Antes mesmo de qualquer versão live action de Sam Raimi, Sony e MCU existiu um primeiro Homem-Aranha, existiu o Supaidaman. Mais conhecido como o Homem-Aranha japonês, essa série é um marco para o tokusatsu e sem ela alguns pontos emblemáticos desse gênero jamais existiriam.
A série é o resultado de um contrato de licenciamento de 03 anos entre a Marvel e a Toei. Isso ocorreu após a visita do representante da editora, Gene Pelc, ao Japão para a criação de uma parceria entre as empresas. Mas, inicialmente a Toei planejava em utilizar o Homem-Aranha como um personagem de apoio em uma outra série não realizada.
Nos planos originais da série, o Homem-Aranha seria Yamato Takeru, que seria enviado ao presente devido a uma distorção temporal. Deste modo, o personagem seria uma versão de Peter Parker que vive no Japão, mas esta história acabou não sendo aceita. Então, a Toei decidiu apostar em uma nova série aonde o Homem-Aranha é o protagonista, o personagem de Yamatao Takeu se torna Garia, um alien que dá os poderes ao herói.
Então a partir disso, surge um show totalmente diferente do esperado, algo fora do comum para quem conhecia o Homem-Aranha. Obtendo um sucesso enorme no Japão, além de apresentar o herói para um novo público, a série é um marco para todo o gênero do tokusatsu. Stan Lee, o criador do Homem-Aranha e de boa parte do universo Marvel era um grande fã da série, uma surpresa para o astro principal Shinji Todo. Assim, no dia 17 maio de 1978 ia ao ar o primeiro episódio de Supaidaman.
Quem é Supaidaman?
Takuya Yamashiro é um jovem motoqueiro, campeão de motocross, que presencia a queda de um misterioso OVNI, que na verdade é a nave Marveller, vinda do planeta Spider. O Dr. Hiroshi Yamashiro, um arqueologista espacial e pai de Takuya, investiga o caso do OVNI, mas acaba sendo morto ao encontrar a nave. Os responsáveis por este fato são o Professor Monster e o Exército da Cruz de Ferro, o objetivo deles é dominar este e vários outros mundos.
Takuya cheio de raiva e ódio, por presenciar a morte de seu pai, tenta lutar contra os vilões, mas acaba mortalmente ferido e assim, caindo em uma caverna. Lá encontra Garia, o último sobrevivente do planeta Spider, planeta este destruído pelo Exército da Cruz de Ferro. Em seu último ato de bondade, Garia decide salvar a vida de Takuya, para que ele concretize a vingança que ambos desejam. Para isso, teve que injetar seu sangue spideriano em Takuya, assim o jovem acaba se recuperando de suas feridas mortais. Além disso, coloca um bracelete em seu pulso ao qual permite controlar a Marveller, o seu carro Spider Machine GP-7 e também é onde sai seu traje, o Spider Protector. E assim, Takuya se torna o Supaidaman, o Homem-Aranha japonês, protegendo a Terra das ameaças do Exército da Cruz de Ferro.
Algumas semelhanças com outros tokusatsu
Apesar de ser uma série tokusatsu em parceria com a Marvel Comics, Supaidaman possui certas semelhanças com algumas séries que passaram nos anos anteriores. Isso se deve ao fato que os produtores de Supaidaman queriam fazer algo novo, mas ao mesmo tempo algo que o público já conhecia.
Uma das maiores referências da série é o fato da Toei precisar que o Supaidaman se transforme. A Toei até aquele momento, sempre fez séries de “Henshin Heroes“, num tradução literal “heróis que se transformam“, e com Supaidaman não seria diferente. Além disso, o fato de Takuya ser campeão de motocross, igualmente Takeshi Hongo era em Kamen Rider. E não podemos esquecer da referência a Gorenger, no qual os vilões são o Exército da Cruz Negra e em Supaidaman os vilões são Exército da Cruz de Ferro.
Tudo isso são apenas alguns dos pontos que a Toei quis usar, para deixar com mais cara de um tokusatsu. Ao decorrer da série várias outras referências podem ser apontadas, com outras séries que passaram nos anos anteriores.
A triste jornada do herói, Supaidaman
Um dos pontos mais interessante da série é a jornada de luta e sofrimento de Takuya, o quanto ele não suportava essa guerra contra a Cruz de Ferro, mas tinha que continuar a lutar. E que por diversos momentos se via à beira de desistir, mas só de testemunhar o mal que os vilões causava aos outros encontrava forças para seguir em frente.
Supaidaman acerta por diversos momentos em mostrar o quão falho é o herói. Por exemplo, Peter Parker já perdeu o tio, algumas namoradas e às vezes algum conhecido ou civil, mas Takuya perde alguém quase todo episódio. É algo assombroso e triste, ver que ele só deseja salvar as pessoas e mesmo assim, com todos os seus esforços, ele falha e alguém acaba morrendo.
Além disso, Takuya precisa esconder que é um herói, pois se descobrirem isso seus irmãos e sua namorada serão pegos pela Cruz de Ferro. Então, muitos acreditam que ele é apenas um desempregado sem futuro, ele apanha, leva tiro, deixa o humilharem apenas para manter sua identidade secreta. Takuya mesmo não querendo admitir isso, por diversas vezes, é um exemplo de herói.
Em alguns momentos, vemos Supaidaman tendo de contar para as crianças que seus pais morreram. E em outros, ele apenas testemunha a morte de conhecidos e civis, que tiveram suas vidas arruinadas pela Cruz de Ferro. A série é marcada por este tom melancólico, por uma tristeza imensa que faz qualquer um desabar. A construção e crescimento de Takuya, é algo incrível na série, o quão diferente é dos outros Homens-Aranha. Todo final de episódio, termina com ele proferindo a frase: “Até quando, vou ter que continuar lutando?“.
A série é carregada num tom soturno e triste, Supaidaman não queria lutar esta guerra, mas se vê obrigado a fazer isso. Takuya carrega consigo a lembrança de ser um filho negligente, sentindo falta do seu pai e do que poderiam ter feito ainda. É sobre o peso da vingança, o mal que a Cruz de Ferro causa e isso torna essa série muito interessante.
O legado de Supaidaman para o tokusatsu
Uma coisa que podemos agradecer a série do Supaidaman, o Homem-Aranha japonês, é que se não existisse ele não existiria robô gigante, no gênero tokusatsu e consequentemente, não haveria em Super Sentai e Power Rangers. O Leopardon acabou sendo um percussor para os robôs gigantes, a Toei gostou tanto do resultado que decidiu apostar nesta ideia.
Então, no Super Sentai de 1979, Battle Fever J, se deu início a uma tradição que segue até hoje nos Super Sentai, os robôs gigantes. E claro que anos mais tarde, quando Haim Saban trouxe a franquia para os Estados Unidos, para ser os Power Rangers surgia ali os Zords e a união deles era o Megazord. E tudo isso, só foi possível graças ao Supaidaman, sem ele dificilmente teríamos essa mudança no gênero tão cedo.
Graças ao sucesso de Supaidaman, a Marvel decidiu encomendar uma nova série em parceria com a Toei. E como já foi mencionado, a série é Battle Fever J, que originalmente contaria com o Capitão América, mas de última hora o personagem não foi utilizado. Mas como Supaidaman, Battle Ferver J acabou sendo uma aposta muito alta e trouxe um enorme sucesso para empresa. Vale ressaltar, que esta seria a primeira série Super Sentai sem a participação de Shotaro Ishinomori, que criou as duas primeiras séries da franquia.
Curiosidades sobre o Supaidaman
O personagem do Supaidaman, o Homem-Aranha japonês, foi uma tentativa da Marvel vender mais quadrinhos no mercado japonês. Mas, resolveram apostar nas séries tokusatsu, que estavam em alta naquela época. Apesar da aposta ser muito alta e as chances de sucesso serem poucas, o resultado surpreendeu tanto a Marvel quanto a Toei.
Cronologicamente, o Supaidaman faz parte da Terra-51778 do Universo Marvel. No qual, o personagem já participou de algumas sagas do Homem-Aranha. Participando das sagas Aranhaverso, Aranhagedom e numa tie-in Aranhagedom, chamado de O Baú das Aranhas. Battle Fever J também é canônico no Universo Marvel, existindo na Terra-79203.
Supaidaman não foi o único Homem-Aranha japonês, em 1998 os autores Ryoichi Ikegami e Kazumasa Hirai dariam início ao novo mangá do Homem-Aranha. A história do mangá é totalmente diferente da série tokusatsu e das histórias da Marvel. Acompanhamos a jornada de Yuu Komori, que também é picado por uma aranha radioativa e com isso ganha os poderes do Homem-Aranha.
Além do sucesso de Supaidaman, o Homem-Aranha japonês, o robô gigante também era um sucesso entre as crianças e fãs da série. Graças a esse sucesso, Stan Lee encomendou uma revista para divulgar a linha de brinquedos japoneses, assim surgia os Shogun Warriors. Após o fracasso nas vendas e não ter apelo com o público, os Shogun Warriors passam por uma reformulação e sua licença é adquirida pela Hasbro, surgindo assim os Transformers.
Supaidaman acabou sendo um grande marco na parceria entre Toei e Marvel, seu sucesso trouxe bons caminhos entre as empresas. E além disso, sem esta série muita das coisas que tornaram as franquias de tokusatsu conhecidas, não teriam surgido tão rápido. Contudo, não podemos deixar de falar que Supaidaman e Leopardon estarão presente em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso.
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