No dia 23 de abril, é comemorado o Dia Mundial do Livro. Nessa data, leitores, escritores e a comunidade literária, em geral, se unem para celebrar a literatura e o seu objeto de maior valor, o livro. O objetivo da data é incentivar a leitura, especialmente entre os mais jovens.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) escolheu o dia 23 de abril, uma vez que essa é a data de falecimento de três grandes nomes da literatura mundial: William Shakespeare, Miguel de Cervantes e Inca Garcilaso de la Vega.
A data é uma grande oportunidade para formar novos leitores. A tecnologia e as novas ferramentas de informação democratizaram e facilitaram o acesso aos livros. Mas, atualmente, a leitura enfrenta grandes desafios. Há o crescente fenômeno de desinformação, assim como informações cada vez mais rápidas. Além disso, a evolução da Inteligência Artificial (IA) causa um debate cada vez maior. A discussão é sobre os direitos autorais e até onde a tecnologia influencia na criação humana.
Para entender esse contexto, durante essa semana de celebração ao Dia Mundial do Livro, o GeekPop News traz uma série de entrevistas com escritores. Eles falam como o livro e a leitura são importantes, no mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, considerando a seguinte questão:
Em um mundo dominado pela tecnologia, pela informação rápida e pela desinformação, qual a importância do livro como objeto físico e como experiência de leitura mais imersiva e reflexiva?

Para o escritor, diretor e roteirista piauiense Andrey Jandson, o livro pode levar o leitor a viagens por lugares diversos. O autor aposta na experiência imersiva e no objeto como ponto de equilíbrio:
“Do jeito que as coisas andam, quando estou com um livro em mãos, é como se eu tivesse acesso a outra dimensão. Sabe quando um filme que você assiste é mais lento, mas muito imersivo? Essa é a sensação de que estou num desses filmes por alguns minutos ou horas, enquanto no resto do tempo tudo está na velocidade 2X. Acho que somos todos muito perdidos com a tecnologia, é algo que veio, avançou rápido, e a gente ainda está igual “barata tonta” aprendendo a como lidar. O livro pode te oferecer algum equilíbrio.”
Já para o escritor Pedro Jucá, que é pós-graduado em Psicanálise, vivemos em um tempo marcado pela velocidade de informações. Ele demonstra preocupação por constatar que estamos perdendo a capacidade de nos conectar uns com os outros:
“Nesse contexto, o livro é um artefato sagrado, a ser protegido com unhas e dentes, uma arma — pacífica — de guerra, a ser usada sem comedimento, e um bálsamo contra os males de nosso tempo. Vivemos na era da ultravelocidade, em que nossos cérebros viraram papa, nosso espírito se embotou e, por mais paradoxal que isto soe, perdemos a capacidade de nos conectarmos, de verdadeiramente nos conectarmos a outros seres humanos.
Um livro representa um antídoto a tudo isso. Ao ler, imergimos numa atividade que demanda integralmente nossa atenção, estamos no tempo presente, aterrados, aterrissados. E é com a literatura, por excelência uma arte de alteridade, isto é, de conhecimento do outro, das suas dores, dramas e glórias, que melhor resgatamos nossos traços mais profundos de humanidade — empatia, compreensão, troca e generosidade”.
A escritora Mônica Cristina acredita no poder dos livros para nos tornar mais analíticos, mais sonhadores, assim como “menos robótico”. A autora procurou fugir de comparações mercadológicas ou números, mas sim valorizar a habilidade de contar histórias, dando boas-vindas às novas tecnologias:
“Sim, estamos vivendo em um mundo muito mais rápido, intenso e em transformação, obtemos informação e desinformação a um click, a gosto do freguês, mas ainda assim, escolho e continuo acreditando nos livros, nas histórias bem contadas, na fantasia, no romance que nasce lento, que vai se desenrolando, envolvendo e nos levando para longe, para a calmaria de novas vidas e novos mundos, trazendo um alívio que pode ser encontrado neles.
Eu acredito tanto nas histórias e em sua capacidade de ligar mundos, pessoas e lugares, que também recebo e acolho com prazer a chegada do livro digital, dos audiobooks, de tudo que a tecnologia pode oferecer, pois ainda assim, é um livro, uma história, um universo, ainda é um contador de histórias atrás de uma tela de computador, digitando seu sonho e do outro lado, um desconhecido a virar páginas e sonhar junto, porque no fim, eu sempre vou acreditar nos livros e na sua capacidade de permanecer, mesmo quando tudo muda. Se a tecnologia falhar, se a luz do mundo se apagar, você ainda pode acender uma vela e abrir um livro, esse, sim, sempre vai estar aqui.”