Stefany Borba, autora do livro “Um jardim onde morrem as flores e nascem segredos” falou exclusivamente ao GeekPop News sobre sua trajetória e sobre o processo de escrita do livro. Designer e escritora, voltou recentemente a produzir suas próprias histórias. O thriller “Um jardim onde morrem as flores e nascem segredos” é seu segundo livro, e narra a história de uma jovem que descobre segredos familiares dolorosos e macabros.

Confira a entrevista com Stefany Borba:

Você poderia se apresentar para os nossos leitores nas suas próprias palavras? Queremos conhecê-la melhor.

Olá, eu sou a Stefany. Leitora, designer e escritora. Da comédia romântica ao suspense cheio de mistérios, a literatura é o meu oxigênio aqui na Terra!  Estou na carreira de designer há 11 anos, mas sempre tive o sonho de contar minhas próprias histórias. Por muito tempo, depois de alguns “nãos”, fiquei paralisada, enfrentei bloqueios criativos e quase desisti.

Em 2020, tomei coragem para voltar a escrever e, hoje, entendo que cada obstáculo fez parte da minha trajetória. Eles me impulsionaram a aperfeiçoar a escrita, buscar novas referências e, acima de tudo, encontrar não apenas a minha voz, mas também o meu espaço na literatura. 

De onde veio a inspiração para a história e para o título: “Um jardim onde morrem as flores e nascem segredos”?

Tudo começou a partir de algumas conversas com a minha avó, quando ela me contou sobre as dificuldades que viveu sendo mulher nos anos 1970, e também o que viu outras mulheres viverem. Na mesma época, que tivemos essa conversa, eu ouvi o podcast Praia dos Ossos, que fala sobre o cruel assassinato da Ângela Diniz, morta pelo próprio companheiro. Essa história me marcou profundamente.

Alguns anos antes, já tinha conhecido melhor a trajetória de Maria da Penha e toda a violência que ela sofreu, o que também deixou em mim uma grande inquietação.

Então, passei a pesquisar mais sobre feminicídio e violência doméstica e, quanto mais lia, mais me perguntava o que realmente havia mudado na diferença de poder entre gêneros com o passar dos anos e o que apenas ganhou novos nomes. Essa reflexão se intensificava cada vez que eu via novas notícias de violência contra mulheres.

Foi desse incômodo, dessas conversas e dessas pesquisas que nasceu a ideia do meu livro. Sobre o título, a proposta é simbolizar flores arrancadas antes de florescerem, assim como mulheres que têm sua vida interrompida simplesmente por serem quem são. 

Qual você diria que é a principal característica de Maria Isabel, e como você analisa a relação dela com os demais personagens da obra?

A Bel é uma garota muito determinada, sem dúvidas. Talvez às vezes até demais. De certa forma, é a Maria Isabel quem conduz o olhar do leitor para a história, já que é nossa protagonista, e por isso muitas vezes acompanhamos tudo a partir da perspectiva dela e de seus sentimentos.

A relação mais próxima é com a mãe, em contraste com a que tem com o pai, que carrega certa distância. Esse afastamento se deve a alguns anos em que ele esteve ausente, mas, ao longo da narrativa, percebemos a vontade de ambos de reconstruir laços que ficaram fragilizados.

Também acompanhamos Bel, ainda adolescente, vivendo seu primeiro amor com Henrique, experiência que contrasta com o relacionamento atual com Gustavo, que ela conhece na faculdade. Há também vínculos de amizade de infância que se perderam com o tempo, como acontece com Heloísa.

E, como se trata de um thriller, Maria Isabel se vê repetidamente em situações em que sente que não pode confiar nem mesmo nas pessoas mais próximas. Assim, todas essas relações são atravessadas por conflitos que reforçam a tensão e a atmosfera da história.

Outra característica marcante do livro é a relação entre avó, mãe e neta. Como essa relação ou choque entre gerações moldam a narrativa do livro?

O choque entre gerações aparece nos diálogos, nas memórias e nas cartas, e molda a história de forma intencional. A proposta é provocar no leitor uma reflexão sobre o que de fato mudou e o que ainda permanece dentro desse jogo de poder entre gêneros, que muitas vezes continua longe da igualdade.

A construção dessas personagens nasceu a partir de pesquisas e de conversas com pessoas reais que cruzaram meu caminho ao longo da vida. Ao compartilharem comigo suas experiências e crenças, despertaram em mim a vontade de compreender o que, cultural e historicamente, moldou cada geração. É claro que existem recortes: mesmo dentro de uma mesma época, pessoas podem viver realidades muito diferentes.

A história é um drama familiar, que acaba se revelando uma história repleta de suspense. Você acredita que os segredos familiares são os mais sombrios em um livro?

Sim, acredito. Segredos familiares rendem ótimas histórias justamente porque carregamos a crença de que a família deve ser uma rede de apoio e um espaço seguro para nos amparar nos momentos difíceis. Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Eu mesma costumo ouvir podcasts de crimes reais e, neles, aparecem muitos casos sombrios que envolvem famílias. Esses me chocam ainda mais, tanto nos livros quanto na vida real, justamente por confrontarem essa ideia do que acreditamos que a família deveria ser. 

Em que você se inspirou para criar os cenários da obra, os jardins, a casa, as cidades, etc.?

Tenho alguns parentes que vivem em Itapetininga, no interior de São Paulo, e minha avó materna também mora atualmente na cidade. Por isso, algumas partes da história foram inspiradas em ruas que conheci quando estive em Itapetininga. Ao mesmo tempo, criei cenários fictícios que surgiram a partir de lembranças da minha infância, especialmente da cidade de Peabiru, no interior do Paraná, onde alguns parentes do meu pai moram. 

Qual o simbolismo da flor em uma história repleta de mulheres que passam por tantos desafios?

Acredito que muitas mulheres já ouviram, ou conhecem alguém que ouviu, a frase: “você deve ser delicada como uma flor…”. Ou alguma variação parecida, sempre carregando o mesmo significado. O simbolismo aparece na forma como a sociedade constrói culturalmente a ideia de feminilidade, associando a mulher a delicadeza, pureza e a um padrão de beleza imposto. Na história, são justamente as mulheres que desafiam essa expectativa limitada que acabam sendo assassinadas.

Qual a mensagem ou lição que você espera que os leitores aprendam?

Não posso dizer que o intuito do livro seja necessariamente transmitir uma mensagem para ensinar algo, mas sim abrir um diálogo. Quero que ele provoque conversas sobre as diferenças de poder entre os gêneros, sobre a complexidade das relações abusivas e sobre como, muitas vezes, é difícil para quem está dentro delas perceber o que realmente está vivendo.

Quais são seus planos? Pretende escrever ou já está escrevendo algo novo?

Eu leio muito thriller, fantasia e romance, e confesso que sonho em me tornar uma escritora que transita por todos esses gêneros. No momento, tenho um novo thriller YA em andamento, além de um romance ambientado no universo do futebol, que deixei pela metade, mas pretendo retomar em breve. E, quem sabe em um futuro mais distante, quero escrever também uma romantasia. Essa ideia sempre volta à minha mente e, aos poucos, vou registrando anotações para dar vida a ela quando chegar a hora certa.

Pode, por favor, mandar uma mensagem para os nossos leitores?

Se você tem um sonho, nunca deixe as vozes da sua cabeça, nem as opiniões dos outros, convencerem você de que não é capaz. Eu sei que a vida, às vezes, nos enche de medo, mas existem momentos em que precisamos seguir em frente mesmo com as mãos suando e as pernas tremendo, porque só assim conseguimos chegar aonde sempre desejamos.

Falo isso porque um dos meus maiores medos era escrever e receber críticas negativas. Mas entendi que não existe isso de ser escritora sem escrever, sem se expor. Chegou um ponto em que eu precisava escolher: desistir do meu maior sonho ou me arriscar. Eu escolhi arriscar. Nem sempre tem sido fácil, mas cada passo me mostra que estou no caminho certo, e hoje me sinto aliviada por ter iniciado essa caminhada.