Em “Autobiografia do Algodão”, a escritora mexicana Cristina Rivera Garza mergulha em sua história familiar para compor uma narrativa que transita entre o íntimo e o coletivo. O livro acompanha os trajetos de homens e mulheres que marcaram sua ancestralidade, reconstituindo uma cartografia emocional e geográfica a partir de cartas, arquivos e lembranças dispersas.
Embora parta de uma perspectiva pessoal, a obra propõe um gesto maior: um exercício de escuta e reconstrução. Ao longo das páginas, o tecido da memória se entrelaça com questões de identidade, pertencimento e território. Rivera Garza retorna ao norte do México, uma região atravessada por travessias, desaparecimentos e resistência, e, ao fazer isso, devolve à escrita sua potência política e afetiva.
Sua narrativa não segue uma linha reta. Pelo contrário, ela se constrói por meio de retomadas, silêncios e sobreposições, como se cada memória exigisse tempo para se revelar. Além disso, a autora transforma fragmentos familiares em matéria literária, revelando também as ausências e os apagamentos históricos que ainda ecoam no presente. A violência estrutural, o êxodo rural e a invisibilidade das mulheres atravessam essas páginas com força e sutileza.
Quem é Cristina Rivera Garza?
Cristina Rivera Garza é uma das vozes centrais da literatura latino-americana contemporânea. Nascida em Matamoros, no México, ela construiu uma trajetória marcada pela ousadia formal e pelo comprometimento com temas sociais e políticos. Desde a década de 1990, publica romances, ensaios, contos e obras de não ficção que desafiam fronteiras que são físicas tanto quanto literárias.
Além de acumular uma bibliografia sólida, Rivera Garza tem sido reconhecida por instituições ao redor do mundo. Entre os prêmios que recebeu, destacam-se o Sor Juana Inés de la Cruz, o Roger Caillois e o MacArthur Fellowship. Sua escrita transita por diferentes gêneros, mas mantém um fio condutor: o interesse por aquilo que foi silenciado, ocultado ou esquecido. Justamente por isso, sua obra permanece urgente.
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