O filme francês A Garota Radiante, chega aos cinemas hoje (30), contando uma história onde envolve o holocausto de uma forma quase completamente sutil e bonita.
Antes de assistir “A Garota Radiante”, optei por não ler ou ver nada relacionado. Não procurei por um trailer, se quer, uma sinopse. Nada. Ultimamente tenho prezado por essa preferência, que me permite estar aberta para descobrir ao longo do filme, sem criar expectativas, do que se trata. Acredito que isso ajuda a emergir mais intensamente, de forma que amplia meu olhar crítico para outras coisas.
A protagonista, Irene, é apresentada da forma que tem que ser. Uma personagem em destaque em todos os ambientes de sua rotina. Pode-se afirmar que, a atriz Rebecca Marder atende bastante as expectativas, assim que, a mesma tem um brilho e uma cativação única. Pois bem, o único “spoiler” que eu tinha, era somente o título mesmo.
A narrativa, por si, é leve. Porém, muitas vezes, leve até demais, a ponto de “estacionar” e ali, poder gerar um possível tédio e até desviar a atenção do público. Eventualmente, apostam em planos um pouco maiores, e, se por um lado, isso pode contribuir para o ponto anterior, por outro, consegue realizar diálogos tão naturais, onde você esquece que há de fato alguma atuação. Uma fotografia que evidencia as microexpressões no dia-a-dia até um certo “exagero”, quando a personagem está atuando no teatro, explorando a metalinguagem dessa experiência.
Fotografia
A estética de “A Garota Radiante” é absurdamente planejada. O filme contém uma paleta de cores limitada, contendo apenas as cores azul, branco e vermelho, variando apenas para tons de preto e amarelo. O que me pareceu curioso, pois a primeira sequência, se remete exatamente à bandeira da França, e a segunda, Alemanha.
Guillaume Schiffman (diretor de fotografia) mostrou que sabe o que faz. Geralmente, a grande simpatia da personagem somado à em tons terrosos e frios, faz com que ao mesmo tempo que você se encontra apaixonado por Irene, percebe um certo afastamento ou sinal de que algo não está no lugar. Exposição e vulnerabilidade. Entretanto, enquanto temos ambientes internos, onde explora mais sua vida sentimental (seja ela com família, um novo amor, até mesmo no teatro), os tons ficam levemente mais quentes, aumentando a sensação de acolhimento e segurança.
Atenção: A partir daqui o texto poderá conter spoilers
À medida que ia entrando no universo do longa, não demorou muito tempo para entender que seria um filme que falaria sobre Nazismo. Desde então, me preparei diversas vezes para que a qualquer momento, algo ruim pudesse acontecer.
Ao mesmo tempo, eventualmente me distraía e sentia que seria um assunto que talvez não fosse algo tão relevante. E foi exatamente o que a diretora Sandrine Kiberlain quis fazer.
As coisas acontecem realmente de formas bastante sutis.
Aos poucos, a jovem e sonhadora atriz, vai perdendo sua liberdade, se adequando à nova rotina que gira em torno da mesma ser judia.
Pessoas se afastam, amigos desaparecem. Irene e sua familia vai perdendo meios de comunicação e até de locomoção, tudo isso em cenas paralelas às outras, como por exemplo, as cenas de flertes e conquista. Um casal que por sinal, conseguiram ter uma ótima química. Deste modo, o foco é realmente outro, conquistando a empatia do espectador e fazer com que o mesmo enxergue as coisas como a protagonista.
Porém, sem muito desespero ou drama, subliminarmente faz com que o espectador seja guiado no sentido de que, vai ficar tudo bem.
Ao final, conta a história de Irene, a garota radiante e cativante e não é exatamente sobre o nazismo.
A Garota Radiante é um filme que foge dos padrões dos filmes relacionados à segunda guerra mundial. A forma como se encerra, considerei um ponto positivo também. Sem apelos, mas impactante da mesma forma.
A Garota Radiante entrará em cartaz HOJE (30) nos cinemas do Brasil.