Quem já passou pelos quatro anos do curso de Jornalismo com certeza é familiarizado com o nome de Tom Wolfe. O jornalista e escritor americano foi um dos fundadores do New Journalism, ou Novo Jornalismo. Esse movimento revolucionou a escrita de reportagens na década de 1960, inovando ao trazer técnicas da literatura para o texto jornalístico.

Junto com nomes como Truman Capote, Gay Talese, Joan Didion e Norman Mailer, para citar alguns, Wolfe foi um dos repórteres mais inovadores do século XXI. Logo, seu trabalho segue sendo uma das maiores referências para o jornalismo literário.

Sua escrita é marcada pelo uso de sátiras, tons de ironia e humor mordaz. Wolfe abordava de forma crítica o sonho americano e, como chamava o autor, “detalhes de status”. A prosa, apresentando a corrente do Novo Jornalismo, narra os acontecimentos da realidade adicionando elementos da escrita de literatura fictícia.

Dessa forma, o estilo de texto envolve mais liberdade do que o jornalismo tradicional vigente na época. Algumas características que Wolfe usou para estabelecer esse estilo de texto são o uso do presente histórico, construção de metáforas, uso de coloquialismo, gírias, neologismos e onomatopeias.

Assim como escreveu para grandes veículos de notícia americanos, ele também foi autor de obras que até hoje são referências do gênero jornalismo literário. Alguns exemplos são “O Teste do Ácido do Refresco Elétrico”, “Radical Chique” e “A Palavra Pintada”. Wolfe também publicou trabalhos de ficção, como “A Fogueira das Vaidades” e “Um Homem Por Inteiro”.

Wolfe revolucionou a escrita de reportagens ao trazer técnicas da literatura para o texto jornalístico, sendo referência até hoje
Créditos: Reprodução

Sua jornada como repórter

Wolfe iniciou sua carreira como repórter em 1956, escrevendo para o jornal Springfield Union. Em 1959, passou para o Washington Post, que considerava não combinar com o estilo de escrita que ele desejava produzir. O jornalista não se sentia original e avaliava que o jornal se convertia em “uma forma de preguiça”.

Eventualmente, descontente com o “jornalismo bege” da época, ele se mudou de Washington para Nova York, buscando oportunidades em que pudesse exercitar sua escrita de forma diferente.

Em 1962, começou a trabalhar como repórter para o New York Herald Tribune. O veículo era conhecido por encorajar seus jornalistas a experimentar com suas matérias, abandonando os convencionalismos da escrita jornalística tradicional. Assim, Wolfe soube que havia chegado ao lugar certo para se expressar.

A origem New Journalism

É possível dizer que Tom Wolfe foi o criador do movimento jornalístico New Journalism, bem como é possível afirmar que ele criou o estilo por acaso.

Durante uma greve dos jornais nova-iorquinos em 1963, Wolfe entrou em contato com a revista Esquire sugerindo uma pauta sobre a popularidade dos hot rods (carros customizados) no Sul da Califórnia. O escritor, em uma situação que muitos jornalistas podem se identificar, procrastinou a execução do texto e na noite anterior à entrega, ainda não tinha sequer um rascunho.

Assim, o editor da Esquire, Byron Dobell, sugeriu a Wolfe que enviasse suas anotações sobre o assunto para que trabalhassem juntos na produção da reportagem. Dessa forma, Wolfe escreveu uma carta com tudo que gostaria de dizer sobre o assunto, sem se preocupar com o estilo do texto ou que estivesse de acordo com as convenções do jornalismo.

Dobell fez apenas uma edição: apagou a saudação “Caro sr. Byron” do começo da carta e a publicou na revista como um artigo. Em 1° de Novembro de 1963, com o título “There Goes (Varoom! Varoom!) That Kandy Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby”, o primeiro material do que viria a ser o Novo Jornalismo era lido pelo público.

O artigo foi grande motivo de discussão. A recepção dos leitores foi mista, alguns amaram, outros odiaram. Porém, já estava feito, assim havia nascido a nova corrente jornalística que definiria a década de 1960: resultado de um oportuno acaso.

Wolfe revolucionou a escrita de reportagens ao trazer técnicas da literatura para o texto jornalístico, sendo referência até hoje
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Sobre Tom Wolfe

Tom Wolfe nasceu em 2 de Março de 1930 na cidade de Richmond, na Virgínia. Vindo de uma família da classe média, seus pais valorizavam muito a educação e o incentivaram a exercitar seus interesses literários desde sua infância. Ele tem formação em Inglês pela Universidade Washington and Lee e doutorado em Estudos Americanos pela Universidade de Yale.

Wolfe recebeu ofertas para trabalhar como professor acadêmico, mas escolheu seguir carreira como repórter. Assim, escreveu para os jornais Springfield Union, Washington Post, The New York Herald Post e para a revista Esquire. Sua escrita revolucionou o texto jornalístico da época, desenvolvendo o movimento do New Journalism.

Ele publicou diversos livros, como as coletâneas de reportagens, “Radical Chique”, “Palavra Pintada”, “De Bauhaus ao Nosso Caos”, “Os Eleitos”, entre outros. Seus principais trabalho de ficção são “Um Homem Por Inteiro”, “Sangue nas Veias” e “A Fogueira das Vaidades, que foi adaptado para o cinema pelo diretor Brian de Palma em 1990.

Wolf faleceu aos 88 anos, em 14 de Maio de 2018. Seu legado e impacto no Jornalismo segue vivo até hoje.