A Mulher que Fugiu é o mais novo filme do diretor Hong Sang-Soo que é conhecido por suas produções únicas e simples. Contudo, por trás de todo o enredo que compõe a trama se vê uma mensagem disfarçada. O filme que foi exibido na mostra competitiva do Festival de Berlim de 2020, garantiu ao diretor o prêmio Urso de Ouro como Melhor Diretor.


No início, a trama pode parecer um tanto quanto “amadora” ou com “baixos recursos”. E isso se dá pelo fato da sensação de apenas uma câmera, que se demonstra em todo o filme. Com um uso excessivo de zoom que deixa os espectador com a certeza dessa ideia. Porém, no decorrer da história percebemos que essa é uma das inúmeras mensagens que o diretor deseja passar.

A galinha, o gato e a vaca

Não podemos negar que inúmeras mensagens estão presentes no decorrer da trama. Contudo, as mensagens que mais se destacaram foram: a galinha, o gato e a vaca. Apesar de serem apenas animais, o diretor conseguiu abordar com inteligência alguns assuntos que fazem parte da nossa sociedade. Por exemplo: o galo que “abusava” de seu poder, sendo o único galo no galinheiro. Na trama, é citado que o mesmo é um galo mau que maltrata as outras galinhas só para demonstrar poder. O que acaba refletindo a uma sociedade que maltrata os mais “fracos”, para comprovar a sua autoridade. 


Bem como, o gato e a vaca que são mencionados no decorrer da trama. O gato, retratando uma sociedade que se importa mais com os animais do que com as pessoas. E o da vaca, que representa uma sociedade que tem dó mais que sacrifica para saciar os próprios desejos. Refletindo a uma sociedade que se contradiz, e ao mesmo tempo se vê perdida em suas escolhas.

Viver, comer e conversar

E apesar de mencionar inúmeros assuntos importantes, não para uma sociedade geral, mas para se tornar uma lição para a vida do espectador. Ao ponto de cada detalhe que compõe a produção ser intimista e especial, contudo, a mensagem principal que o diretor desejava passar ficou bem explícita ao público em cada cena. A importância e a necessidade que temos de conversar e de compartilhar uma refeição ou bebida. Em uma era de pandemia e isolamento social, nos esquecemos de como é viver socialmente com outras pessoas. E isso e outras situações fazem parte da carência do ser humano, para que continue a viver. 

Conversar em A mulher que fugiu
Foto: Pandora Filmes

Tranquilidade

Obviamente, essa era a intenção principal do diretor e também roteirista Hong Sang-Soo. De retratar as necessidades do ser humano, sem deixar de lembrar que cada pessoa tem sua própria história e diferenças. Ao mesmo tempo que alguém está vivendo um divórcio, outra pessoa pode estar em um casamento feliz e apaixonado. A diferença faz parte da vida. E isso não é sinônimo de fraqueza ou fracasso, mas apenas singularidade.

Mas apesar de toda necessidade social que temos, ainda assim a tranquilidade é tão necessária quanto. O silêncio e a quietude, fazem parte da calmaria que necessitamos como ser humano. E, isso deve ser respeitado por nós mesmos. O nosso espaço, o nosso tempo, o nosso silêncio. A nossa própria tranquilidade.

Tranquilidade em A mulher que Fugiu
Foto: Pandora Filmes

Mesmo que, a mulher que fugiu tenha sido mencionada apenas uma vez na trama, ainda assim, nos mostra os diversos elementos do cotidiano que nos fazem “fugir”. Nisso, como a protagonista menciona em determinado momento da trama, afirmamos do mesmo modo. “ O filme é tranquilo, ao ponto de ser confortável e legal. Enfim, é um bom filme.”

Por fim, deixamos a citação marcante do diretor do longa: “ A vida, assim como a existência, sempre superam qualquer generalização.”