Clarice Lispector é considerada uma das maiores escritoras do século XX. Diante da história de vida e a intensidade de seus versos que traduziam inquietações e um extremo existencialismo, os registros escritos pela autora reverberam até os dias atuais. 

A autora, nascida em 1920, teve diversas obras publicadas que apresentavam de maneira real o que Clarice observava e sentia. Entre histórias mais completas, contos e poemas, os escritos de Lispector já foram adaptados em entre filmes e peças de teatro.

 Hoje, dia 9 de dezembro de 2022, é um dia marcado pelos 45 anos da morte de Clarice Lispector. Para não deixar passar esse dia em branco, separei quatro obras da autora que me marcaram de alguma forma. Seja em seus romances completos, seja pelos contos fortes com histórias de mulheres e suas possibilidades, verdades, dores, realidades e intensidades. 

Primeiramente, o livro “Perto do Coração Selvagem” (1943), primeira obra publicada pela autora. 

Reprodução - Capa do livro "Perto do Coração Selvagem” - Clarice Lispector
Reprodução – Capa do livro “Perto do Coração Selvagem” – Clarice Lispector

A vida de Joana é retratada como uma fusão temporal do passado e do presente. Isso inclui a infância com o pai, a mudança para a casa da tia, o internato e a puberdade. Envolve também o tempo que ela passou com Otávio quando adulta.

Assim, a busca de Joana pela iluminação leva seu foco para dentro de si. Sua jornada contínua para dentro de si mesma motiva a narrativa a apresentar seus vários fatos. Apesar de seu foco no momento atual, ela nunca ousa se afastar das lições que aprendeu. Ela não teme a alternativa de abandonar tudo o que conquistou e criar uma nova identidade.

A Hora da Estrela (1977)

Reprodução - Capa do livro "A Hora da Estrela" - Clarice Lispector
Reprodução – Capa do livro “A Hora da Estrela” – Clarice Lispector

Um dos romances e registros mais conhecidos de Clarice Lispector. A história se passa pela vida de Macabéa, uma jovem ingênua recém chegada do Nordeste para o Rio de Janeiro. Ela vive uma vida simples e começa a namorar Olímpico, com quem tem uma relação bastante tóxica (analisando e reconhecendo isso com mais precisão nos dias atuais), que refletem diretamente na personalidade e na maneira que a personagem se sente. 

Muitos pontos são capazes de causar inquietações durante a narrativa, que mescla sonhos com a amplitude do sentir. 

Conto – A fuga (Livro “A Bela e a Fera”) 1979

Reprodução capa do livro "A Bela e a Fera" - Clarice Lispector
Reprodução capa do livro “A Bela e a Fera” – Clarice Lispector

Com certeza esse é o conto que mais me amargurou e me puxou para um mar repleto de reflexões. Nele, a protagonista (Elvira) diz sobre o cansaço dos doze anos de casamento, de como se sente triste e quer ir embora, que sentir coisas maiores e melhores sobre si e parte para um dia fora de casa. Dentre as páginas, ela traz reflexões fortes sobre si e o papel que emprega como mulher. O texto inteiro cabe grandiosamente para os dias atuais e questões que abordamos constantemente, mas com cada etapa e passo. É praticamente impossível não terminar a leitura pensando sobre tudo e não se sentir amargurada por alguns minutos.

Devaneios e Embriaguez duma Rapariga (Do livro “Laços de família”) – 1960

Reprodução capa do livro Laços de família - Clarice Lispector
Reprodução capa do livro Laços de família – Clarice Lispector

Esse conto carrega em sua essência as inquietações de uma mulher que se questiona sobre os afazeres domésticos, seu papel como esposo e se de fato se sente feliz e satisfeita com as próprias obrigações. Em um jantar, permite-se beber um pouco mais e deixar os pensamentos fluírem, dentro das possibilidades que imagina e o que poderia fazer com que ela fosse mais feliz, longe do cansaço da vida que leva, como mulher, em um cenário estabelecido. 

Dessa forma, grande parte dos registros da autora, revelam histórias de mulheres em um contexto existencial e profundo diante das vidas que levam. Em uma época em que o dito “papel da mulher” tinha como aspecto uma realidade, a autora trazia muito do que observava, possibilitando que anos depois ainda consigamos ver como algo presente e ressignificar essas histórias. Clarice Lispector deixou um legado e carrega em seu nome a possibilidade de transformar mulheres e histórias pelos simples ato de transpassar em suas linhas o que a deixava inquieta, o que queria deixar transbordar no próprio existencialismo. 

Sendo assim que possamos sempre ler, reler e repassar tudo o que Clarice Lispector ainda nos ensina. Mais uma vez a arte eterniza a sua artista.