Que a cinebiografia de Amy Winehouse seria um escândalo, já era esperado. Mas que o longa traria a história da cantora com tanta sensibilidade e honra foi uma surpresa. Back to Black, a mais nova produção de Sam Taylor-Johnson com Marisa Abela arrasando no papel da cantora que avassalou o mundo com sua voz e sua partida em 2011.
O filme, apesar de ser uma biografia, não tem um caráter documental. A obra trás um recorte da vida de Amy, desde o momento em que, aos 18 anos, inicia um contrato com a primeira gravadora, até o momento em que uma intoxicação alcoólica a leva de sua realidade, aos 27. Assim, a personagem-pessoa é representada com todas as sutilezas de um ser humano, de maneira a desvincular a verdadeira Amy da imagem de dependente química que restou no imaginário popular.
Construção da personagem-pessoa e retratação
O longa se inicia com Amy Winehouse em interações com sua família, um pilar extremamente crucial para a cantora e para o entendimento do curso da história. Assim, é representado o quanto ela era uma “pessoa família”. Ela era muito próxima de seus pais, que já não mais tinham um relacionamento, e principalmente da sua avó “Nan” Cynthia, protagonizada por Lesley Manville.
Aqui, nota-se a maneira com que rachuras nas vidas dessas pessoas provocou rachaduras instantâneas na vida de Amy, quase como um espelho. E não apenas isso: como a intensidade de Amy amando essas pessoas volta como amargura e necessidade de preenchimento quando essas relações já não existiam como antes.
Assim, podemos compreender os passos que levaram Amy à dependência química. O longa apresenta como ela foi de uma pessoa que só utilizava cigarros de maconha para recreação, a alguém que se viu na necessidade de se emerger em drogas pesadas na ânsia de “compensar algo”.
Back to Black como o constante retorno à tristeza
Como referência à canção “Back to Black”, lançada em 2006 por Winehouse, o filme retrata as tentativas de melhora e recaídas. Assim, tanto na tristeza, quanto ao luto e nas drogas. Tal como na canção tema, é interessante observar os momentos da vida da cantora em relação às composições, sendo elas marcos importantes na transição de momentos.
Em destaque, nota-se a canção Stronger Than Me, como a primeira de Amy que ganhou a atenção do público. Além dela, Valerie, Rehab e, é claro, Back to Black ganharam seu espaço na cinebiografia. Aqui, cabe destaque à potência na atuação e performance vocal e de palco de Marisa Abela. A atriz conseguiu retratar, com bastante intensidade, as nuances da cantora tanto na composição, quanto na performance e sentimento das canções. Sem dúvidas, a sutileza de detalhes da cantora,
Direção e roteiro em sintonia perfeita
Além disso, a expressão corporal da cantora foi algo bastante presente na direção e roteiro para demonstrar os sentimentos e vivências de Winehouse. Assim, tanto a inclusão de uma nova tatuagem, um novo corte e estilo de cabelo, além do figurino, se faz como uma maneira de demonstrar o estado mental da cantora.
Dessa maneira, a parceria entre a direção de Sam Taylor-Johnson e o roteiro de Matt Greenhalgh se mostrou extremamente potente. Tanto a doença da Nan, quanto o conturbado relacionamento com Blake (Jack O’Connell) e na relação complicada com o pai, Mitch Winehouse (Eddie Marsan), a trama segue de maneira balanceada, sem nunca tirar o protagonismo de Amy.
Vale lembrar: a história, apesar de roteirizada, parte de uma história real. Então, há uma linha tênue entre julgamento das ações de personagens e ações de pessoas reais envolvidas na vida da cantora.
Vale a pena assistir Back to Black?
Sim, mil vezes sim. Toda a construção de direção, roteiro e atuação no filme Back to Black trouxeram à tona uma representação livre de estigmas de Amy Winehouse.
Isso porque, infelizmente, muito do que restou no imaginário das pessoas que acompanhavam o cenário musical durante os anos 2000 são as imagens de Amy Winehouse em situações de extrema vulnerabilidade. E o filme veio para trazer um novo olhar sobre a verdadeira Amy Winehouse por trás da cortina de vícios.