Sueli Carneiro é a vencedora do Prêmio Intelectual do Ano – Troféu Juca Pato. Organizado pela União Brasileira de Escritores (UBE), o evento está em sua 58ª edição. 

O troféu foi criado por Marcos Rey, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1962, para homenagear o Intelectual do ano. Dessa forma, autores que tenham lançado uma obra no ano anterior podem ser reconhecidos por sua contribuição. Porém, esta não está apenas ligada à escrita, mas também à luta por um país democrático.

Os concorrentes de Sueli Carneiro foram Daniela Arbex, Jeferson Tenório, Lilia Schwarcz e Maria Valéria Rezende. Nomes como Lygia Fagundes Telles e Carlos Drummond de Andrade foram contemplados com o prêmio, assim como Juscelino Kubitschek. Sueli recebe o prêmio por escrever a biografia “Lélia Gonzales – Um Retrato“.

Filósofa, ativista e escritora, ela então receberá o prêmio no dia 28 de novembro, entregue por Míriam Leitão, a ganhadora da edição passada. Outro nome confirmado no evento é Conceição Evaristo, que levou o prêmio em 2023.

Conheça Sueli Carneiro

Nascida em São Paulo, em 1950, Sueli Carneiro é uma das maiores ativistas do movimento negro e do feminismo no Brasil. Graduada em filosofia e doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP), sua trajetória é marcada pela luta contra o racismo, o sexismo e a exclusão social. Dessa forma, o seu trabalho à frente de temas tão cruciais fez com que ela se tornasse referência nacional e internacional.

Foi na década de 1980 que Sueli então se destacou na luta pela reivindicação de espaço para mulheres negras em instâncias de poder do nosso país, como o Conselho Estadual da Condição Feminina. Ela foi a fundadora da primeira organização independente de mulheres negras em São Paulo, o Geledés – Instituto da Mulher Negra.

Além disso, a instituição então permitiu que a autora criasse iniciativas como o SOS Racismo, oferecendo apoio jurídico a vítimas de discriminação e programas de saúde para mulheres negras. Outra criação é o Projeto Rappers, que usa o estilo musical como uma forma de conscientização e mobilização política.

Sueli e a literatura nacional

Durante o doutorado, Sueli escreveu a tese “A construção do Outro como Não-Ser como fundamento do Ser“, analisando como o racismo constrói relações sociais no Brasil, deixando clara a deslegitimação dos saberes negros, o que a autora chama de “epistemicídio”.

Também é de sua autoria a expressão “enegrecer o feminismo”, que defende que o movimento feminista não pode ignorar a realidade das mulheres negras. Pelo contrário, a expressão reforça a importância de reconhecer a experiência das mulheres negras enquanto as coloca no centro da luta.

Autora de obras como “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” e coletâneas de artigos e ensaios, sua escrita é certeira, Sueli navega com facilidade entre assuntos como filosofia, educação e direitos humanos. Assim, a ativista recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa e o Prêmio Kalman Silvert da Latin American Studies Association. Além disso, a autora foi também a primeira mulher negra a receber o título de doutora honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB), em 2022. 

A Casa Sueli Carneiro, espaço dedicado à memória, formação e fortalecimento do ativismo negro, foi inspirada na autora. Sueli é uma das vozes mais potentes contra o racismo estrutural e as desigualdades de gênero no nosso país. Por fim, seu trabalho segue influenciando diretamente políticas públicas, movimentos sociais e o pensamento crítico coletivo.

Crédito: Zé Carlos Barretta/Folhapress