Alguns filmes nunca mais saem da nossa memória, alguns habitam nosso imaginário e nos acompanham pela vida toda. Lembro como se fosse hoje quando assisti pela primeira vez Alien: O Oitavo Passageiro, com aquele ser incrivelmente feio e aterrorizante. Agora, quase 30 anos depois da última aparição solo do Xenomorfo em Alien: Ressurreição, aparentemente Fede Álvarez decide ressuscitar de vez a franquia.
A história
As empresas Weyland–Yutani colonizaram vários planetas para mineração e exploração de recursos, e com isso alocou uma legião de trabalhadores para essas tarefas. Em um desses planetas, um grupo de jovens, Rain, Navarro, Tyler, Bjorn, Kay e Andy, tentam escapar do trabalho quase escravo e tentar uma vida melhor em outro planeta. Para isso eles terão que invadir uma nave estacionada na órbita e recuperar um material capaz de ajudá-los durante a fuga. O que eles não contavam, era encontrar nessa nave um dos monstros mais aterrorizantes que já viram, um xenomorfo sedento por sangue.
Rain é irmã de Andy, e quer fazer de tudo para proteger ele dos perigos do planeta, assim como ele, um sintético, tem uma única diretriz, proteger Rain. Ao longo da trama vamos descobrindo mais sobre a relação entre os dois, que é um dos elos mais importantes do filme. Tyler, que se apresenta como um líder do grupo, tenta fazer de tudo para que o plano dê certo, principalmente para proteger sua irmã, Kay.
Fazendo referências a quase todos os filmes anteriores, é importante dizer que Alien: Romulus não é continuação de nenhum filme anterior, apesar de utilizar um evento de Aliens (1986) para explicar a presença do xenomorfo na nave. Outras referências podem ser encontradas ao longo de todo o filme, o que é muito interessante para criar aquela sensação de afinidade e reconhecimento. Esse longa lembra bastante o original de 1979, que acontece em uma nave, com poucas pessoas, lutando contra um monstro.
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Roteiro privilegia a novidade e a juventude dos personagens
Uma das características mais notáveis do filme é o elenco jovem, algo que difere muito dos filmes originais, a média de idade é 25 anos, sendo o ator do Andy, David Jonsson o mais velho, com 31 anos. Essa característica deixa o filme com uma linguagem mais moderna e pode agradar uma nova geração de fãs de Alien. Inclusive, o grande destaque é a atriz Cailee Spaeny, que recentemente esteve ao lado de Wagner Moura em Guerra Civil.
Alvarez é conhecido por filmes de terror como “A Morte do Demônio“, “Homem nas Trevas” e a releitura de “O Massacre da Serra Elétrica“, e seu jeito de fazer filmes fica bem evidente nas cenas mais importantes do longa. Para um amante do terror, ele precisou se reinventar para dar vida a essa ficção científica sem perder a mão, já que precisava seguir no mínimo um norte já deixado pelos outros filmes. Mas a sua experiência em terror, jumpscares e suspense, contribuiu para um filme Alien sombrio e cheio de boas reviravoltas.
E não somente terror, recentemente Álvarez disse em uma entrevista que é muito fã do jogo Alien: Isolation, e colocou alguns easter eggs dentro do filme. Esse tipo de acréscimo comprova sua intenção de deixar o filme mais próximo dos jovens, dessa nova forma de se comunicar por meio de jogos, redes sociais e roupas descoladas.
Porém, esse longa se desenvolve de forma independente, criando sua própria narrativa, seu próprio ritmo e estilo. O diretor quer deixar sua marca registrada nesse novo capítulo, assim como os diretores anteriores fizeram, alguns com mais sucesso e outros nem tanto. Os personagens têm mais bagagem de vida, com laços mais profundos e um entendimento maior sobre o que acontece nas colônias.
Filme moderniza história, mas deixa a desejar na inovação real
Apesar de considerar essa evolução trazida por Álvarez como um acerto, ao se distanciar demais dos filmes anteriores, ele correu um risco muito grande de desagradar os fãs mais conservadores. Isso porque, algumas sequências parecem ter saído de filmes adolescentes dignos do Disney Plus. Veja bem, até mesmo os filmes Alien vs Predator, que tentaram manter um certo padrão visual e de execução, pecaram no resultado. Mudar demais a essência de uma franquia já estabelecida, pode ser um erro.
Ao trazer para a tela jovens, sem nenhuma experiência em combate, sem nenhuma experiência de vida, para combater um dos maiores “vilões” do cinema, o roteiro peca muito. Para mim, o primeiro ponto de incômodo se dá na pressa do roteiro em estabelecer sua heroína, que consegue rapidamente aprender como combater esse inimigo surreal. Ora, para quem assistiu a Ripley (literalmente) apanhando para se livrar e se salvar desse xenomorfo, ver uma adolescente fazer o que a Ripley demorou três filmes para fazer, é meio desanimador.
E não é uma questão de saudosismo, mas de coerência cinematográfica, de respeitar uma lógica pré-estabelecida, que até mesmo os filmes mais fracos, como Prometheus e Covenant mantiveram. A batalha final e a criatura criada para este novo filme são as piores cenas, com uma releitura que mata toda a memória afetiva que temos das versões do Xenomorfo.
Resultado do filme é uma soma de acertos e erros, que funciona muito bem
Apesar de o roteiro do filme apresentar falhas, a fotografia e a sonoplastia impressionam desde o início do filme. É um dos mais belos da franquia até hoje, e com uma trilha sonora que acrescentam um ar de suspense e terror do começo ao fim. Álvarez misturou elementos dos mundos dos games, filmes de ficção cientifica atuais e um visual quase que instagramavel para deixar o ambiente perfeito para um filme desse calibre.
A trilha sonora de Benjamin Wallfisch criou um ambiente profundo, denso, obscuro, e carrega com sigo toda a carga emocional que os atores não podem expressar em palavras. E o diretor explora de maneira inteligente a mescla entre recursos práticos de filmagem e atuações convincentes dos atores. Cada passo, cada suspiro pode ser ouvido, uma mistura caótica de terror com ficção espacial, algo que remonta vários clássicos do cinema e da TV, como Predador, Arquivo X e Independence Day.
Vale a pena assistir?
Com certeza é um filme para se assistir no cinema, é uma experiência cinematográfica imersiva que vale a pena ser vista nas melhores telas, pois é um filme feito para Imax. Mas é importante dizer que o público que cresceu e viveu Alien, pode se incomodar muito com o roteiro e sua ânsia de criar uma nova heroína a todo custo. Mas, ao mesmo tempo, digo que é uma excelente oportunidade para quem não conhece ou não se aprofundou nos filmes anteriores conhecerem a franquia.
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