Dados da 4° edição da pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil mostram que, em 2022, mais de 18 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência no país.
Enquanto isso, mundialmente, uma em cada quatro mulheres sofre violência doméstica ao longo da vida, indica a revista científico The Lancet.
E é em meio a essa crescente onda de crimes contra o sexo feminino que o longa-metragem A Negociadora da A2 Filmes chega para o público.
Entendendo A Negociadora
Em A Negociadora, Anya Stoy, uma assassina secreta, decide fazer justiça com as próprias mãos ao descobrir que duas de suas amigas foram torturadas até a morte durante um passeio pelo Marrocos.
Sob o falso nome de Mya Snik, ela vai até o país a fim de vingá-las. Lá, ela descobre que a situação é muito mais complicada e sombria do que aparentava ser.
Isso porque as mortes foram apenas as mais recentes de uma longa série de assassinatos sádicos ordenados por um sindicato do crime que criava, na internet, grupos de ódio contra as mulheres e publicava vídeos delas sendo brutamente assassinadas.
Com isso, desde os seus primeiros minutos, A Negociadora já apresenta uma valiosa lição para àqueles que estão assistindo. Por mais que as pessoas ao seu redor não cometam crimes com as próprias mãos, não significa que elas não os vejam on-line.
É inclusive exemplificado e mostrado durante todo o filme a presença de trolls em chats virtuais instigando que mais crimes como os praticados contra as amigas de Anya aconteçam.
Isso, por si só, já mostra como, rotineiramente, as mulheres ao redor de todo o mundo estão sujeitas a diferentes tipos de violência vindas dos mais inesperados lugares. Esta é, inclusive, a principal mensagem deixada pelo filme, ao lado da premissa de que sempre há alguém, dentro da lei, combatendo tais situações em busca de um futuro melhor, mesmo que as soluções tomadas por essas pessoas não sejam tão palpáveis.
Para além da temática, os critérios técnicos
Ao pensar em algum dos principais pilares da construção de um longa-metragem, é possível perceber que A Negociadora possui falhas em seu roteiro e direção. Isso porque o filme desenrola sem muita explicação do que está sendo mostrado, gerando dúvidas para quem o está assistindo. É claro que nenhum longa-metragem deve entregar toda a sua história no início, mas muito do que ocorre neste não tem um pano de fundo.
Um grande exemplo disso é como a personagem principal caiu neste mundo de assassinatos secretos. Desde quando ela faz isso? Quem está por trás dessa organização da qual ela participa?
Outro ponto importante é que o filme possui diálogos rasos, que não agregam o suficiente a construção da história. Com isso, acredito que um dos poucos acertos do longa-metragem, dentro destes critérios, seja a construção de Vance Wilhorn. Apesar de rápida, foi suficiente para entender o personagem. Indo além, os cenários de A Negociadora são deslumbrantes, e a produção apresenta boa fotografia.
Escolha de título é errônea
Em inglês, A Negociadora chama-se The Moderator, o que faz mais sentido para a história que está sendo contada. Isso porque, durante as investigações, os agentes responsáveis pela fiscalização da plataforma utilizada pelos trolls deparam-se com uma moderadora excluindo os perfis da rede. Não é claro, contudo, se ela deleta as contas apenas dos homens que matou, ou se a seleção é feita de forma aleatória.
De qualquer maneira, a palavra negociadora não faz jus ao roteiro, visto que em momento algum ela tenta realizar negociações. Pacifismo, inclusive, não é uma palavra de seu dicionário.
Mas, afinal, vale a pena ver A Negociadora?
Caso você tenha paciência para assistir um filme não tão bem construído e com fracos perfis de atuação, mas que apresenta uma temática que precisa ser discutida e que irá agregar em sua bagagem, a resposta é sim.
Do contrário, acredito que você não deva vê-lo apenas para poder criticá-lo futuramente. Isso porque, mesmo não sendo um masterpiece, o filme não deve ser desmerecido.