A estreia da live-action da Barbie está sendo um verdadeiro sucesso. O filme contou com um faturamento mundial de US$ 337 milhões e 90% de aprovação no Rotten Tomatoes. Com críticas sagazes e humor sarcástico, o roteiro do filme superou as expectativas de quem foi ao cinema para reviver suas melhores lembranças de infância. Repleto de críticas sociais contundentes, o longa propõe diversas reflexões a respeito das vivências contrastantes de homens e mulheres na sociedade. Nesse post, explicamos algumas das principais mensagens passadas pelo filme.

Aviso: contém spoilers

Invisibilização feminina

O filme mostra diversos exemplos de como as mulheres costumam ser colocadas em um papel de inferioridade em relação aos homens. Logo no começo, vemos a Barbieland, um mundo que é dominado pelos mais diversos tipos de Barbie e os Kens são apenas uma peça decorativa. Soa familiar para você? Este é um dos aspectos que incomodou uma parte do público masculino que foi aos cinemas. Com isso, mesmo sem perceber, eles sentiram na pele como é viver à sombra de alguém. Esse sentimento também é expresso pela música cantada por Ken: “Sou apenas o Ken, em qualquer outro lugar eu seria um 10”. Ou seja, o personagem sente-se injustiçado ao perceber que é constantemente menosprezado e desvalorizado.

A Barbie (não) mudou tudo

Muitas pessoas ficaram com um pé atrás em relação ao filme devido ao padrão de beleza perpetuado pela imagem da Barbie: branca, loira e magra. Todo o marketing da boneca girar em torno do empoderamento feminino através do slogan “seja quem você quiser ser”. No entanto, não há como negar que muitas meninas não se sentiam representadas pela boneca. Além disso, elas passaram boa parte de suas vidas sofrendo para se encaixarem nesse padrão.

No entanto, em vez de ocultar essa realidade, o roteiro transformou isso em uma das primeiras decepcões que a Barbie Estereotipada teve ao conhecer o mundo real. Ao perceber que a menina que brincava com ela acabou odiando-a por causa desse padrão, a boneca ficou arrasada. Isso porque não era esse o impacto que ela gostaria de ter causado. Assim, o roteiro critica a presunção da Mattel ao acreditar que a boneca poderia “resolver todos os problemas do feminismo”.

O assédio nas ruas

Em seu primeiro contato com o mundo real, a Barbie Estereotipada dá de cara com o assédio nas ruas. Enquanto andava de patins, teve que lidar com diversos homens desconhecidos assediando-a, chamando-a de apelidos bagaceiros e deixando-a com medo. Enquanto isso, ao lado dela, Ken sentia-se tranquilo e não entendia por que ela estava tão assutada. Com essa cena, o filme expressa o desconforto que a maioria das mulheres sentem diariamente nas ruas. Ao mesmo tempo, mostra a incompreensão que diversos homens demonstram em relação a isso.

O poder da alienação

Na Barbieland, todas as bonecas viviam de forma alienada, acreditando na ilusão de que haviam acabado com o machismo no mundo real. Todas, exceto por uma: a Barbie Esquisita. Quando sua dona brincou “pesado” demais com ela, a Barbie Esquisita ficou bem diferente das demais. Ao contrário das outras bonecas, que eram perfeitamente arrumadinhas, ela tinha os cabelos espetados e o rosto riscado. Ou seja, bem diferente do padrão estético esperado para uma boneca.

Isso fez com que a Barbie Esquisita tivesse mais com o mundo real e fosse a única a conhecê-lo como ele realmente é. Isso rende uma das cenas mais icônicas do filme: a Barbie Estereotipada precisa escolher entre o salto alto (zona de conforto) ou a papete (cair na real). Uma clara referência ao filme Matrix (1999). O arquétipo da Barbie Esquisita também lembra o mito da caverna, de Platão, devido à exclusão social sofrida pela personagem. Isso mostra o quanto a alienação pode fazer com que as pessoas vivam em uma bolha.

A Barbie Esquisita era a mais consciente da Barbieland (Foto: Reprodução)

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O peso de ser mulher

Quanto mais contato com a realidade a Barbie Estereotipada tem, mais deprimida ela fica. Sem demora, ela entra em uma grande crise existencial, sentindo-se insuficiente e incapaz. Apesar de ser uma boneca feita para representar e empoderar as mulheres, Barbie começa a acreditar que não sabe fazer nada. Ao se deparar com essa cena, Gloria (a mãe da menina que brincava com a boneca no mundo real), faz um discurso sobre como o machismo suga a energia das mulheres e mina suas autoestimas dia após dia.

O patriarcado é manipulador

Quando os Kens dominaram a Barbieland, eles fizeram com que todas as Barbies de lá se esquecessem de suas conquistas e se contentassem com um papel de servidão e submissão. Quando uma das bonecas hipnotizadas escuta o discurso motivador que Gloria fez para a Barbie Estereotipada, ela acaba se lembrando de seus feitos. Dessa forma, elas descobrem que para impedir que a Barbieland fosse dominada pelo patriarcado, elas precisariam se unir e abrir os olhos uma das outras através de uma importante ferramenta: a informação.

“Não tem mulheres aqui?”

Quando a Barbie Estereotipada entrou na Mattel para tentar descobrir como resolver as sensações estranhas que ela estava sentindo, ela se depara com uma sala cheia de homens. Ao perceber que não havia nenhuma mulher em posição de poder, mesmo em uma empresa responsável pela fabricação de uma boneca que representa mulheres, Barbie fica chocada e percebe imediatamente que não receberia a ajuda que precisava ali.

O ego inflado do hétero top

Para conscientizar as outras bonecas e retomar a Barbieland, a Barbie Estereotipada e as bonecas já desconstruídas precisariam distrair os Kens de alguma forma. E para conseguir isso, elas apelam para o calcanhar de aquiles de todo hétero top: seu ego inflado. Entre as principais formas de enganá-los era fingir precisar de ajuda para alguma tarefa simples, fazendo com que os Kens se sentissem tentados a provarem que são mais inteligente que elas explicando o assunto.

A importância da sororidade

Outra parte do plano das Barbies para retomar a Barbieland consistia em fazer os Kens acreditarem que elas estavam “caindo na lábia deles” e, então, dar encima de outros Kens para fazê-los ficarem com ciúme e brigarem entre si. Não é incomum ver essa competitividade para ser vista pelo sexo oposto sendo atribuída a mulheres. Inclusive, diversos sucessos de Hollywood contam com enredos que mostram uma amizade entre duas mulheres acabando por causa de um homem.

Ao mostrar as bonecas se unindo para recuperarem seu poder, o filme não apenas mostra como o patriarcado usa a insegurança das mulheres contra elas, mas também a importância da sororidade. Essa questão também fica explícita quando, no final, as outras bonecas pedem desculpas por terem debochado da Barbie Esquisita, pois elas finalmente perceberam que não ganham nada ficando uma contra as outra.

Veja o trailer: