Reportagem por Mário Guedes, Daniel Peres e Julia Gabriela
Nesta última semana, uma reportagem da Vulture cutucou um dos maiores portais de críticas do mundo: o Rotten Tomatoes. Segundo a reportagem, os críticos do site estariam sendo comprados para dar melhores notas aos filmes. Contudo, o quão verídico é essa acusação? E como ela pode impactar o mundo do cinema e das críticas? Esses sites têm uma grande influência na percepção do público e dos profissionais sobre as obras audiovisuais. Muitas vezes, as notas dos agregadores são usadas como argumentos de marketing ou como critérios de premiação.
Primeiramente, vale lembrar que Rotten Tomatoes é um portal de avaliações e críticas, no qual muitas produções, filmes e séries dependem para conquistar novos telespectadores e/ou fãs. Com um padrão rígido, e ainda marcante, o Rotten ainda seria responsável em apresentar dois tipos de avaliações: a do público em geral e a de críticos especializados.
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Mas antes de tudo: O que é um agregador de críticas?
Você já se perguntou como um filme ou uma série recebe uma nota no Rotten Tomatoes ou no Metacritic? Esses sites são exemplos de agregadores de críticas, que reúnem avaliações de diversos veículos especializados e calculam uma média ponderada. Mas como eles funcionam e quais são os seus impactos na indústria do entretenimento?
O Rotten Tomatoes é um dos mais antigos e populares agregadores de críticas do mundo. Fundado em 1998, e parte da fama do site se dá pelo seu modo de atribuir notas. Isso é, o Tomatometer (como é chamado o sistema de notas), que determina se uma crítica é positiva ou negativa com base em uma escala de cinco estrelas.
A pontuação do Tomatometer representa a porcentagem de críticas profissionais que são positivos para um determinado filme ou programa de televisão. Uma pontuação do Tomatometer é calculado para um filme ou série de TV depois de receber pelo menos cinco avaliações.
Se um filme ou uma série recebe mais de 60% de críticas positivas, ele ganha o selo de “Fresh” (fresco). Caso contrário, ele é considerado “Rotten” (podre). O site também permite que os usuários deem suas próprias notas e comentários
Esse método envolvendo porcentagem, ao mesmo tempo em que consegue se comparar tanto a opinião de críticos como do público em geral, faz com que se tenha uma avaliação final de um filme ou série mais autêntica.
O Metacritic é outro site que agrega críticas de filmes, séries, jogos, músicas e livros. Criado em 2001, o site usa um sistema chamado Metascore, que atribui um valor numérico de 0 a 100 para cada crítica, de acordo com o seu teor. A média dos valores é o Metascore do produto, que indica a sua qualidade geral. O site também tem uma seção chamada User Score, que mostra a nota dos usuários
Aqui no Brasil temos o AdoroCinema, que reúne mais de 40 mil críticas de mais de 300 veículos, usa um sistema numérico de 0 a 5, e foca no mercado brasileiro e latino-americano.
A denúncia envolvendo críticos do Rotten Tomatoes
Na última quarta-feira (06), o portal de notícias Volture trouxe uma reportagem acusando o Rotten Tomatoes. A acusação se refere não ao portal em si, mas sim aos seus críticos profissionais, que estariam sendo comprados por alguns estúdios. Na reportagem do jornalista Lane Brown, ela informa que a empresa Bunker 15 teria pago críticos para publicarem avaliações positivas de filmes que ela representava, elevando assim as notas dos mesmos no site. Um dos casos mais emblemáticos seria o do filme Ophelia, lançado em 2018, que teve sua aprovação aumentada de 46% para 62% após receber sete críticas favoráveis pagas pela Bunker 15.
Agora, vamos voltar um pouco: se lembra que as notas se dão em uma medida de porcentagem, assim como as notas de críticos são diferentes das do público? Então, se as notas dos críticos do Rotten Tomatoes forem influenciadas, logo, há uma mobilização do público para ir ao cinema assistir a um determinado filme.
Em seu twitter, a Bunker 15 fez uma postagem afirmando que se orgulha do trabalho que faz em apoiar filmes independentes, e que não vê nada de errado em incentivar críticos menores a assistirem e avaliarem seus filmes, o que não ocorreria sem esse incentivo. Além disso, a empresa afirmou que “nunca pagou ou ofereceu nenhum tipo de compensação por resenhas, e que as opiniões dos críticos são independentes”. Apesar dessa publicação, a empresa não se pronunciou oficialmente sobre as denuncias feitas pela Vulture.
Denuncia afeta credibilidade dos agregadores?
Hoje, os críticos são um dos fatores essenciais para o sucesso ou o fracasso de uma produção. Para o público, a opinião dos agregadores acaba sendo um fator de grande influência, pois, a partir da avaliação construída no site, o leitor consegue ter uma ideia do quão bom um filme pode ser, assegurando então apenas a nota atribuída pela crítica especializada.
Com isso, o Instrutor de Cinema (SESC Pernambuco), Fernando Pereira, explica como os agregadores podem desempenhar um papel significativo na decisão do público sobre a qualidade de uma determinada produção e como que essa denúncia pode acabar afetando a credibilidade do publico com os agregadores.
“Os agregadores, ao disponibilizarem críticas, sejam elas positivas ou negativas, acabam influenciando na expectativa do público sobre os filmes e séries. Essa influência é complexa e muitas vezes ambígua. Ao mesmo tempo em que ela pode legitimar a qualidade dos filmes, ela pode iludir, e isso influenciará de forma negativa no público, já que a verdadeira experiência do cinema e do audiovisual está no ato de assistir às obras e ter suas próprias impressões. Com uma avaliação alta pela crítica, mesmo que o filme não tenha qualidade estética e de narrativa boa, o público comum ficará curioso em assistir para saber o que acontece no filme, mas depois acabará se frustrando com a obra que não atendeu às expectativas criadas.”
Vale destacar que em alguns filmes a nota do público é maior que a nota da crítica especializada, porém, muitos dos leitores por influência dos agregadores acabam optando em não assistir determinada obra. “A baixa avaliação da crítica especializada pode acabar influenciando em como o público recebe a obra, criando expectativas baixas e uma ideia de que a experiência não será boa, o que pode levar a uma predisposição para enxergar aspectos negativos ou falhas, mesmo que o filme tenha méritos”, comenta Fernando Pereira.
Como fica a confiança no site após a repercussão negativa?
Em partes é possível continuar confiando, pois o site é um aglomerado de críticas, tanto as especializadas quanto a opinião pública, apesar das denúncias, não se sabe ao certo quais filmes fizeram ou quais empresas fazem parte desse esquema.
Ainda pode confiar no Rotten Tomatoes, porém, cabe ao público tirar as suas próprias conclusões sobre os filmes avaliados e não se assegurar apenas as notas do site. Com isso, é importante que cada pessoa tenha a sua experiência ao consumir uma produção e deixar de lado a definição imposta no site para o que é bom ou ruim.
Reportagem por Mário Guedes, Daniel Peres e Julia Gabriela
Matéria atualizada em 15/09/2023, às 16h39min
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