Rafaela Tavares Kawasaki lança “Venha ver a revoada“, obra dekassegui, termo que se refere à literatura que retrata a jornada de migrantes em busca de melhores condições de vida. Para desenvolver o projeto, a autora realizou uma extensa pesquisa no Japão, especialmente na província de Gunma, explorando tanto a linguagem quanto as experiências ligadas à migração.

Hoje, mais de duzentos mil brasileiros moram no Japão, mas, ainda assim, é raro encontrar obras que retratem a realidade desses migrantes. É essa a premissa da obra de Rafaela. Ela e sua família passaram por esse processo, a autora esteve no Japão durante 14 anos, onde trabalhou em fábricas na província de Gunma-ken.  Assim, ela percebeu que poderia dar voz a uma história que também é a de milhares de brasileiros que não encontram representatividade na literatura.

Venha ver a revoada” nasceu, assim, para narrar experiências de migração, trabalho e deslocamentos entre Brasil e Japão. O projeto foi selecionado e apoiado pelo Itaú Cultural no edital Rumos 2023-2024. Segundo Rafaela, “Cada diáspora e fluxo migratório tem suas particularidades. Cada pessoa migrante tem seus sonhos, angústias e realidade. Mas também penso que escrever personagens com essa vivência de travessias alarga o potencial de fazer com que as pessoas leitoras reflitam sobre outras chegadas e trajetórias pelo mundo.”

O enredo

A trama acompanha a história de uma nipo-brasileira que, vinte anos após deixar Gunma-ken, retorna à província. Ali, reencontra familiares, revisita lugares marcantes e encara um questionamento que a acompanha há muito tempo.

Ao mesmo tempo, sua vida se transforma quando conhece uma jovem trans brasileira que acredita ser sua meia-irmã perdida. A protagonista, por sua vez, carrega a dor de ter deixado a filha no interior de São Paulo ainda pequena, com apenas cinco anos.

Dividido em quatro partes, o enredo acompanha as personagens da infância à vida adulta. O livro é fruto de ampla pesquisa, incluindo conversas com pessoas que vivenciaram trajetórias semelhantes, leituras de obras sobre o tema e viagens da autora.

Para Rafaela, “uma intenção forte que quero propor para a narrativa do livro é carregar a prosa com percepções e atividades ligadas a elementos que podem parecer banais. Mas quero que um eixo da escrita seja justamente essas experiências que acreditamos serem apenas ordinárias.”

A obra está em processo de revisão e tem lançamento previsto para o próximo ano. Enquanto isso, ensaios e materiais do projeto podem ser acompanhados pela newsletter e nas redes sociais.

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