Você já se perguntou de onde vêm os livros que você compra? Em tempos de leitura por tela e algoritmos que sugerem a próxima história, ainda há quem preze pelo caminho oposto, valorizando o toque no papel, a textura das páginas e o ofício que existe por trás de tudo isso. Embora o digital avance em alta velocidade, ainda existem editoras que apostam no manual – e o resultado é diferente.

O Grafatório é um deles. Localizado na cidade de Londrina, no Paraná, há 13 anos trabalha como um coletivo e uma associação cultural sem fins lucrativos, visando fomentar a cultura das artes gráficas localmente. O selo editoral Grafatório Edições existe desde 2016 e tem 18 livros publicados em um trabalho analógico e artesanal.

Grafatório Edições

Mais do que imprimir páginas, o Grafatório imprime uma originalidade que fica evidente ao conferir os produtos finais. A produção envolve as etapas de edição, entrevistas e tradução, além de diagramação e edição de arte e, por fim, a impressão com tipos móveis, quando necessário. Segundo o designer Luiz Niekawa, cada livro pede uma equipe de duas a quatro pessoas para ser feito.

O designer compartilha que a produção manual garante um aspecto único para cada produto, juntamente com um valor afetivo pela arte. “Não que tenhamos algo contra a tecnologia, mas é que quanto mais tecnológico, mais difícil você interferir nele. Acho que produzir as coisas com calma, pensar, explorar, brincar com os processos é algo que vai contra a velocidade e superficialidade dos processos e relações contemporâneas.”

Os 18 títulos publicados pelo selo editorial foram escolhidos a dedo. Luiz conta que o processo de seleção adotado pela equipe editorial é orgânico e colaborativo. As obras escolhidas vêm de uma relação direta com artistas, escritores e poetas que compartilham uma afinidade com os valores do Grafatório, artística e politicamente.

Do trabalho artístico ao selo editorial

Apesar do Grafatório Edições estar em vigor desde 2016, a sua origem vem de uma ideia mais antiga. Em 2013, o primeiro ano de existência do coletivo, a equipe tinha a vontade de participar de feiras de publicação, mas ainda não tinham o material publicado para isto.

A solução veio de Felipe Melhardo, editor das obras do selo editorial. Ele propôs que começassem a produzir livros ao vivo nas feiras, em um projeto nomeado Codex Ex Machina, que ficou em vigor de 2013 a 2016. Com essa ideia, conseguiram circular por diversas feiras. Assim, fizeram mais conexões com artistas para participar do coletivo e com o público interessado na produção artesanal. E esse foi o primeiro passo para o futuro de suas produções autorais.

Após a finalização deste projeto, o Grafatório Edições começou com pequenas produções, como zines, coleções de gravuras e textos pequenos. Então, em 2017, lançamos o primeiro título “A Hora da Lâmina” de Paulo Leminski. De acordo com Luiz Niekawa, essa foi uma obra muito importante, que acabou definindo várias coisas sobre a editora.

Atualmente, o selo editorial se mantém relevante por conta dessas conexões, que consideram ser um diferencial das editoras populares, juntamente com o trabalho manual analógico. “Acho que a presença que temos durante a produção de cada livro, as conexões genuínas que críamos entre os artistas e os leitores e as participações nas feiras de arte impressa é algo que mantém nossa relevância. E acho que sim, talvez o artesanal seja um diferencial, mas ele parte de algo maior, uma postura política, estética e comunitária frente ao mundo da arte e da publicação”, compartilhou Niekawa.

Cada exemplar é finalizado como quem embala um presente. E, justamente por isso, desafiam o imediatismo ao lembrar que literatura ainda pode ser gesto artesanal.

Conheça o Grafatório

O Grafatório trabalha fomentando as artes gráficas na cidade de Londrina partindo de quatro linhas: Investigação & Experimentação, Capacitação, Produção e Difusão. Para saber mais sobre o trabalho do coletivo, visite o site ou acesse o perfil no Instagram. Para visitas presenciais no espaço, o endereço é Rua Mossoró, 483, Londrina-PR, com horário de funcionamento de terça a sexta-feira das 14h30 às 19h.

Atualmente, a equipe consiste nos profissionais Pablo Blanco, Felipe Melhado, Carolina Sanches, Diogo Blanco, Edson Vieira, Luiz Niekawa e Silvio Valduga.

Confira a lista com os 18 títulos publicados pelo Grafatório Edições. As obras disponíveis podem ser adquiridas por venda online ou presencialmente no endereço físico.

  • A Hora da Lâmina – Paulo Leminski
  • ⁠Visiopoemas – Paulo Menten
  • ⁠Novos Contos – Rogério Sganzerla
  • ⁠Luas – Júlia Rocha e Gustavo Galo
  • ⁠No fim da Infância – Arrigo Barnabé
  • ⁠Porque Eu Odeio – Calude McKay
  • ⁠Vou Lá e Faço: Vida-Obra de Oswald Diniz – Felipe Melhado, Gabriel Daher e Teixeira Quintiliano
  • ⁠O Último Pau de Arara – Jotabê Medeiros
  • ⁠Um Nome Escrito no Vento – Ademir Assunção
  • ⁠3 Palavras Só ou Quatro Às Vezes Mais – Tomma Weber
  • ⁠REC: Primeiro Tratamento – Vários autores
  • ⁠Escrever é Esquecer – Fernando Pessoa
  • ⁠Galáxia Floresce na Primavera – Nanao Sakaki
  • ⁠Tremulus – Neuza Pinheiro
  • ⁠Ficções Completas – Arnaldo Baptista
  • ⁠Molhados & Escorregadios – Layse Barnabé
  • ⁠Focault na Califórnia – Simeon Wade
  • A Cimitarra da Candura – Arrigo Barnabé