Na última quinta-feira (26) a Netflix lançou o anime de Pluto e aqui está a nossa análise. A adaptação do mangá de mesmo nome do mangaká Naoki Urasawa, chegou completa em 08 episódios na plataforma.

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio;

Gesicht
Imagem: Netflix

Pluto foi criado por Naoki Urasawa, o mesmo criador de Monster, ao qual o anime também se encontra na Netflix. Ele recebeu a benção do filho de Osamu Tezuka, Makoto Tezuka, o lendário mangaká que criou Tetsuwan Atom (conhecido aqui como Astro Boy). Então, Urusawa pegou um dos arcos mais famosos do clássico mangá, “O Maior Robô da Terra“, e criou uma história diferente, utilizando o seu estilo tanto no desenho quanto na condução da narrativa.

O mangá e o anime servem como um spin-off, Pluto traz consigo as mesmas sensibilidades e dilemas da obra de Tezuka. Porém, com um adicional de uma mensagem contra a guerra, mas sempre lembrando que os dois lados sofrem com este conflito. Além disso, o mangaká não poupa críticas aos Estados Unidos e suas invasões ao Iraque, que se encaixam como uma luva atualmente.

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio;

Atom
Imagem: Netflix

O mangá de Pluto foi publicado originalmente entre os anos de 2003 e 2009, escrita e ilustrada por Naoki Urasawa e produzida po Nagasaki Takakshi. E seu lançamento ocorreu Big Comic Original, uma revista quinzenal do gênero seinen e publicada pela Shogakukan. E no Brasil, o mangá saiu completo pela editora Panini e que prometeu um relançamento futuro da obra.

Contexto

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio;

Gesicht
Imagem: Netflix

Naoki Urasawa pega então a história original, “O Maior Robô da Terra“, que consistia na seguinte premissa. Um sultão, de um país do Oriente Médio, contrata um cientista, o Dr. Abulah, para construir para ele um robô extremamente avançado e poderoso, chamado Pluto. E assim, ele envia Pluto para derrotar os sete robôs mais avançados do mundo. Esses robôs são: Mont Blanc, um robô da Suíça; North Nº02, um robô escocês; Brando, um robô da Turquia; Herácles, um robô da Grécia; Gesicht, um robô da Alemanha; Épsilon, um robô da Austrália; e o próprio Atom, do Japão. A partir disso, vemos Pluto em missão pelo mundo de destruir todos esses robôs e até que ele chega a confrontar Atom em algum momento.

Então aqui entra Urasawa, ele pega os pontos principais da história original e apresenta quase todos os pontos na mesma estrutura. Ele muda apenas, dois ou três pontos, mas para melhorar a estruturação da história que ele queria contar. E a partir dessa estrutura com pontos pré-definidos, que são eventos importantes que ocorrem na história original, o mangaká preenche o meio destes eventos.

Assim, acaba alongando um pouco mais a história, já que Pluto possui 08 volumes, então vai preencher o espaços entre os eventos, com mais informações e narrativas, que reforçam os pontos que o Tezuka já abordava na história original. Mas, também, acrescenta e aborda algumas camadas que não estavam ou existem na obra de Tezuka.

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio;
Imagem: Netflix

Pluto ainda apresenta a história de um robô extremamente poderoso que foi criado para destruir os 07 robôs mais avançados do planeta. Mas, Urasawa vai fazer diferente do Tezuka fez, já que na história original os protagonistas são Atom e sua irmã Uran, e em Pluto, o protagonismo vai para Gesicht, na maior parte da história. Que em Tetsuwan Atom aparece na metade da história.

E assim, Urasawa transforma a história em um suspense, de investigação policial, na qual Gesicht não só tem que descobrir quem está matando os 07 robôs mais avançados do planeta. Porém, ele adiciona um elemento a mais, o assassinato de pessoas que estão envolvidas com a causa dos diretos dos robôs. E assim, a obra se torna uma caçada a um serial killer que pode ser ou não um robô.

A história

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio
Imagem: Netflix

Bom, a história do anime de Pluto se inicia com um enorme incêndio nas florestas suíças, não há muitas explicações de como aconteceu e os bombeiros estão preocupados que possa se espalhar. Ao identificarem a possível causa, encontram o local totalmente destruído e com as árvores arrancadas. Aqui surge o professor Reinhardt preocupado com a sua criação, Mont Blanc, dizendo que seu sinal sumiu. Apenas, para descobrirmos que ele foi destruído e sua cabeça está entre dois chifres. A partir daí, temos o início de uma trama de investigações que nos levam pensar e repensar em todas as pistas que a história nos entrega.

Assim, acompanhamos Gesicht em suas investigações que começam a entrelaçar com o assassinato de Mont Blanc. Vemos pessoas ligadas aos diretos dos robôs sendo assassinadas e que de primeiro momento suspeitam de humano, mas as provas apontam para um robô. Não vou me aprofundar sobre as investigações, pois esta é a parte interessante da história, ir acompanhado as descobertas e a evolução do caso junto com Gesicht.

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio
Imagem: Netflix

Outra coisa que a história faz um paralelo é a invasão ao país do Oriente Médio, chamado Pérsia. Na qual, se transformou em uma enorme guerra envolvendo robôs e humanos. Esse evento fica conhecido como o 39º Conflito da Ásia Central, na história, e é uma grande referência e crítica as invasões dos Estados Unidos ao Afeganistão e o Iraque. Mas este evento acaba se tornando uma peça central a toda trama.

A história consegue entregar uma narrativa coesa e cheia de reviravoltas, dignas das melhores histórias policiais. Tudo está tão bem construído, que quem já leu o mangá perceberá que desde o começo a narrativa já entregava algumas informações cruciais da investigação. Algo que só a genialidade de Urasawa conseguiria fazer.

Uma crítica antiga, que está bastante atual

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio
Imagem: Netflix

Quando a história de Pluto estava sendo produzida em 2003, o mundo estava acompanhando as investidas dos Estados Unidos ao Iraque. Além disso, ao mesmo tempo acontecia a guerra dos Estados Unidos, com o aval da OTAN, ao Afeganistão, por causa dos eventos do 11 de setembro. Então, no mangá e no anime existe o país da Pérsia, que representa o Oriente e os países que foram invadidos pelos Estados Unidos. E temos os Estados Unidos da Trácia, a grande potência do Ocidente, que representa os Estados Unidos. Urasawa até chama a capital desse país de New Washington, para deixar mais claro tal referência.

Na história do mangá e anime de Pluto, vemos que o paralelo criado destes conflitos e como uma grande potência pode influenciar outros países, a fazer o que ela deseja. Com a desculpa de que a Pérsia estaria criando robôs de destruição em massa, os Estados Unidos da Trácia decide que seria melhor invadir e destruir tais máquinas. Porém, para confirmar que realmente está acontecendo isso, é criado um inquérito nas Nações Unidas, para investigar o país e descobrir os robôs. Mesmo com a investigação provando que não existia tais robôs, a guerra estoura e o país é totalmente dizimado.

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio
Imagem: Netflix

Isso se reflete nos mesmos acontecimentos da Guerra do Iraque, onde os Estados Unidos sob o pretexto que o país estava criando armas de destruição em massa e por isso, era necessário acontecer a invasão e ocupação. Eles informam que era necessário fazer uma coalisão entre os países da OTAN e os que não faziam parte, para invadir e depor o atual governo do Iraque, que era de Saddam Hussein. Porém, aconteceu a invasão, a guerra e a ocupação, mas após as investigações descobre que não havia armas e que os Estados Unidos criou essa imagem do Iraque, apenas para poder invadi-lo. E assim, com todo esse background e contextos históricos temos Pluto.

Os personagens

Gesicht
Imagem: Netflix

Os personagens do anime Pluto por si só merecem um estudo sobre eles e como funcionam nesse universo criado por Urasawa. Todos eles carregam camadas de personalidades e traumas, mostrando o quão avançados são estes robôs. O mangaká consegue abordar todos os temas que já existiam na história de Tezuka e consegue inserir suas críticas e os temas que ele deseja trabalhar na história.

A guerra mudou todos os robôs mais avançados do planeta, alguns ficaram extremamente traumatizado, outros quebrados emocionalmente e por fim, entenderam que nada de bom viria da sua participação neste conflito. Essa guerra não só mudou o mundo, mas também mudou a visão de mundo de todos esses personagens e como eles avançaram ao decorrer da história.

Brau1589
Imagem: Netflix

Aqui abro um parêntese para Brau1589, um personagem original que Urasawa criou para Pluto. Brau é conhecido por ser o único robô que já matou humanos e desrespeitando as leis universais que todos os robôs seguem naquele universo. Todas essas leis são baseadas nas leis da robótica de Isaac Asimov. Porém, ao investigarem Brau1589 descobrem que não existe nada de errado com ele e que ele matou essas pessoas porque quis. E por causa disso não destroem ele, apenas o deixam preso e longe de outros robôs, já que ele é o mais próximo que uma máquina chegou de um humano.

Brau1589 também serve como uma referência ao filme “O Silêncio dos Inocentes“, onde Clarice Starling vai até o serial killer Hannibal Lecter para solicitar ajuda para prender outro serial killer. A mesma coisa que Gesicht faz quando começa a suspeitar que o assassino que persegue é um robô e solicita auxílio para o único robô que já matou humanos. Toda a narrativa criada para Brau1589 é simplesmente incrível.

Vale a pena?

Uran
Imagem: Netflix

Sim, certamente o anime de Pluto vale a pena e com certeza você deveria assistir. O anime adaptada praticamente todas as páginas do mangá, com algumas mudanças para contextualizar melhor nessa nova mídia. A espera para ver esta obra animada valeu a pena, os episódios estão no ápice da animação e assim, como no mangá, vemos aqui uma obra de arte. Além disso, a escolha por adaptar em 08 episódios de, mais ou menos, 1 hora pode parecer estranho, mas essa decisão foi a mais correta. Não consigo ver outra maneira de ver Pluto sendo adaptado.

Porém, existem alguns pontos negativos no anime, o principal deles é a tradução das legendas e dublagem. O personagem Herácles, um robô grego, teve seu nome traduzido para Hércules, um nome que os gregos não usariam para uma figura nacional. Até mesmo no Japão é utilizado o nome Herácles, utilizar o nome dados pelos colonizadores, que se apropriaram da cultura deles, não faz muito sentido. Sendo assim, parece que os tradutores subestimam o público, acreditando que eles não saberiam que Herácles é um personagem da mitologia grega. Então, optar por usar o nome romanizado mostra que eles pensam que o público é burro demais para entender sobre o personagem.

Apesar da dublagem estar muito boa, essa decisão por adaptar um nome de personagem, mostra que os tradutores realmente subestimam o público. Pois, na obra original e todas as versões, seu nome fica como Herácles. Esse motivo de manter na nostalgia, porque fica mais fácil de entender, mostra que não existe um certo cuidado nas traduções e sim, decisões editoriais. Mas, mesmo com este problema, sinto que não atrapalha na experiência de assistir esse incrível anime.

Análise | Pluto: Robôs, humanos e o eterno ciclo de ódio;

Atom
Imagem: Netflix

Bom, o anime Pluto estreou na última quinta-feira (26), com todos os seus 08 episódios na Netflix. Então, não perca tempo e vá assistir essa obra de arte.

Por fim, se quiser saber mais notícias sobre animes e mangás, fique ligado aqui no portal, e nos siga também no Instagram.  E além disso estamos inaugurando nosso canal no Telegram (https://t.me/geekpopnews).