Hoje vamos falar sobre o novo filme A Guerra do Amanhã, que estreou ontem na Amazon Prime. Como de praxe, a crítica de hoje será sem spoilers, para não estragar a experiência de ninguém. Então, sem mais delongas, vamos começar essa análise!
O filme conta com a direção de Chris McKay (de Uma Aventura Lego, 2014), roteiro de Zach Dean (Um dia para viver, 2017), o ator Chris Pratt (Guardiões da Galáxia, 2014/2017) como protagonista, além de outros nomes mais conhecidos como J. K. Simmons (Homem Aranha, 2002; Whiplash, 2014) e Yvonne Strahovski (Dexter, 2006-2013; O Conto da Aia, 2017-2021).
Pois bem, eu tenho algumas considerações a fazer. O filme é divertido? É. Entretém o telespectador? Sim. Mas isso não o torna sem defeitos. Vamos começar falando da direção. A meu ver, a direção de Chris McKay se revela um pouco perdida em certos momentos do filme. Parece que ele quer entregar ângulos demais e acaba picotando as cenas para exibir “a cena por completo”, ao invés de fazer um plano sequência mais longo e linear. Mas, considerando que isso acontece somente em alguns momentos, não tenho muito a reclamar sobre, até mesmo porque a fotografia desse filme é maravilhosa. O diretor lança mão de alguns ângulos bem abertos de cima para baixo para dar ao espectador algumas cenas belíssimas, e outras em que o ângulo favorece uma maior noção de volume, intensificando a tensão. Sensação essa que o filme consegue transmitir muito bem.
Minhas maiores críticas são em relação ao roteiro, que, infelizmente, se prende muito aos clichês dos filmes de ação, às conveniências oportunas, e ao poder do protagonismo. Sim, todos sabemos que virou normal em filmes de ação você precisar ter um maior nível de suspensão de descrença, ou seja, você sabe que aquilo não é real (ou é muito difícil de acontecer), mas ainda assim acredita, pelo bem da trama. Só que em determinados momentos esse filme exigiu isso demais da minha pessoa (e olha que eu assisti Mortal Kombat [2021] e achei divertido), o que me fez ficar um pouco reticente. Quanto aos clichês, não achei de todo ruim não. O filme parece brincar com eles o tempo todo, quase como se fosse uma homenagem aos demais filmes de ação, ao invés de mais uma cópia genérica. E nesse ponto a trama consegue mostrar a que veio, porque devido ao fato dele não se levar muito a sério, ele utiliza diversos clichês sem tropeçar em nenhum deles, dando ao filme um certo ar cômico (ou previsível, dependendo do espectador) que tende a agradar quem assiste.
A trama tem o nível certo de ação, suspense, sci-fi e drama, apesar dos atores serem obrigados a agir de forma burra em determinados momentos, revelando, a meu ver, uma certa preguiça de roteiro.
Quanto ao poder do protagonismo, temos aqui um Chris Pratt bastante heroico (às vezes até demais), porém um pouco caricato, pelo menos na minha visão. Ele consegue entregar bem as cenas de ação e as com uma certa carga dramática, mas não o suficiente para fazer com que o filme perca o leve ar “cômico” que carrega, uma vez que o ator é naturalmente carismático e engraçado. Dan Forester, depois do começo da treta toda, vira um típico protagonista de filmes de ação, e acho que não preciso dizer muito além disso. Você até chega a temer pela vida do personagem em alguns momentos, mas nada que realmente te deixe preocupado.
Toda a relação de Dan com sua filha Muri, interpretada por Ryan K. Armstrong, me lembrou muito a relação existente em Interestelar (2014). O conceito do pai que ama sua filha e está disposto a salvar o mundo para proteger seu futuro se assemelha bastante, porém em A Guerra do Amanhã temos menos drama nesse quesito.
No que diz respeito aos personagens com maior tempo de tela, todos entregam boas atuações, transmitindo bastante os sentimentos evocados em cada cena, tornando o filme mais “cheio” (apesar da trama em si ser relativamente simples). Dentre esses personagens eu gostaria de citar o Charlie, papel do Sam Richardson. Esse personagem, pra mim, foi o mais relacionável de toda a trama. Ele representa como eu, se fosse convocada para uma guerra futurista, agiria e reagiria. Em diversos momentos ele rouba a cena, mesmo atuando ao lado de Chris Pratt, com uma atuação muito crível e engraçada. Temos também o personagem de J.K. Simmons, que, apesar do seu pouco tempo de tela (considerando os 138 min do longa), nos entretém com uma atuação boa e bastante realista, apesar do drama familiar levemente exagerado. Contudo, achei que grande parte dos demais personagens são bastante esquecíveis. O roteiro até tenta nos fazer preocupar com eles, mas, infelizmente, isso não acontece.
E por falar em 138 minutos, acho que o filme podia tranquilamente ter 1h40, ao invés de 2h18. O arco intermediário do filme poderia ser reduzido, uma vez que ele parece meio arrastado depois de certo tempo. Já que o filme tem tantas conveniências oportunas, ele poderia usar isso a favor de deixar a trama mais dinâmica, economizando tempo de tela e agilizando a resolução dos problemas.
Quem vê eu falando assim acha que eu detestei o filme hahahaha, mas calma, gente. Estou só analisando os elementos que eu percebi. Mas pra ninguém achar que o filme é ruim, agora eu vou falar das coisas que eu realmente gostei:
Achei a ambientação do filme muito boa. O uso predominante de cores frias nos cenários do futuro mostra o quanto o mundo acabou e está “sem esperanças”.
O visual do mundo pós-apocalíptico consegue fugir dos estereótipos que já vimos nos cinemas, sendo bastante impactante visualmente e realmente gerando uma angústia no espectador ao se imaginar no lugar daquelas pessoas.
Achei muito bacana o conceito e as implicações de viagem no tempo que são utilizados no filme, além do fato deles explicarem de forma breve algumas questões como paradoxos temporais e “como funciona o salto temporal”.
O CGI do filme todo está muito bom, mas o design dos aliens eu achei INCRÍVEL. Realmente te dá medo de imaginar ficar cara a cara com aquelas criaturas, que, na minha cabeça, parecem uma versão superdesenvolvida de um facehugger.
O filme não tem medo de matar personagens, isso eu achei muito bom também. Em alguns momentos você acha que ninguém vai morrer, mas o kill counter vai lá em cima. Aprecio os filmes que tem coragem de fazer isso.
A trilha sonora do filme também acrescenta muito à cada cena, aumentando e mantendo o sentimento que temos com o que estamos vendo.
Gostei dos plot twists da trama. Alguns me pegaram de surpresa, outros não, mas todos foram bem aproveitados de alguma forma.
As cenas de ação são muito legais e bem feitas, e a quantidade de criaturas realmente favorece para que você se sinta tenso e amedrontado em vários momentos.
O filme tem um pouco demais de dramas familiares, e basicamente são eles que ditam o ritmo do andamento da história, mas é um drama que não chega a ser cansativo, e na verdade te coloca torcendo pelos personagens sem que você perceba.
Acho que já falei até demais e é hora de parar por aqui. Então, meu resumo é: é um filme legal, padrão Hollywood, que diverte, entretém e prende o espectador até o final para saber o que acontece, apesar de todos os clichês. Se você for mais crítico (como eu) você pode acabar se prendendo às “falhas” do filme e perdendo parte da diversão, mas se você for do tipo que desliga o cérebro e não fica esperando muita lógica o tempo todo, com toda a certeza você vai gostar.
Obviamente eu recomendo que todos assistam para que tirem suas próprias conclusões, e depois deixem aqui nos comentários se vocês concordam comigo ou não.