hacks)

Desde Castle, Bones, Lúcifer e O Mentalista“, o modelo narrativo que junta um detetive cético a um civil excêntrico com talentos extraordinários já se tornou um clássico televisivo.

Uma Mente Excepcional” (“HPI – Haut Potentiel Intellectuel”) segue exatamente essa tradição, mas adiciona novas camadas com a presença de Kaitlin Olson no papel de Morgan, uma faxineira de delegacia com QI elevado.

A primeira temporada, disponível no Disney+ revela como a série tem um ritmo leve, humor inteligente e dramas pessoais para conquistar o público.

Review - Uma Mente Excepcional
Kaitlin Olson e Daniel Sunjata na série | Crédito: Reprodução/IMDB

Morgan e Karadec: choque de estilos que move a trama

Morgan é apresentada como uma mãe solo de três filhos, cheia de energia e problemas cotidianos, que acaba transformando um emprego temporário em uma improvável carreira de consultora policial.

O estopim acontece quando, ao organizar arquivos espalhados no chão da delegacia, ela resolve um caso de homicídio com uma facilidade quase absurda.

Esse episódio inicial não só introduz sua inteligência excepcional, como também cria as bases para a parceria improvável com o detetive Adam Karadec (Daniel Sunjata), um policial metódico e resistente a interferências externas.

A dinâmica entre Olson e Sunjata rapidamente se torna o coração da série. Ela, caótica, expansiva e sempre pronta para conectar pistas aparentemente insignificantes; ele, disciplinado, metódico e desconfortável diante de alguém que insiste em quebrar protocolos.

A relação se desenvolve entre atritos e complementações, lembrando os velhos pares improváveis que marcaram a televisão dos anos 2000.

O roteiro faz questão de inserir diálogos afiados e situações inusitadas, como Morgan levando o bebê para a cena do crime ou improvisando análises forenses a partir de detalhes banais.

Kaitlin Olson e Javicia Leslie em Uma Mente Excepcional
Kaitlin Olson e Javicia Leslie na série | Crédito: Reprodução/IMDB

O motor de “Uma Mente Excepcional”

No entanto, o seriado não se apoia apenas nos casos da semana. Há um arco maior, introduzido logo no piloto, que envolve o desaparecimento de Roman, o grande amor da vida de Morgan e pai de sua filha mais velha.

O mistério em torno de sua ausência funciona como motor emocional e contrasta com o tom mais leve dos crimes episódicos. Esse equilíbrio entre a comédia policial ensolarada e o drama familiar da um diferencial dentro do gênero.

A série reforça uma fórmula bem definida: casos aparentemente insolúveis que são desvendados graças à combinação de memória fotográfica, criatividade e raciocínio obsessivo de Morgan.

Embora previsível, a estrutura encontra charme no modo como a protagonista se envolve com cada detalhe, seja percebendo a direção do vento em Los Angeles ou reparando em um objeto deslocado em uma cena de crime.

Esse olhar para o insignificante é o que sustenta o ritmo, ao mesmo tempo em que permite explorar o contraste entre a genialidade de Morgan e a frustração dos detetives ao redor.

Kaitlin Olson na série
Kaitlin Olson na série | Crédito: Reprodução/IMDB

Acertos e tropeços de “Uma Mente Excepcional”

Do ponto de vista técnico, a série se beneficia da experiência de Drew Goddard, criador de The Good Place e roteirista de Perdido em Marte.

O roteiro tem um tom leve e funciona na “TV aberta” e no streaming, sem se levar a sério como produções mais sombrias do gênero.

Em vez de buscar realismo extremo, aposta no entretenimento imediato e na química entre os personagens. Essa escolha faz de “Uma Mente Excepcional” uma série acessível e, até nostálgica, ao relembrar séries como Monk e outras séries do gênero.

Ainda assim, nem tudo funciona de forma impecável. O humor, por vezes, beira o exagero, e a genialidade de Morgan pode soar artificial quando levada ao limite.

Para alguns espectadores, a personagem pode parecer irritante, principalmente quando invade territórios policiais sem medir consequências.

É justamente nesse ponto que a série se torna “ame ou odeie”: quem embarca na proposta vai encontrar leveza e diversão; quem busca uma trama complexa e realista pode se frustrar.

Apesar dessas ressalvas, o carisma de Kaitlin Olson é o elemento que sustenta a narrativa. A atriz consegue equilibrar energia e sensibilidade, entregando uma protagonista que oscila entre o absurdo cômico e a vulnerabilidade dramática.

Em resumo, “Uma Mente Excepcional” confirma que a produção não tem pretensão de reinventar o gênero policial. Em vez disso, aposta em um formato conhecido, mas reenergizado pela performance de Olson e por um tom mais ensolarado do que o habitual.

Vale a pena assistir “Uma Mente Excepcional”?

Se você aprecia séries policiais que equilibram humor, drama familiar e mistérios semanais, a resposta é sim. “Uma Mente Excepcional” não é revolucionária, mas entrega diversão descomplicada, sustentada por uma protagonista carismática.

Já para quem procura densidade narrativa e realismo investigativo, talvez seja melhor revisitar produções como Line of Duty ou The Wire (A Escuta). Ambas você encontra no HBO Max.

Imagem de capa: ABC/Divulgação