As emoções – sejam elas quais forem – fazem parte da nossa vida. Desde o primeiro sorriso até a primeira frustração, os sentimentos guiam nosso entendimento tangível e prático do que nos rodeia. Enquanto notava a mudança e o crescimento de sua filha, Pete Docter (Up – Altas Aventuras, Soul), teve a ideia para Divertida Mente (Inside Out), de 2015. Sabendo disso, que tal um papo rápido sobre a psicologia em Divertida Mente?
O 15º longa-metragem da Pixar personifica emoções e concede vozes aos nossos sentimentos. Acompanhamos Riley, uma garota de 11 anos que tem sua vida bagunçada após a mudança repentina para São Francisco. Ela deixa para trás toda a sua vida e, de agora em diante, Riley terá que se adaptar a sua nova casa e cidade. No entanto, essa mudança bagunça suas emoções. Raiva, Nojo, Tristeza, Medo, guiadas pela Alegria, lidem com o mar de sentimentos que a protagonista se encontra.
No entanto, uma confusão na sala de controle culmina no afastamento repentino e acidental da Alegria e Tristeza. Isso faz com que os sentimentos de Riley comecem a entrar em conflito. Cabe às emoções primárias, Alegria e Tristeza, embarcar em uma aventura para retornar a sala de controle.
Esse pequeno conflito desencadeia uma aula de neuropsicologia. O filme apresenta ao espectador de forma ilustrativa e acessível o funcionamento da nossa psique — nome que se refere a todo processo funcional do cérebro humano.
A psique de Riley e seu funcionamento
Para a construção representativa das emoções, Pete consultou Paul Ekman, psicólogo norte-americano mundialmente conhecido pelo pioneirismo no estudo das emoções e expressões faciais. Durante a construção do roteiro, Pete e Ekman conversaram sobre como tangibilizar as emoções humanas em pequenos personagens.
Ekman sugeriu abordar uma gama maior de emoções, mas Peter preferiu concentrar sua base em cinco emoções que denotam nossas ações de forma objetiva: Raiva, Nojo, Medo, Tristeza e Alegria. A idade escolhida também possui significado. Alguns estudos indicam que, aos 11 anos, as emoções positivas começam a perder espaço para outros tipos de emoções, assim como novas experiências. Por isso, após uma mudança repentina, sendo retirada da sua zona de conforto, a psique de Riley começa a mudar, tendo que lidar com uma gama nova de sentimentos.
Mudanças e mais mudanças
Essa mudança aciona a primeira experiência de adaptação de Riley, fazendo com que nossa protagonista, uma menina extrovertida e que possui a Alegria como sua principal emoção, comece a dar espaço para a Tristeza — toda a ação efetuada pelos personagens coloridos, é o cérebro de Riley lidando com a assimilação e a acomodação diante da nova rotina.
Até os 21 anos de idade – alguns neurocientistas acreditam que esse processo aconteça até os 30 anos -, ocorre o desenvolvimento do nosso córtex pré-frontal, área do nosso cérebro responsável pela tomada de decisões, planejamento, entre outras ações e julgamentos racionais. Ou seja, o modo pelo qual tomamos nossas decisões está sendo construído. Por isso, até o desenvolvimento, os adultos inseridos no núcleo familiar da criança possuem a posição de “córtex pré-frontal” das mesmas, guiando-as até o desenvolvimento completo desta área do cérebro.
Riley ainda não entende como lidar com as adversidades da sua nova rotina. Além disso, a protagonista encontra-se no começo da pré-adolescência, fase que denota um crescimento repentino de hormônios e, consequentemente, novas emoções e novos sentimentos — tornando a discussão sobre psicologia em Divertida Mente mais sagaz.
Tristeza, a grande estrela em Divertida Mente
Apesar de Riley ser guiada em grande parte pela Alegria, o filme mostra que, na verdade, a grande estrela é a Tristeza. Ekman comenta sobre como o filme retrata de forma elucidativa o que ganhamos quando somos guiados pela tristeza. Quando Riley perde seus amigos, mudando-se para um novo lar e tendo que lidar com uma adaptação imediata da sua rotina, a Alegria tenta mostrar o quanto a nossa protagonista precisa enxergar as coisas apenas com positividade.
Porém, para que possamos amadurecer e entender sobre como lidar com os infortúnios, passamos por fases preenchidas pela tristeza, onde nossos sentimentos adaptam-se à situação em vigência. Como a Alegria reprime a todo momento a Tristeza no filme, Riley ainda não sabe como lidar com seus sentimentos, fazendo com que as decisões impulsivas preenchidas por um falso sentimento de positividade sobrepujam às tristezas e às negativas.
Não acaba por aqui
Na coluna da semana que vem irei tratar sobre as memórias base e o insconsciente cognitivo — conceitos importantes para o entendimento do longa. Esse texto é um exercício de análise, assim como uma discussão rápida sobre a psicologia do filme. A psicologia encontrada em Divertida Mente é extremamente frutífera para discussões divertidíssimas — seria um pecado gastá-la em um texto só. Até semana que vem!
Uau! Fui lendo o texto e fazendo “link” com as vivências dos meus filhos… Ansiosa pra ler a segunda parte.
E seus textos, sempre deixam a sensação maravilhosa que estamos em uma roda de conversa!
Parabéns!!!
Muito obrigado! Em breve sai a segunda parte! Obrigado pelo carinho