Com o lançamento de Tremembé, do Prime Video, o público volta a discutir a representação de Suzane von Richthofen e outros criminosos famosos nas telas
Nos últimos anos, o audiovisual brasileiro tem se voltado com intensidade para histórias reais de crimes que marcaram o país. Casos que antes ocupavam apenas os noticiários agora ganham espaço nas plataformas de streaming, despertando tanto a curiosidade quanto a reflexão sobre ética, memória e narrativa. Com o lançamento de Tremembé, série do Prime Video, essa discussão se renova ao revisitar personagens e crimes que ainda ecoam no imaginário coletivo.
Enquanto produções internacionais exploram serial killers e grandes escândalos criminais, o Brasil tem buscado compreender o próprio passado recente. Assim, séries e filmes nacionais passam a examinar não só os acontecimentos, mas também o comportamento dos envolvidos, suas motivações e a forma como a mídia construiu essas figuras.
Desse modo, obras como Tremembé deixam de ser apenas relatos. Elas se transformam em análises sobre culpa, julgamento público e a fronteira entre realidade e ficção.

Tremembé: quando o crime real encontra a ficção dentro dos muros da prisão
A série amplia o olhar sobre crimes que marcaram a história recente do país. Inspirada nos livros de Ulisses Campbell: “Suzane: Assassina e Manipuladora” e “Elize Matsunaga: A Mulher que Esquartejou o Marido”, “Tremembé” propõe uma abordagem que mistura ficção e realidade, retratando os bastidores de uma penitenciária que abriga alguns dos nomes mais conhecidos do noticiário policial brasileiro.
Ao longo dos episódios, o público acompanha figuras como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, além dos irmãos Cristian e Daniel Cravinhos. Contudo, a série não se limita aos casos mais famosos: também traz personagens inspirados em criminosos como Lindemberg Alves, Gil Rugai, Roger Abdelmassih, Pimenta Neves e Acir Filló, ampliando o panorama de histórias que dividem a opinião pública até hoje.
Para além dos nomes verdadeiros, Tremembé introduz personagens ficcionais que supostamente estão representando pessoas reais e reforçam o entrelaçamento entre verdade e invenção. Entre os criminosos que estão livremente inspirados neles estão: Luciana Olberg (Poliana), Vanessa dos Santos Martins (Raíssa), Ricardo de Freitas Nascimento (Lua), Bequil Ciangrande Neto (Gal) e Carlos Sussumu (Dr. Tumura), que funcionam como fios condutores entre os diferentes núcleos narrativos.
Mais do que reconstituir crimes ou dramatizar julgamentos, Tremembé analisa o impacto da fama criminal e a relação entre mídia, justiça e espetáculo. Dessa forma, a produção do Prime Video constrói um mosaico de personagens que, mesmo separados por crimes distintos, compartilham um mesmo destino, o de carregar, dentro e fora das telas, o peso da curiosidade coletiva e das narrativas que moldam o imaginário nacional.

Suzane von Richthofen e o espelho de duas versões
Entre todas as figuras retratadas, Suzane von Richthofen é, sem dúvida, uma das mais emblemáticas. Desde os filmes “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais”, estrelados por Carla Diaz (O Clone), o público acompanha a tentativa do cinema de compreender o crime sob diferentes pontos de vista.
As duas produções da Amazon Prime se destacaram justamente por oferecer versões opostas: a de Suzane e a de Daniel Cravinhos. Assim, permitindo ao espectador questionar a veracidade de cada narrativa.
Agora, em Tremembé, o contexto se amplia. Suzane deixa de ser apenas protagonista e passa a integrar um grupo de personagens igualmente marcados por crimes de grande impacto. Essa mudança de foco reforça a transição do olhar do público, que vai de uma curiosidade centrada em um único caso para uma análise coletiva sobre o sistema prisional e a construção social da figura do “criminoso famoso”.
Além disso, ao ser interpretada por outra atriz, Suzane ganha uma nova camada de representação. Isso estimula comparações entre as abordagens e desperta o debate sobre até que ponto a arte pode, ou deve, revisitar essas histórias.
Enquanto Carla Diaz entregou uma performance ancorada na ambiguidade emocional e no contraste entre fragilidade e manipulação, Tremembé opta por um retrato mais distanciado, quase documental. As duas obras, portanto, se complementam: a primeira oferece a emoção da reconstituição, a segunda propõe o distanciamento crítico.
Ambas, contudo, revelam um interesse crescente do público brasileiro por entender as motivações humanas por trás de atos extremos.
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O papel do true crime no audiovisual brasileiro
O crescimento desse tipo de produção no país também aponta para uma tendência global: o fascínio por narrativas reais de crime, conhecidas como true crime. No Brasil, porém, o gênero assume características próprias, misturando elementos de denúncia social, estudo psicológico e até crítica ao sensacionalismo midiático.
Assim, Tremembé e os filmes sobre Suzane von Richthofen não apenas retratam o crime, mas também questionam como a sociedade lida com ele, dentro e fora das telas.
À medida que mais obras desse tipo surgem, o desafio será equilibrar a responsabilidade ética com o interesse narrativo. Afinal, cada produção não apenas reconta uma história, mas também ajuda a moldar como ela será lembrada.
Imagem de capa: Prime Video/Divulgação
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