As lendas urbanas fazem parte do imaginário popular, cada país, cada estado, cada cidade, cada sociedade, de tempos em tempos podemos encontrar as lendas mais bizarras rondando as pessoas, em geral lendas de terror. O cinema conseguiu aproveitar muito bem isso e criar um universo próprio onde tais histórias são tele transportadas para a telona.
Dirigido por Nia daCosta, o terror de Candyman se refere a uma lenda urbana bastante popular nos Estados Unidos, sobre um assassino sobrenatural com um gancho no lugar da mão, que pode ser invocado por quem quer que ouse repetir seu nome cinco vezes em frente a um espelho. Na tela é possível ver que tanto Nia quanto o produtor Jordan Peele tentam produzir uma versão bem contemporânea, cheia de referências a cultura e a sociedade atual, os dramas, as dores, as ansiedades, os conflitos internos e externos, tudo dentro de um terror inteligente e bonito de se ver.
A história se ambienta no bairro Cabrini-Green, em Chicago, um bairro que atualmente abriga novas mentes brilhantes, artistas, jovens em busca de reconhecimento e dinheiro, mas que outrora abrigava um conjunto popular de pessoas pobres e que presenciaram pela primeira vez a presença sangrenta do Candyman, ou pelo menos é o que achavam. Nesse contexto é apresentado ao espectador o artista visual Anthony McCoy (o vencedor do Emmy, Yahya Abdul-Mateen II, de Watchmen, Nós), e sua parceira, galerista de arte, Brianna Cartwright (Teyonah Parris, de WandaVision, Se a Rua Beale Falasse), e numa busca pelo novo estilo de pintura Anthony é apresentado a lenda do Candyman, e a partir desse ponto tudo muda.
Um dos pontos mais interessantes da história é justamente a mescla dos problemas sociais de séculos passados com os problemas atuais, como a conjectura não mudou tanto assim. O filme traz fortes críticas sociais, principalmente em relação ao racismo, um assunto importante a ser discutido dentro e fora da tela, mas que ganha tons de terror em função da lenda, deixando tudo muito mais intenso. Nia conseguiu fazer com que o ritmo das cenas ficassem quentes com o uso inteligente dos reflexos e dos espelhos durante quase todas as cenas, inclusive, necessita de bastante atenção para não perder os detalhes. Uma fotografia que varia do frio ao quente dependendo da cena é usada quase o tempo todo, porém, se perder do meio para o fim, gerando um pouco de frustração.
O ponto mais baixo consegue ser justamente na história, que por sem bem complexa deixa o filme muito confuso. O roteiro peca em saber dividir as histórias e peca na convergência delas na tela, pairando sempre a dúvida a respeito de que fase está se assistindo, em quais passados e quais personagens o presente está se baseando. É preciso um trabalho muito grande de montar os pedaços e justamente por isso muito do terror inteligente fica perdido, criando um vácuo na sensação que o terror geralmente consegue trazer ao público.
Em linhas gerais o filme agrada, é um terror inteligente com uma história forte, impactante e que consegue fazer pensar. Peca em não conseguir alinhar a lenda a todas as histórias dentro dela, e peca ao não conseguir preencher várias lacunas que ficaram vazias, histórias mal contadas que foram jogadas ao meio de tantas outras, preferindo abordar várias frentes deixando de dar ênfase as mais importantes.