“A Cabeça do Santo”, de Socorro Acioli, é um romance que mistura realismo fantástico, fé popular e crítica social ao narrar a história de Samuel, um jovem descrente que, após a morte da mãe, parte em uma peregrinação de Juazeiro do Norte até Candeia, no interior do Ceará, para assim cumprir a promessa de reencontrar o pai e a avó que nunca conheceu.

Mesmo sem vontade e abalado emocionalmente, Samuel caminha movido apenas pela promessa feita e por uma força que o mantém firme. Ao chegar ao destino, encontra abrigo em um lugar inusitado: o interior de uma cabeça gigante e oca da estátua inacabada de Santo Antônio, separada do corpo da imagem. Ali, em meio ao abandono e ao silêncio do interior da escultura, algo extraordinário acontece. Samuel passa a ouvir as preces que as mulheres fazem ao santo casamenteiro, assim revelando desejos, dores e esperanças ligadas ao amor.

Acioli mergulha no imaginário religioso brasileiro, especialmente o nordestino, onde a fé e os ritos populares têm forte influência no cotidiano das pessoas. A figura de Santo Antônio, tão tradicional na religiosidade católica, então ganha novos significados através das experiências místicas e emocionais vividas por Samuel.

Desenvolvido durante uma oficina literária promovida por Gabriel García Márquez, em Cuba, o livro marca a estreia da autora no gênero romance adulto. Por fim, “A Cabeça do Santo” é, ao mesmo tempo, uma fábula moderna, uma crítica sutil às ausências paternas e uma celebração das vozes femininas que resistem e persistem através da fé.