Como o cinema reconta a história do HIV – uma revisão das narrativas que marcaram o audiovisual e ajudaram a transformar a percepção pública
O Dia Mundial de Combate à AIDS, celebrado em 1º de dezembro, reforça a importância da conscientização sobre HIV e Aids. Além disso, destaca o papel da comunicação na transformação da percepção pública. O cinema, como veículo de informação e cultura, tem acompanhado a história da epidemia desde os primeiros casos documentados na década de 1980. Por isso, ele pode oferecer ao público narrativas que refletem medos, preconceitos e mudanças sociais.

Cinema e HIV: filmes e documentários combatem o estigma
Filmes, documentários e séries retrataram diferentes aspectos da epidemia, incluindo a experiência de pacientes, os desafios do sistema de saúde e o impacto social do estigma. Produções internacionais como Filadélfia (1993), dirigido por Jonathan Demme, colocaram a doença em evidência ao abordar processos legais e preconceito no ambiente de trabalho. A série Pose (2018–2021) mostra a vida da comunidade LGBTQ+ em Nova York durante os anos 1980 e 1990. Assim, evidenciando como o HIV impactava diretamente essas populações.
No Brasil, temos produções como: “Os Primeiros Soldados” (2021), que aborda jovens tentando sobreviver à primeira onda da epidemia de Aids no Brasil, e o documentário “Carta Para Além dos Muros” (2019), que apresenta a trajetória do HIV e da Aids no país por meio de entrevistas com médicos, ativistas e pacientes.
Além disso, “How to Survive a Plague” (2012) registraram a mobilização de ativistas e organizações que pressionaram governos e laboratórios por acesso a tratamentos antirretrovirais. Enquanto “Estávamos Aqui” (2011) documenta a experiência da epidemia de HIV em São Francisco, combinando narrativa pessoal e coletiva.
O cinema também desempenha papel estratégico na educação em saúde. Pesquisas em comunicação apontam que narrativas audiovisuais aumentam a compreensão sobre modos de transmissão, prevenção e a importância do diagnóstico precoce. Ao abordar a epidemia de forma direta, essas obras ajudam a reduzir mitos e preconceitos que persistem na sociedade. Um exemplo disso é o filme “Clube de Compras Dallas” (2013), que trata do acesso a medicamentos e a burocracia da indústria farmacêutica.

Representações e diversidade de narrativas
Ao longo das últimas décadas, o cinema expandiu a representação de pessoas vivendo com HIV ou Aids. Inicialmente, as narrativas se concentravam em homens gays ou comunidades marginalizadas, refletindo as populações mais afetadas nos primeiros anos da epidemia.
Com o tempo, a abordagem passou a incluir mulheres, pessoas trans e populações em países em desenvolvimento, oferecendo uma visão mais ampla da realidade da doença. Séries como “It’s a Sin” (2021) exploram a experiência de jovens durante a crise do HIV no Reino Unido, abordando diversidade, amizade e perda, enquanto filmes como “The Normal Heart” (2014) focam em ativismo e representação política.
Essa diversidade de personagens contribui para uma percepção mais complexa da epidemia. Além disso, séries e filmes recentes exploram a vida cotidiana de pessoas vivendo com HIV, incluindo desafios familiares, questões laborais e sociais. Ao mostrar o cotidiano e a experiência individual, o cinema deixa de tratar a doença apenas como um tema médico, destacando seu impacto cultural e social.
A produção audiovisual também passou a dialogar com movimentos de prevenção, campanhas públicas e políticas de saúde. Filmes e documentários frequentemente incluem informações sobre testagem, profilaxia pré-exposição (PrEP) e o papel da terapia antirretroviral, reforçando mensagens de saúde pública e incentivando o engajamento da audiência, como em Filadélfia e em documentários educativos lançados em parceria com ONGs de saúde.

Impacto cultural e social das narrativas
O impacto cultural das narrativas sobre HIV e Aids pode ser observado na redução de estigmas e na mudança da percepção do público sobre a doença. A visibilidade promovida pelo cinema contribui para a humanização das pessoas vivendo com HIV, mostrando suas histórias além do diagnóstico, como exemplificado em “E a Vida Continua” (1993), que traça a trajetória da epidemia nos EUA.
Apesar de avanços na representação, pesquisadores alertam para a necessidade de cuidado na construção de personagens e enredos. Exageros dramáticos ou estereótipos podem reforçar preconceitos e distorcer informações sobre tratamento e prevenção. A avaliação crítica de obras audiovisuais é, portanto, essencial para entender a relação entre cinema, saúde e sociedade.
Hoje, o audiovisual atua como uma ferramenta de memória e educação, registrando a história da epidemia. Ele permite que novas gerações compreendam os desafios enfrentados desde o surgimento do vírus. A integração entre entretenimento, informação e representação social evidencia o potencial do cinema em moldar percepções e gerar debates públicos.
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Vale a pena refletir sobre o papel do cinema
No Dia Mundial de Combate à AIDS, observar como o cinema reconta a história do HIV permite, portanto, entender melhor a relação entre narrativa e percepção social. Desde a documentação inicial até a exploração de histórias individuais e coletivas, as obras audiovisuais contribuíram não apenas para transformar o estigma em debate público, mas também para promover educação em saúde e aumentar a visibilidade de comunidades afetadas.
Além disso, o cinema não apenas registra fatos históricos; ele influencia diretamente a forma como a sociedade compreende e reage à epidemia. Dessa maneira, essa capacidade de moldar opiniões e expandir narrativas reforça, de forma significativa, a importância de produções informadas, críticas e inclusivas, que reflitam tanto a diversidade quanto a complexidade das experiências humanas com HIV ou Aids.
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