Criação de Mike Flanagan, a série de terror disponível na Netflix traz uma família desestruturada pelos acontecimentos do passado, marcada por uma casa sombria. Os cinco filhos que moraram lá com seus pais, lutam para deixarem as lembranças, mas, de alguma forma, ainda têm contato com o sobrenatural. E, à exceção dos gêmeos Nell e Luke, todos negam a existência do mesmo.

Foto:Reprodução/cinecinemania.com.br

Mas o que podemos analisar de diferente sobre uma família que carrega seu luto? Bom, é importante citar que cada um segue em frente do seu jeito, como o Luke com as drogas, o Steven com seu livro, a Theo com os relacionamentos de uma noite, a Shirley com o trabalho praticamente gratuito para os clientes sem fundos para um funeral adequado… e a Nell, que se casou, mas tudo deu errado.
O que é diferente neles é o fato de não saberem o que realmente aconteceu naquela casa, mas sentirem um medo profundo dela.

Um terapeuta que aparece na série pergunta como uma casa pode causar tanto alvoroço. A verdade é que, trazendo para a nossa realidade, nós sentimos medo o tempo todo. Tudo aquilo que é diferente, ou mais do que sabemos lidar, nos causa medo. Consciente ou não. E a casa, para eles, era mais do que podiam lidar/compreender. Mas, como essa era uma pendência, um assunto mal resolvido na vida deles, obviamente tiveram que ir transformar a percepção deles do ocorrido e se libertar das amarras obscuras. Eles conseguiram? Bom… vai lá assistir.

O interessante também é que a série aborda a temática sobrenatural com uma possível visibilidade cética, o que seria o mofo na casa. Para os incrédulos de plantão, os acontecimentos horrendos poderiam ser explicados por uma intoxicação por inalar o mofo. E tudo não passaria de uma grande “viagem” e atos cometidos pelos moradores quando “alterados”. A vertente que a série procura seguir, porém, é uma influência negativa na casa causada por seus moradores anteriores. Uma mancha energética no ambiente, para os seguidores de entretenimento macabro. Neste último entendimento, o problema não é a casa, mas os espíritos que ali permaneceram perpetuando o desequilíbrio, e este é um ciclo difícil de quebrar.

Em fato, o que nos fica de reflexão é: Será que algo do nosso passado nos marcou a ponto de fazer parte da definição de quem somos hoje? Quais são os nossos impedimentos a partir disso? Ou será que as nossas cicatrizes são as naturais de alguém que está crescendo e vai testando seus limites? Quem seríamos se não tivéssemos esse ou aquele acontecimento em nossa história?

Jean-Paul Sartre considera que o homem nasce sem essência e a constroi em vida através de seus atos. Eu penso que nossos atos são, em muito, direcionados pelos outros. Então, em uma análise interna e complementar às perguntas anteriores: Quanto somos de quem somos?

Sinopse de “A Maldição da Residência Hill” na Netflix: “Entre o passado e o presente, uma família dividida confronta memórias assustadoras do antigo lar e dos eventos aterrorizantes que os expulsaram de lá.”