Com uma fotografia poética, filme Aos Pedaços é denso, confuso e vai deixar
a cabeça de muita gente aos pedaços
O noir e o experimental se encontram em Aos Pedaços, novo filme de Ruy Guerra e distribuído por Pandora Filmes. Seguindo uma narrativa complexa, o thriller dramático proporciona uma experiência peculiar, complexa e profunda para o seu telespectador. Entretanto, e meio a tanta complexidade, Aos Pedaços consegue apresentar um enredo que vai deixar a mente de muita gente em pedaços, seja pelo seu enredo e narrativa, ou então pelas questões existências que surgem em seu desenvolvimento.
Antes de tudo, com um elenco menor, Aos Pedaços conta com a presença de Arnaldo Antunes, Emílio de Mello, Simone Spoladore, Christiana Ubach e Julio Adrião. Além disso, o longa conta com a direção de Ruy Guerra, o qual também assina o roteiro ao lado de Luciana Mazzotti.
O longa gira em torno de Eurico Cruz (Emílio de Mello), um homem que tem duas esposas, uma chamada Ana (Simone Spoladore) e outra chamada Anna (Christiana Ubach), ambas vivendo em suas respectivas casas, as quais curiosamente são idênticas em todos os aspectos. Entretanto, em certo dia, Eurico amanhece irritado ao receber um bilhete, assinado por um A. Um bilhete que lhe anuncia sua morte. Ao procurar saber quem o ameaça, embaralham-se os espaços, as personagens, seus ódios, amores e suspeitas.
Com tanto ar de mistério e com promessas intrigantes, Aos Pedaços promete uma experiência singular ao seu público. Mas será que Aos Pedaços acerta? Ou melhor ainda: será que Aos Pedaços é bom?
O charme do noir em uma narrativa experimental e complexa
Diferente de muitas obras atuais, Aos Pedaços trabalha com um desenvolvimento peculiar. A narrativa e o enredo do filme ficam por conta de trama não linear, confusa e abstrata, dependendo dos esclarecimentos de um narrador observador – o qual a aparenta ser uma lagosta imaginária, apesar de não deixar claro.
O uso de um narrador é um elemento interessante e de super necessário aqui, afinal, é em meio a diálogos ora abstratos, ora desconexos, que o narrador traz uma luz, quebra a 4° parede para então orientar o entendimento do público.
Aliás, a quebra da 4° parede é um elemento que ocorre com frequência, ocorrendo sutilmente. Para tal sutileza, o longa recorre a elementos e atuações mais teatrais e escrachados, explosivos. Se o personagem está irritado, o narrador afirma ao público e logo em seguida o mesmo personagem fala com o telespectador.
São diversos elementos narrativos que enriquecem a narrativa. Uma narrativa que possui uma densidade poética, um estilo noir e gótico de se desenvolver. Porém, ao mesmo tempo, um desenvolvimento confuso e até abstrato, de modo a não se saber mais quem estava na cena.
A beleza de uma fotografia noir e poeticamente abstrata
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Um ponto altíssimo de Aos Pedaços está em sua fotografia. Em preto r branco, o longa traz um trabalho magnífico as telas, graças a sua construção de cenas.
O preto e branco é essencial para enfatizar a monotonia e a melancolia dos seus personagens. AInda, é pelo contraste que muitos mistérios e suspenses se enriquecem, tal qual o estado mental dos protagonistas, vivendo presos em uma vida baseada no preto e no branco.
Além das cores e do contrates, a construção de cenas, as transições e os cortes garantem um gancho que auxilia na narrativa do filme. Essa construção cinematográfica também ganha pontos pelos elementos abstratos e simbólicos que compõem as cenas. A ideia de que há algum traidor na cena e logo temos uma cena focada em uma cobra. Ou então, quando Eurico se sente perdido e sozinho, há um foco na lagosta de costas a ele, mostrando que nem o seu confidente imaginário está ao seu lado.
Enfim, Aos Pedaços entrega elementos na fotografia que completam a história e só engradecem a experiência.
Afinal, Aos Pedaços é bom?
Com 93min de duração, o thriller dramático traz uma experiência peculiar ao seu público. Com elementos noir, uma narrativa gótica-melancólica, confusa e complexa, Aos Pedaços é um filme interessante. Porém, não é para todos os públicos.
E isso nem é pela sua qualidade, a qual, por sinal, é ótima. Mas sim, por conta do seu desenvolvimento não linear e nada simples, exigindo uma maior atenção do público, o qual precisa estar aberto a se entregar para poder compreender tal experiência. Ou seja, quem for assistir o filme tem que estar preparado para acompanhar o seu desenrolar.
Por outro lado, é indiscutível a beleza poética das cenas de Ao Pedaços. As cenas possuem as mais diversas camadas em sua construção, do ponto mais exposto ao mais sutil, abstrato e simbólico. São nos elementos que compõem as cenas que o filme se engrandece mais e mais, tornando a experiencia única.
Por fim, Aos Pedaços é uma obra experimental e noir, sendo recomendada apenas a quem queira viver de fato uma experiência singular.
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