A espera da nova promessa do Brasil no Oscar acabou. O filme ‘Ainda Estou Aqui’ entrou em catálogo e consegue prender quem assiste do início ao fim. Com um elenco potente, uma trilha sonora que encaixa com o contexo e uma fotográfia incrível, ‘Ainda Estou Aqui’ tem o conjunto completo para uma boa obra.
‘Ainda Estou Aqui’ se passa durante a Ditadura Militar e aborda a história de Eunice Paiva, uma mãe de 5 filhos, casada com o ex-deputado Rubens Paiva. Apesar de se afastar da política, Paiva é convocado para ‘depor’, depois de um tempo, Eunice também é convocada. Então, a história tem como foco a procura de Dona Eunice pelo marido e como lidou com ‘esse sumiço repentino’, em epóca de Ditadura, com os seus filhos.
Alerta de Spoiler: a seguir haverá spoilers do filme “Ainda Estou Aqui”. Leia por sua conta em risco.
Roteiro
O filme é baseado em fatos reais de Eunice e sua família. Casada com Rubens Paiva, Eunice teve sua vida perfeita transformada em um ‘inferno’ quando os militares levam Rubens. A história com a nuance do audiovisual torna o roteiro incrível, ao qual conseguimos entender o lado de uma esposa e mãe que passou anos sem concluir a história sobre seu marido em uma época repleta de opressão.
Portanto, podemos dividir a história de Eunice em três partes: a primeira em como era a sua vida em 1970, ao lado do marido e dos filhos; a segunda quando Rubens, Eunice e sua filha Eliana são levados para o quartel e a terceira com o desfecho, ainda sem um ponto final, do que realmente aconteceu com Rubens Paiva.
Abordando sobre a primeira parte, entendemos a união e parceria que há na família. Sendo a representação da tradicional familia brasileira, vivendo a beleza do Rio de Janeiro, entendemos que a família Paiva era uma família comum. Porém, em alguns momentos com Rubens notamos que há sim um envolvimento por parte dele em enfrentar, de forma silenciosa, a opressão da Ditadura Militar.
Nesse primeiro momento conseguimos notar a percepção do roteiro em apresentar a família, mas já dando alguns sinais do drama real do filme.
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A buscas por respostas
No entanto, esse mundo perfeito começa a desmoronar quando militares convocam Rubens para depor. A partir desse momento entramos na história sofrida de Eunice em achar respostas do que os ‘milícos’ fizeram com seu marido. É nessa parte também que a filha do casal, Eliana, ganha notoriedade no roteiro. Mesmo não se envolvendo diretamente, ela também é convocada para depor e nesse momento sentimos a angustia do roteiro.
Essa angustia do roteiro se intensifica quando Eunice está no quartel. Dia após dia ela é questionada sobre as pessoas que são contra a Ditadura Militar. Apesar da gente entender o porque que ela está lá e os dias repetitivos e cansativos, em nenhum momento o filme foca na tortura, mas sim em mostrar que independete do envolvimento, viver nessa epóca foi uma dor imensa para os brasileiros.
Com um ciclo mais demorado, até porque a história é para falar da Ditadura Militar e a procura de Eunice por respostas, o roteiro nessa parte soube responder os questionamentos que ficam em aberto no inicío do filme. Como até onde vai o envolvimento de Eliana com a resistência, o que aconteceu com Verônica e como ela descobre da prisão dos pais, além da carga emocional dos outros filhos por não entenderam o que está acontecendo.
Além disso, também foca na Eunice descobrindo sobre a resitência, o que seu marido fazia e como ela passa a buscar por Rubens. E tudo isso acontece enquanto ela tenta manter a integridade dos filhos. O roteiro consegue abrir os olhos para uma mãe que é forte para os seus filhos mas que também desaba quando enfrenta tudo sozinha.
O “alívio” pelo atestado de óbito
A terceira parte se inicia quando Eunice recebe a notícia que seu marido está morto, assim ela decide ir para São Paulo começar uma nova vida, mas sem perder as esperanças de ter um ponto final nessa história. Então o filme dá um salto de 1970 para 1996, nesse ano Eunice está formada em Direito e os únicos filhos que aparecem é Beatriz e Marcelo.
Mas por que 1996 é um ano importante para o filme? Bom, em 1996 marca o ano que Eunice e sua família recebe o certificado de óbito pela morte de Rubens durante a Ditadura. Em uma cena emocionante com a imprensa, Eunice enfatiza que ‘está aliviada por receber uma certidão de óbito’ e como isso é doido, pois ela sentiu ‘feliz’ em terminar um ciclo sem respostas. Mesmo sem todas as questões respondida, agora ela pelo menos tem a certeza que seu marido morreu.
Após o fechamento desse ciclo, o roteiro dá um novo salto para o ano de 2014, com Eunice já idosa. Sendo a cena final do filme, quando passa uma notícia sobre a Ditadura e foco no rosto da personagem, agora interpretada por Fernanda Montenegro, que sem ter nenhuma fala, ela capta todos os sentimentos de angustia e o alívio que Eunice viveu por anos. A história termina assim, com o atestado de óbito de Rubens mas com questões que nunca foram respondida durante a Ditadura. Isso foi o caso de Rubens e Eunice mas também de diversas outras famílias que seguem sem respostas.
Elenco
Depois de abordar o roteiro, precisamos focar o elenco. Afinal, o filme teve Fernanda Torres interpretando Eunice; Selton Melo dando vida a Rubens Paiva e Fernanda Montenegro sendo a Eunice idosa. Só esses três nomes deixou o elenco em peso, mas o resto do elenco completou o que já era bom, deixando a sinergia do filme perfeita.
Dando vida aos filhos de Eunice e Rubens, os atores conseguiram entregar a personalidade e emoção em seus personagens. O elenco teve uma química boa, deixando o filme atrativo e interessante de assistir, pois as atuações estavam realmente incríveis.
Falar do elenco e atuação e não citar Fernanda Torres é um grande erro (haha). A atriz entregou de corpo e alma a personagem, sendo uma mãe babona e uma esposa preocupada, ela também conseguiu ser uma mulher forte e centrada. A forma como a atriz trabalhou Eunice te prende no filme, você fica com a vontade de saber logo o que acontece na próxima cena e em como ela vai abordar a personagem em determinadas situações. Acredito sim que a Fernanda Torres possa ser um nome pensado para o Oscar de ‘Melhor Atriz’.
Fotografia e direção
Para o filme ser um obra prima, além do roteiro e do elenco, foi preciso uma fotografia que encaixasse. Em ‘Ainda Estou Aqui’ as cenas se completavam, nos momentos de tensão as posições, construção e montagem nos prendia em cada take. Como também os momentos de alegria e descontração.
Mas uma coisa interessante no filme estava com a filmagem de uma câmera antiga, gravada por Verônica, filha mais velha do casal. Aspirante a cinema e registrando o contidiano, essas cenas tinham conexão com a história, sendo um jogada interessante para o filme, pois mostrava também a visão dos filhos em relação a tudo que acontecia.
A direção de Walter Salles fez toda a diferença na composição das cenas. O diretor explorou todos os limites e alcances possíveis para o filme, dando vários sentimentos ao decorrer do longa.
Trilha Sonora
Durante a Ditadura Militar aconteceu a censura dos veículos de comunicaçao e a música acabou sendo afetada também. Em uma apóca com grandes nomes do MPB, o filme conseguiu usar a trilha sonora exata para cada cena. Uma playlist com Gal Costa, Eramos Carlos, Tim Maia, entre outros, fica impossível ser ruim (haha). Foi satisfatória notar como as músicas se completava com o contexto.
Vale a pena assisitir “Ainda Estou Aqui”?
SIM! ‘Ainda Estou Aqui’ é uma das melhores produções do Brasil. O roteiro conseguiu explicar uma outra vertente da Ditadura Militar e trouxe com maestria a história de Eunice e sua família. Então, se você estava em dúvidas de assistir, se arrisque, pois vale super a pena conhecer a história de Eunice.
A produção é um forte concorrente para a categoria ‘Melhor Filme Estrangeiro’ no Oscar. Além disso, o nome da Fernanda Torres também vem forte para a premiação, pois a sua atuação merece sim estar aos olhos da academia.
‘Ainda Estou Aqui’ estreou dia 7 de novembro nos cinemas cinemas brasileiro.
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