Quatro filmes nacionais abordam saúde mental de forma delicada, ampliando o debate sobre depressão, suicídio e ansiedade. Nos filmes “A Metade de Nós”, de Flavio Botelho, “Meu Casulo de Drywall”, de Carol Fioratti, “Ninguém Sai Vivo Daqui”, de André Ristum e no documentário “As Linhas de Minha Mão”, de João Dumans, a temática é debatida de forma franca, segura e honesta. Fomentando junto ao público diversas possibilidades de debates e reflexões.

O tema saúde mental está em foco nos últimos anos, aumentando, após a pandemia do Covid-19, no entanto, a batalha existe há muito mais tempo. Muitos brasileiros estão lidando com muito estresse, seja no trabalho ou em casa. Ou conhecem alguém que possua algum transtorno mental, ou perdeu alguém próximo por suicídio.

Por isso, a abordagem do tema, no mercado cinematográfico é importante e aproxima mais, as pessoas encorajando para um debate mais amplo.

Filmes ampliam debate sobre saúde mental

A Metade de Nós partiu da necessidade do cineasta Flavio Botelho de falar sobre os sentimentos em relação à morte da irmã por suicídio, pouco depois do nascimento da filha. No filme o casal de protagonistas vivência de maneira divergente a perda repentina de seu único filho, já adulto.

Os pais tentam por sua vez buscar por respostas e curas emocionais. Abordado por Botelho com bastante responsabilidade. O longa ganhou o Prêmio do Público como Melhor Filme de ficção brasileiro na 47ª Mostra internacional de Cinema de São Paulo.

“O suicídio impacta muitas pessoas e os sentimentos são os mais variados. Geram culpa, vergonha, às vezes, raiva. Mas meu pai teve um processo muito bonito, porque era um cara fechado sobre seus sentimentos e acabou escrevendo um livro sobre a história”, conta Flavio Botelho, em entrevista.

O filme chama a atenção para os cuidados com a saúde mental das famílias que vivem o luto de uma perda precoce e muitas vezes sem aviso.

A Metade de Nós

Divulgação

Sinopse: A trajetória de um casal na terceira idade que perde o primeiro e único filho em um suicídio. Uma família que se decompõe. Francisca e Carlos buscarão motivações para se livrarem de culpas e suposições de como seria se tivessem agido diferente, o que permitirá que criem novas maneiras de viver.
No elenco estão Denise Weinberg, Cacá Amaral, Kelner Macêdo, Clarice Niskier, Henrique Schafer e Justine Otondo.

  • Denise Weinberg e Cacá Amaral
  • Denise Weinberg
  • Cacá Amaral e Kelner Macêdo

Já em Meu Casulo De Drywall, Caroline Fioratti aborda o suicídio de uma jovem de 17 anos num condomínio de luxo é o ponto de partida para a investigação de como seus pais e amigos tentam lidar com essa perda imensa. O filme transita entre dois períodos para também contar a história dessa moça e de como ela chegou a esse ato extremo. O elenco conta com Bella Piero, Maria Luisa Mendonça, Caco Ciocler, Mari Oliveira e Michel Joelsas.

“Imagino como pode ser prejudicial para uma mente em formação viver fechada num condomínio, protegida do mundo exterior. A ideia com o filme era romper com essa bolha, olhar o que acontece diante do inesperado, quando a tragédia se abate por dentro”, disse em entrevista, a diretora, que também assina o roteiro.

Meu Casulo De Drywall

  • Cena Meu Casulo de Drywall
  • Cena filme Meu Casulo de Drywall
  • Cena filme Meu Casulo de Drywall

Sinopse: O suicídio de Virgínia, durante sua festa de 17 anos, abala a vida dos moradores de um condomínio nobre da cidade. Para a maioria, uma tragédia passageira, mas para sua mãe e amigos o início de uma transformação, a rachadura no casulo de drywall.

Os longas mostram experiências diferentes, famílias diferentes que acabaram levando a perda de uma vida. Deixando a família com questões e uma estrada para se curar e seguir em frente. No Brasil existem organizações preparadas para auxiliar pessoas que passaram poder perdas e também para prevenção ao suicídio, como a CVV – Centro de Valorização da Vida e Instituto Vita Alere.

Saúde Mental na memória do brasileiro

Apesar da fomentação recente da temática da saúde mental, o cuidado ou a falta dele já faz parte da história do país. Isso foi abordado pela jornalista Daniela Arbex, em seu livro-reportagem “Holocausto Brasileiro” onde a autora denuncia um dos maiores genocídios do Brasil.
O crime aconteceu no maior hospital psiquiátrico do país, o Centro Psiquiátrico Hospitalar de Barbacena, entre 1903 e 1980. É exatamente no livro de Arbex de onde André Ristum tirou inspiração para o longa, Ninguém Sai Vivo Daqui.

“O tema me fascina desde muito cedo. Acho que a proximidade com pessoas com algum tipo de patologia ao longo da minha vida e o aprofundamento na minha psicanálise pessoal me despertaram um grande interesse em explorar esse tema. Desde A voz do silêncio, fui mais fundo nisto e, no caso do Ninguém sai vivo daqui, agora o tema toma um lugar ainda mais dominante”, disse Ristum em entrevista.

Ninguém Sai Vivo Daqui

  • Elenco em cena de Ninguém sai daqui vivo
  • Cena filme Ningupem sai daqui vivo
  • Filme ninguém sai daqui vivo

Sinopse: No começo dos anos 70, a jovem Elisa é internada à força pelo pai no Hospital psiquiátrico Colonia, por engravidar do namorado. Após passar por muitos abusos, Elisa, junto a outros colegas injustiçados, lutará para encontrar uma maneira de fugir dessa sucursal do inferno.

O elenco do filme conta com Andrea Horta, Fernanda Marques, Augusto Madeira e Rejane Faria.

Outra obra que aborda saúde mental é o filme documentário, As Linhas Da Minha Mão, que já estreou em diversas cidades do país. Com direção de João Dumans, o longa tem como protagonista a artista Viviane de Cássia Ferreira, que fala abertamente sobre suas experiências com a arte e a loucura.

E, a partir disso, o filme investiga o seu trabalho e a relação deste com saúde mental.

“Minha questão em relação à Viviane, minha percepção e fascinação por ela, estão muito relacionadas à clareza e a precisão com que ela é capaz de articular certas ideias sobre a vida e sobre a loucura. Com o seu poder de síntese e de explicação de realidades e estados emocionais complexos. Coisas que me parecem ser bem difíceis de formular. Seja em relação à loucura, à solidão, a questões afetivas e sexuais”, analisa o cineasta.

As Linhas Da Minha Mão

  • : Viviane de Cássia Ferreira
  • : Viviane de Cássia Ferreira, Leandro Acácio, Douglas Klinger
  • : Viviane de Cássia Ferreira, Leandro Acácio, Douglas Klinger

Sinopse: Por meio de uma série de encontros imprevisíveis, uma atriz fala sobre a sua experiência com a arte e a loucura. Dividido em sete atos, o filme é, ao mesmo tempo, o retrato de uma mulher e um estudo sobre as possibilidades desse retrato.

Saiba como falar sobre Suicídio e Saúde Mental

Muito se fala sobre a necessidade de conversar sobre prevenção de suicídio e saúde mental, entretanto muitas vezes, as pessoas não sabem ao certo, como iniciar esse bate papo. Por vezes os que tentam abordar o tema, acabam fazendo, mesmo que não intencionalmente de maneira equivocada.

Por isso, a importância de guiar os brasileiros para que essa conversa seja feita, de maneira segura e coerente. Foi exatamente para ajudar no debate que Karen Scavacini, CEO do Instituto Vita Alere criou o Manual de como falar de forma segura sobre suicídio e Como falar de forma segura sobre Saúde Mental: A Internet que a gente faz.

Material sobe como abordar saúde mental, suicídio de forma segura
Como falar de forma segua sobre suicídio

Ambos os manuais apontam situações e o que como abordar os temas, principalmente nas mídias sociais, onde tudo é muito discutido e requer o dobro de cuidado. Os manuais são ferramentas online e estão disponíveis para acesso no site da instituição.

Finalizando, vale a pena abrir mais espaços para o debate saudável e de maneira delicada sobre o tema, seja em filmes, redes sociais ou dentro de casa a saúde mental precisa estar em pauta. Caso esteja passando por alguma dificuldade entre em contato com o Centro de Valorização da Vida, CVV no número (188) ou no chat.