Quanto tempo esse tipo de experiência estava fora dos olhos do público? Na última década, o gênero RTS definhou e abandonou as horas de jogo do gamer, salvo algumas pequenas exceções, ainda assim, longe da era de ouro de Warcraft , Age of Empires, Command and Conquer e muitos outros.
Mesmo Gray Zone sendo classificado como RTS, existem alguns atributos que o distanciam do padrão esperado de um RTS. Primeiro que não existe manutenção de acampamento, base militar ou civilização. Coleta de recursos? Só se for o loot que o corpo do inimigo dropa. De fato, Gray Zone se joga igualzinho a clássicos RPGs americanos como Baldur ‘s Gate e mais recentemente Pillars of Eternity. Mas então porque a classificação de RTS?
Diferente dos RPGs citados, a sensação ao jogá-lo é exatamente a de um RTS. A interface passa essa sensação, como movimentamos e selecionamos as unidades têm essa sensação, a exploração do mapa, todos gritam como se fosse um clássico RTS só que, por acaso, ele não é.
Um Sandpunk emocionante
Desde sua Cutscene inicial em animatics com estética de HQ, o plot já suga o jogador para o universo do jogo. No menor planeta da Gray Zone, mineradores são feitos de escravos porque os mercenários podem e ninguém tá nem aí com a classe trabalhadora.
O pai do protagonista é agredido por um escravistas. Ao ver essa cena, nosso personagem só vê vermelho e mata o sujeito, depois disso o pai manda o protagonista fugir com uma pedra que estava em seu pescoço por mais de 20 anos. Enquanto em fuga, o personagem descobre que o cristal tem um tipo de IA que aparenta ser auto ciente. Ela (sim a IA tem gênero) nos guia para um portal no meio da floresta que estava lá de bobeira e escapamos.
Ignorando os questionamentos de “porque é pai não tentou escapar em 20 anos?” Ou “como existe por mais de 20 anos um portal que ninguém tinha conhecimento e sem nenhuma vigilância?”, Toda essa cena acontece de forma bem épica e emocionante. Assim o jogador fica instantaneamente intrigado pelos múltiplos mistérios que o plot nos dispõe e a narrativa que embora falha é bastante envolvente.
A história não é muito diferente de filmes e jogos que contam a narrativa da jornada do herói, tanto que diversos aspectos remetem instantaneamente a outros títulos, se não em referência direta, em sensação.
Três vem em mente: Mad Max, Star Wars (uma nova esperança) e Fallout. Todos apresentam um mundo futurista distópico onde ao mesmo tempo que é High Tech, está em calamidade. Inicialmente árido e desértico, com uma população oprimida por um sistema totalitário, de privilégios e injusto. O protagonista é um Zé ninguém que, ou é o escolhido ou vai rapidamente para uma posição de poder e respeito dentre os rebeldes desse sistema.
Em seu Cenário Top Down nos é apresentado um ambiente estonteante. O jogo adota uma estética foto realista ao invés de uma estilizado e acertou na escolha. O mapa inteiro está amostra, porém só conseguimos ver eventos, detalhes e efeitos climáticos no limite de nosso campo de visão que serve de uma mecânica fundamental do jogo.
O cenário é um Sandpunk vivo, porém poucas coisas são possíveis de interagir. Cheio de ruínas com criaturas desconhecidas, mutantes e gangues inimigas.
Jogo bonito com mecânica ordinária
O game se joga quase que idêntico a Fallout Tactics, com a única diferença de ser bom. A história intrigante e os personagens com profundidade e interessantes podem ser uma possível explicação desse fenômeno.
Podemos jogar ele em real-time ou pausar para fazer as ações, porém uma vez que tudo está em movimento, assim como em Pillars of Eternity é muito difícil fazer manutenção da equipe e isso pode custar algumas vidas.
Jogamos apenas com um pequeno exército que podemos selecionar clicando ou arrastando uma caixa de seleção e nesse ponto que o jogo fica frustrante, pois ele cria mecânicas que ele mesmo sabota.
Nosso campo de visão é limitado, logo não sabemos onde o inimigo pode estar e nem quantos são. Por isso, um sistema stealth e cobertura foram criados. Colocamos alguns personagens em cobertura e com apenas um personagem escolhido, andamos silenciosamente para reconhecer o ambiente. Em stealth podemos matar um inimigo instantaneamente e também tacar pedras para fazer o inimigo se aproximar.
O problema é que se formos vistos não existe na mecânica algo que faça os aliados em cobertura atacarem quem estiver atrás de você. O jogo é muito rápido, então, o resultado é seu personagem desesperadamente correndo enquanto quatro aliados estão a dois metros em cobertura apenas observando o outro morrer.
O tempo para selecionar os outros e correr ao mesmo tempo sem morrer é muito curto. É possível apenas com a tela pausada. De certa forma isso frustra um pouco a dinâmica do jogo, pois evitar o personagem a criar estratégias mirabolantes esperadas de um RTS.
Entendi, espera… Não entendi não
A interface é tudo, menos intuitiva e parece inacabada. Algumas funções parecem inúteis, outras não respondem como deveriam. O jogo tem um enigma que não entra na cabeça desse humilde analista o qual vos escreve. Embora ele seja um RTS tático de equipe com elementos de RPG, ele tem uma interface que parece ter sido feita para um RTS de gestão de acampamento ou civilização. Todas as mecânicas parecem se comportar como se em algum momento isso vai existir, mas não existe. Isso deixa em aberto a dúvida, talvez o jogo não saiba quem ele é.
Em geral o jogo vale apenas pela história e narrativa, questionamentos sobre escravidão e a vida hermita, caso isso não seja algo crucial para você, o jogo falha em muitos aspectos mecânicos, e um deles é a dificuldade de manter FPS em computadores menos potentes. Isso não é algo incomum, mas Gray Zone cobra mais do PC do que um jogo como ele deveria cobrar.
Gray Zone, uma revitalização intrigante de um gênero esquecido que vai te deixar emocionado e investido nos personagens, porém com muito a melhorar em suas mecânicas quebradas. No final o jogador tem que se perguntar.
O que é importante para você em um jogo?
Análise atualizada dia 30/08/2021 às 22:49