“Aos Nossos Filhos” é um daqueles filmes que falam de certos assuntos que ninguém mais quer falar. Claro, ao tratar de temas sensíveis, é de fato necessário ter certa sensibilidade e cuidado, principalmente nos dias de hoje. “Aos nossos filhos” é um drama de produção Franco Brasileira que conta a história de Vera, sua filha Tânia, e sua companheira Vanessa. Três mulheres com histórias diferentes, necessidades diferentes, traumas diferentes, mas uma coisa em comum, o olhar primordial da maternidade.

Adaptada de uma peça homônima, o filme conta a história de Vera, coordenadora de uma ONG que cuida de crianças soropositivas no Rio de Janeiro. Ela precisa lidar com as suas próprias contradições diante das escolhas de sua filha, que tem o desejo de ser mãe com sua companheira. Ao decorrer de todo o filme, serão tratados diversos temas que não somente sobre a relação entre as personagens. Com a direção de Maria de Medeiros, o longa também irá tocar na ferida da ditadura militar Brasileira. Melhor dizendo, os traumas causados pela violência extrema do tratamento dado aos cidadãos brasileiros durante aquele período, principalmente as mulheres. De acordo com a roteirista, esta história é baseada na sua própria experiência como mãe lésbica que também passou pelo processo de inseminação. Pra ela, o filme tem intenção de gerar identificação com essas questões importantes e sensíveis.

Atuações impecáveis

Marieta Severo é que a interpreta Vera, uma mulher machucada pela sua história, traumatizada pela sua prisão durante a ditadura, mutilada pelas experiências devastadoras que o exílio deixou em sua vida. É Claro, a atuação de Severo não poderia ser menos do que foi, afinal de contas, é uma das melhores atrizes que temos na dramaturgia Brasileira. Laura Castro, além de roteirista, atua como Lara, filha de Vera, uma jovem que pretende ser juíza e quer a todo custo ser mãe junto com sua companheira. Preciso dizer com toda sinceridade que não achei a atuação de Castro convincente. Em vários momentos parece ter faltado aquele tempero na mistura, algo que incomoda nas cenas mais importantes. Não, isso não quer dizer que ela tenha sido tão mal atriz, mas talvez tenha faltado a intensidade necessária que o ritmo do filme exigia.

aos nossos filhos

É bom falarmos sobre temas que parecem ser tabus para todos, como os relacionamentos homoafetivos, adoção de crianças por casais homoafetivos, e como ainda paira sobre esse assunto os mais perversos preconceitos. Quando paramos para pensar que em pleno 2022 ainda é necessário um filme como esse explicar de maneira didática que todos merecem ter uma família, e que o conceito de família não está na tradicional alidade, quase nos parece um retrocesso.

Ambientado no Rio de Janeiro, a ambientação do longa, de um lado uma favela violenta e sem presença positiva do estado, e do outro a burguesia e a nobreza dos bairros ricos da cidade. Esse contraste social também faz parte do enredo. Além disso o filme propõe uma reflexão sobre o perfil da adoção de crianças no Brasil. De um lado várias crianças abandonadas pela sua condição de saúde, portadoras do vírus da AIDS e abandonadas pelas suas famílias por isso. Do outro, temos um casal rico que deseja ter um filho e gasta todo seu dinheiro tempo e emoção para uma inseminação artificial. Óbvio, é justamente isso que a diretora e a roteirista Laura Castro querem expor na tela, existe desigualdade até mesmo na existência.

Vale a pena assistir “Aos Nossos Filhos”?

Por fim, o que me cabe dizer é que esse filme não fez sucesso no exterior atoa, essa história merece e tem de ser vista por todos, doa a quem doer. É de fato uma das histórias mais emocionantes que tive a oportunidade de escrever, porque ela nos mostra o quanto temos que evoluir ainda. Ainda em tempo, gostaria de terminar esse texto dizendo que de acordo com dados do CNJ, em 2021, existiam mais de 35000 crianças para serem adotadas no Brasil. Em sua maioria crianças que não têm um perfil preferencial da adoção, que são as crianças com menos de 2 anos. A maioria são de crianças maiores e adolescentes que não tem a oportunidade de fazer parte de uma família.