A Sociedade Da Neve é um retrato fiel e impactante da maior tragédia aérea na Cordilheira dos Andes. Em 1972, um avião se chocou contra a Cordilheira, do qual apenas 16 de 45 pessoas a bordo sobreviveram. Com uma narrativa emocionante e envolvente, as 2h25 de filme provocam a atenção exclusiva do espectador, sem que ele consiga tirar os olhos da tela enquanto torce pela sobrevivência dos personagens. Ainda, o filme apresenta o quão impressionantes são os limites físicos e psíquicos humanos.
Retrato real de uma tragédia real
Em 13 de outubro de 1972, um avião da Força Aérea do Uruguai com jogadores de rúgbi uruguaios e suas famílias se chocou contra a Cordilheira dos Andes, uma das mais extensas cordilheiras do mundo. A bordo, estavam 40 passageiros — jogadores, treinadores, familiares e torcedores — e 5 tripulantes rumo a Santiago, capital chilena.
No entanto, o voo 571 não conseguiu seguir sua rota original. De acordo com a revista História National Geographic, da Espanha, as condições climáticas do ambiente estavam tão ruins que fizeram com que os pilotos Julio César Ferradas e Dante Héctor Lagurara forçassem um pouso na Argentina. No dia seguinte, apesar de as condições climáticas continuarem ruins, eles decidiram alçar voo de qualquer maneira em direção ao Chile. Pouco tempo depois, o avião se chocou contra os Andes, perdendo as duas asas e se separando da cauda.
Roteiro envolvente
O roteiro de A Sociedade da Neve se inicia com um trecho de um jogo de rúgbi do time escolar Old Christians Club, de Montevidéu. Já na primeira cena, conhecemos como é a equipe: jovem, unida e parceira. Não demora muito para que os personagens já estejam no aeroporto se preparando para uma viagem para o Chile: uma viagem internacional que poucos do grupo já haviam feito.
A trama se centraliza em alguns passageiros: Numa, Tintín, Roy, Marcelo e Carlos, todos atletas. Cada pessoa com sua característica marcante: alegria, religiosidade, sensatez e razão equilibraram a trama para que houvesse um roteiro envolvente. Assim, o roteiro aposta na narração de Numa, que, como narrador personagem e onipresente, guia o espectador por toda a história.
Então, a partir do momento do acidente, o longa acompanha o medo dos primeiros ferimentos e a dor das primeiras perdas. Dessa maneira, o roteiro fez uma boa distribuição de tempo de tela para que os personagens fossem explorados enquanto lutam pela sobrevivência e enfrentam dores e dilemas éticos pela fome, como a antropofagia. No entanto, o roteiro não apostou no sensacionalismo ou drama afim de convencer o espectador.
Algo que valorizou muito a veracidade da trama foi que, além de se basear em notícias sobre o trágico acidente, o longa se baseou em um relato pessoal. Isso porque o roteiro se baseou no livro “A Sociedade da Neve”, do sobrevivente Pablo Vierci, que também ajudou na produção.
Elenco e direção acertados
Além disso, o elenco do filme foi uma aposta de extrema inteligência: rostos não tão conhecidos e similares aos rostos reais dos sobreviventes provocam uma imersão e credibilidade gigantesca. Dessa maneira, a sensação que passa é como se aquilo que assistimos tenha sido filmado em tempo real.
Seguindo a ordem cronológica da tragédia, sobrevivência e resgate, os atores evidenciaram bem o desespero, medo e dor. Apesar de todos não possuírem uma grande carreira no ramo da dramaturia, eles surpreendem na atuação. Também é possível notar similaridade entre os atores e as vítimas da tragédia com imagens disponibilizadas ao final da trama.
De acordo com o diretor Juan Antonio Bayona, escolha de elenco pouco conhecido foi proposital. Para ele, “Não ter rostos conhecidos ajuda para que a experiência dê realismo ao filme”. Assim, sua direção foi um acerto, de maneira que os focos da gravação ressaltaram elementos essenciais para a atenção e sensibilidade. Sua direção impecável não é uma surpresa, já que ele já trouxe às telas o retrato da tragédia do tsunami na Tailândia em O Impossível, de 2012.
Caracterização e fotografia convincente
A caracterização dos atores é impecável. Apesar de não explicitar ferimentos abertos, o visual do elenco e os efeitos visuais do longa fizeram com que fosse possível notar a passagem do tempo até o resgate, com sujeira, ferimentos e magreza que escalam em meio ao frio congelante, além de apresentar todos os destroços do avião.
Além disso, a fotografia e o cenário promoveram um retrato quase documental da tragédia. O local escolhido para as filmagens foi a própria Cordilheira dos Andes, perto do local do acidente, de maneira que a produção esteve imersa nas condições climáticas da região. Ainda, cada item de memória, como as fotografias, bilhetes e itens pessoais evidenciaram a humanização de cada uma das vítimas — as quais, é válido lembrar, representam vítimas reais.
Vale a pena assistir A Sociedade Da Neve?
Com certeza. A Sociedade Da Neve é uma obra de arte que envolve, choca e emociona, sem nenhum exagero. Arrisco dizer que o filme merece vencer as categorias de Melhor Filme Internacional e Melhores Efeitos Visuais, as quais fora indicado ao Oscar.
A Sociedade da Neve está disponível no catálogo da Netflix.