Em comemoração aos 06 anos da estreia de Devilman Crybaby (2018), o anime chegou na Netflix e na época criou muitas opiniões mistas. Hoje revisitaremos a obra e veremos se a obra de Masaaki Yuasa estava muito a frente de seu tempo ou se continua atual, aqui está a nossa análise de Devilman Crybaby.

Anteriormente, o Anime Onegai havia anunciado que transmitiria os OVA’s de Devilman, “Devilman: The Birth” e “Devilman: The Demon Bird“. Porém, hoje iremos falar da adaptação Devilman Crybaby, o anime da Netflix que chegou no ano de 2018 e dividiu o fandom otaku. O anime é o único, até o presente momento, que adaptou toda trama do mangá Devilman, de Go Nagai. Devilman Crybaby está completo com 10 episódios, na Netflix.

Devilman
Imagem: Science SARU

Apesar disso, este é o Devilman de Masaaki Yuasa e mesmo sendo uma adaptação do mangá, a série consegue ser muito diferente da obra original, por causa do diretor. Devilman Crybaby apresenta uma modernidade que não existia, já que a história original acontece nos anos 70 e coisas como internet, smartphones e redes sociais ainda não existiam. E estes elementos são de extrema importância na versão de Yuasa, por isso que quando falamos de Devilman Crybaby, falamos que este é o Devilman de Yuasa e não o Devilman de Go Nagai. Já que ambos mesmo tendo temática e enredo iguais, trazem propostas diferentes ao personagem.

A trama e o enredo

Miki Makimura
Imagem: Science SARU

O ponto principal no qual Devilman Crybaby se destaca é a sua originalidade e, especialmente, na falta de pudor que a série carrega. De começo somos apresentados aos protagonistas do anime, Akira Fudo/Devilman e Ryo Asuka, além disso alguns outros personagens principais também aparecem nesse momento. Akira e Ryo são amigos de infância, mas que não se reúnem a bastante tempo, devido ao trabalho de Ryo, que mesmo sendo um adolescente é famoso pesquisador nos Estados Unidos.

Porém este reencontro é marcado por uma notícia terrível, pois Ryo informa que existem demônios vagando e existindo entre os humanos. E assim, ele sugere um plano para revelar a existência deles para a sociedade, mas não confia em ninguém além de Akira para auxiliá-lo neste plano. Para isso, Ryo e Akira entram uma festa conhecida por atrair os demônios para a Terra, o Sabbath, com o intuito de gravar essas possessões.

Mas, Ryo tinha outro plano, no qual consistia em fazer com que seu amigo fosse possuído pelo demônio conhecido como Amon. Tudo isso, consistia em uma aposta para que Akira se tornasse um Devilman, ou como a legenda diz um Homem-Demônio, um demônio com coração e consciência humana. Agora com uma nova aparência e suas novas habilidades sobre-humanas, Akira e Ryo partem em uma caçada aos demônios.

Sendo assim, acompanhamos as aventuras de Akira e Ryo em juntar informações e provas sobre a existência de demônios na sociedade. Porém, em determinado momento a série dá um giro de 360 graus e o enredo deixa de ser sobre as aventuras do Devilman e passa focar na intolerância e no ódio que a humanidade tem contra aqueles que não entendem.

Os personagens e suas alegorias

Miki Makimura, Miki Kuroda e Akira Fudo
Imagem: Science SARU

Os personagens de Devilman Crybaby são alegorias de diversos temas que compõem a sociedade, eles possuem um certo realismo. Porém, isso é mais crédito da direção que consegue fazer com sejam pessoas comuns com que consigamos nos relacionar. Então, o realismo criado é mais comportamental, coisas do dia a dia, já que acompanhamos muito as vidas diárias deles. No qual, realmente, parece que eles vivem em um mundo que conhecemos e fazendo coisas que pessoas normais fariam. Mas, eles também são, acima de tudo isso, alegorias para o que a história quer passar.

E tudo isso é bastante importante, pois são causas e consequências da direção do anime e principalmente da direção geral de Yuasa. Algo que o diretor fez muito em um dos seus trabalhos mais famosos, Ping Pong the Animation. Que cada um dos personagens representam uma ideia diferente, até mesmo de uma maneira metalinguística, sobre o papel de um protagonista na história. Já em Devilman Crybaby vemos que cada personagem representa o extremo de uma emoção humana.

Então aqui vemos o a direção, quase, surrealista de Yuasa trabalhar com o completo da impessoalidade, da compaixão, do perdão, do amor, da esperança, do ódio e tudo mais. Por isso, que os personagens são alegorias, pois o trabalho do diretor é criar algo mais sensorial, ao invés de entregar algo real. A intenção é fazer com que os espectador embarque nas sensações que sintamos, para que através destas sensações cheguemos na ideia que o enredo quer passar.

A análise: O eterno ciclo de ódio e intolerância

Akira Fudo/Devilman
Imagem: Science SARU

A grande aposta de Devilman Crybaby é mostrar a analogia constante do comportamento humano ao que consideramos diferente, “monstruoso“, ou como a série fala “demoníaco“. E essa questão fica muito evidente, a partir da segunda metade do anime, sendo algo bastante semelhante ao mangá. Com constantes inserções de questões existencial, que é brilhantemente trabalhado com Akira Fudo. O personagem chora copiosamente, de maneira exagerada e isso sempre ocorre quando ele presencia comportamentos humanos deploráveis, ao ser tornar um Homem-Demônio ele permanece com esse atitude de chorar por conta da crueldade causada por humanos e demônios.

Os elementos que compõem a narrativa do anime como um todo, causarão uma certa estranheza aos desconhecidos e os mais desavisados. Devilman Crybaby é uma obra sombria, cruel, violenta e ao mesmo consegue abordar temas que mesmo com o passar dos anos, permanecem muito atuais. Além disso, as cenas de sexos e mutilações, causam um choque imenso, pois acontecem com uma certa frequência e são bastante frenéticas. Bem como, a brutalidade que vemos nas batalhas entre demônios e a brutalidade que a humanidade apresenta quando a história faz seu giro.

No entanto, todos estes aspectos são essenciais para a trama, assim como a sua animação refinada e uma trilha sonora, que pode ser considerada densa. Porém, ela desempenha um papel fundamental para nos fazer mergulhar neste inferno, que a série ambienta e nos quer levar. Devilman Crybaby parece diferente, exótico e até mesmo inusitado, mas de forma crucial, é uma grande simulação do apocalipse na Terra. E junto da animação com horror e carga emocional suficientes que uma situação como esta causaria na sociedade.

Vale a pena?

Akira Fudo/Devilman
Imagem: Science SARU

A resposta para essa pergunta é sim, realmente vale a pena assistir Devilman Crybaby e isso é essencial para qualquer um. Esqueça os problemas que o anime pode apresentar inicialmente, o choque das cenas de sexo e das cenas brutais de luta, foque na mensagem que a história passa. Pois, mesmo sendo um anime de 06 anos atrás e um mangá de mais de 50 anos, traz consigo uma mensagem tão atual e tão necessária que certamente é o que nossa sociedade entender para criar um futuro melhor.

Além disso, o anime aborda algo que poucos animes ou obras japonesas falam, que é a xenofobia perpetrada pelo povo japonês. Algo que é tocado e reforçado no final do anime, com a personagem Miki Makimura, que é uma personagem mestiça. Seu pai é europeu e sua mãe é japonesa, assim Miki é alguém que não é japonesa pura para os olhos da sociedade. E isso, é um dos motivos para o que ocorre com ela no final do anime.

Silene e Kaim
Imagem: Science SARU

Por fim, respondendo à pergunta inicial da análise: “Por que corremos?“, eu diria de maneira simples que fazemos isso porque somos humanos. Porém, dá para trabalhar melhor isso. Corremos porque é isso que sabemos fazer de melhor, corremos para alcançar nossos objetivos. Um passo após outro, um movimento de cada vez, etapa por etapa, nos cansando, por vezes caindo, mas sempre nos levantando e seguindo a corrida. A sensação que temos é que se continuarmos em frente parece que algo mudará, que algo novo chegará.

Se continuarmos tentando e tentando, talvez as coisas possam ser diferentes do planejado. Pode não ser hoje, ou amanhã e até mesmo enquanto vivermos, mas a mudança sempre vem. O ódio irá se esvair, as pequenas mudanças se tornam gigantes, pensamentos positivos e generosos influenciam outras pessoas e assim, conseguem alcançar a todos. Mas, o que não podemos fazer é desistir ou parar de correr, afinal de contas do que vale viver se não for por amor.

Miki Makimura
Imagem: Science SARU