Jaqueline Vargas é escritora, roteirista, já trabalhou como autora e co-autora em filmes, novelas e séries. Autora do livro “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”, que fala de um tema importante, a presença cada vez maior de crianças e adolescentes nas redes sociais. Do mesmo modo, o número de influenciadores nessa faixa de idade, aumenta ainda mais com o passar do tempo. O livro conta a história das vizinhas Kauane e Majô, Confira a entrevista:
Primeiramente é claro, muito obrigada por nos conceder essa entrevista!
Muito obrigada, Anna, por me convidar! Fiquei muito contente, muito animada, de falar com você, com as pessoas que seguem vocês. Que leem e acessam o site. Eu sou suspeita para falar, mas o livro é muito bom, ler é fundamental, se não for esse, leia outro. Mas ler é fundamental!
De onde veio a ideia para escrever “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”?
Como a minha formação foi em artes cênicas, eu construo a história, como um ator constrói um personagem. Eu fico observando. Essa coisa de mídia social, de rede social, de mundo virtual; é um assunto que me interessa há muito tempo. Eu comecei a perceber, tanto no Brasil quanto fora do Brasil, várias situações relacionadas à superexposição de adolescentes, de crianças.
Às vezes, nem só de adolescentes e de crianças, mas também de jovens adultos e pessoas adultas. Pessoas que confundem a realidade com a fantasia, ou acabaram ficando reféns da personalidade que criaram, ou algo deixou de fazer sucesso e a pessoa não conseguiu lidar. Ou de repente a pessoa vira um arrimo de família. É um mundo virtual, é um mundo que não passa pela prova de realidade.
E o título, de onde veio a ideia?
Eu gosto de títulos bem grandes. Como é uma trilogia virtual, todos os três têm títulos enormes. O título inicial era “O Canto do Rouxinol Azul”. Mas aí eu pensei: “ninguém vai comprar um livro com esse nome”. E aí, o subtítulo do livro era “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”. Porque o rouxinol azul é o “dix” (perfil privado) da personagem principal. O subtítulo era mais legal do que o título, aí eu inverti.
A personagem principal se chama Majô. De onde veio a ideia do nome dela?
Majô é um nome pequeno, tem que ser um nome que, quando você fale, seja interessante, pelo menos eu acho. O nome dela não é Majô, o nome dela é Maria José. Geralmente, eu escolho os nomes, de alguma pessoa que conheci, alguma coisa que li, um personagem de que eu gosto. A Maria José, a minha amiga da 5ª série, me veio à mente.
Como o livro traz e você vê o cancelamento nas redes sociais?
O cancelamento pode acontecer de várias formas: quando você fala alguma coisa, e todos cancelam você. A ideia que as pessoas têm de cancelamento é essa. Mas o título do livro também se refere, em um segundo momento, ao cancelamento do sujeito, da própria pessoa. De tanto eu fazer algo que eu não quero, ou fazer algo que todo mundo está fazendo, eu vou me distanciando de quem eu sou.
A história se passa na cidade de Cotia (interior de SP). Por que a escolha de Cotia como cenário?
Cotia porque é um lugar que tem muito condomínio. Elas (as personagens Kauane e Majô) moram em um condomínio de casas.
As ilustrações do livro são basicamente imagens de registros de tela de redes sociais? Por que essa escolha?
As ideias dos prints da rede social da Majô, dos poemas dela. Já que estou falando do mundo digital, vou colocar a poetisa que está no livro, vou revelar algo do livro. Tem algo de ela escrever o poema e você ver o poema na tela. Uma brincadeira de estrutura, uma imagem que fosse uma brincadeira com esse universo.
Como você enxerga a legislação sobre menores nas redes sociais atualmente? Tem que haver alguma melhoria?
A legislação coloca uma idade para entrar nas redes sociais, etc. Mas você não consegue ter certeza disso. É uma legislação complicada de fazer. Eu acho que deveria haver um pouco mais de cerceamento, não cerceamento como uma política de proibição, não é isso. Mas você (criança e adolescente) acaba expondo muita coisa, que você só vai ter o entendimento disso depois. Além disso, existem coisas, realizadas pelos pais ou responsáveis, que precisam ser feitas com a anuência do menor.
Para finalizar, por favor mande uma mensagem para os leitores do GeekPop News.
A minha mensagem é: a tecnologia veio para nos servir, a tecnologia é para o nosso uso. Ela foi feita para nos poupar de qualquer trabalho mecânico, de qualquer trabalho automático. Para que nós possamos fazer o trabalho criativo, o trabalho prazeroso. Não é para que a tecnologia faça o trabalho prazeroso e criativo.
Para que nós possamos ter liberdade, não temos que ficar escravos da tecnologia. Muito pelo contrário. É para que nós possamos nos libertar para sermos ainda mais criativos. Se você vai se expor, mostre realmente quem você é.
Leia também: Resenha: “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”
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