Assim como nas outras artes, na literatura “marginal” significa obras que de alguma maneira se afastam do estilo clássico, ou seja, não seguem os padrões tradicionais. A conotação negativa da palavra “marginal” já pode causar desconforto ao ser pronunciada. No entanto, marginal quer dizer “aquilo que está à margem”, ou seja, algo excluído, fora do centro das atenções.

A literatura marginal foi um movimento que cresceu na década de 1970, dando voz aos grupos marginalizados e segmentados pela sociedade brasileira. Dessa forma, escritores que viviam nas periferias e nos bairros afastados das grandes cidades, passaram a escrever e divulgar o trabalho. As obras geralmente abordam temas como desigualdade social, pobreza, racismo, assim como opressão e violência urbana. 

Além disso, a linguagem pode ser coloquial, refletindo a oralidade comum nos bairros. Esses temas fogem ao estilo tradicional da literatura brasileira, que geralmente é bastante idealista. No entanto, muitos consideram a literatura marginal como o verdadeiro retrato do Brasil, uma vez que são temas presentes no cotidiano da sociedade. Uma realidade que todos nós acompanhamos e enxergamos à nossa volta.

Os autores

Apesar de muitos autores terem se consagrado na literatura marginal, muitos publicaram seu trabalho de forma independente, possibilitando o nascimento de novos talentos. Os autores, muitas vezes vindos da periferia, ou de locais afastados dos grandes centros, não têm acesso às principais editoras do país. Além disso, o trabalho é inspirado nas próprias experiências dos autores, narrando a luta por direitos e reconhecimento de vários grupos.

Conheça três obras com características da literatura marginal:

“Colecionador de Pedras” de Sérgio Vaz

Crédito: Global Editora

Considerada uma obra com a “voz da periferia”, em “Colecionador de Pedras”, Sérgio Vaz narra os relatos de uma população carente. O autor mostra o cotidiano das pessoas que “colecionam pedras” todos os dias, em busca de uma vida melhor. É um livro de poesias de leitura fácil e atual.

“Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus

Crédito: Editora Ática

Um clássico contemporâneo, teve origem a partir do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus. Relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela, assim como os desafios que ela e sua família enfrentaram. A linguagem, apesar de simples, é bastante contundente e a autora consegue fazer o autor sentir sua “dor” e se comover com o retrato do Brasil real.

“O Avesso da Pele” de Jefferson Tenório

Crédito: Companhia das Letras

Lançado em 2020, o livro recentemente se tornou alvo de polêmica por ser proibido em algumas escolas estaduais. Vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, o livro narra o racismo, a violência, e o sistema educacional falido. Tudo a partir da história de um jovem negro, que após a morte do pai, tenta encontrar suas raízes em um país racista. O livro é uma crítica à sociedade contemporânea, com preconceitos que insistem em continuar, mesmo com o decorrer dos anos.