M. Night Shyamalan é um dos maiores cineastas, roteiristas e produtor do cinema de suspense. Conhecido por seus filmes de suspense dramático mesclado com finais surpreendentes. Shyamalan é conhecido por escrever, dirigir e produzir a maioria de seus filmes, e por sua abordagem única de contar histórias enigmáticas com um toque de sobrenatural. Essa introdução é necessária para poder expressar como “Batem à Porta”, seu nome filme se encaixa nisso.
Uma das características mais marcantes dos filmes de Shyamalan são as reviravoltas impactantes, e que na maioria das vezes vem de forma inesperada. Quem não se lembra de “O Sexto-Sentido”? Ou “Corpo Fechado”, “Fragmentado”, “Tempo”? O que todos tem em comum são as reviravoltas.
A história de “Batem à Porta”
Batem à Porta conta a história de uma família que é feita de refém por quatro estranhos armados. A criança e seus pais precisam fazer uma escolha impensável para evitar o apocalipse, enquanto estão com acesso limitado ao mundo exterior.
Essa sinopse não prepara ninguém para o que vai experimentar no cinema. Assim como escrevi em outra crítica, “o cinema não tem compromisso com certos detalhes que nós seres humanos damos tanto valor, por exemplo, a temporalidade.” Aqui começamos de um ponto da história em que as coisas já estão ocorrendo.
Um casal, Eric e Andrew Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge), resolvem passar um final de semana em um lago junto a sua filha Wen. Logo no começo somos surpreendidos aqui pela presença imponente do personagem Leonard, interpretado por David Bautista ao lado da pequena Wen, interpretada por Kristen Cui.
Essa cena nos prepara para um paralelo muito interessante, com o tamanho de ambos. David é enorme perto da pequena Kristen, mas essa perspectiva começa a se desfazer ao longo do que vamos conhecendo ambos. E isso acontece ao longo de todo o filme, com personagens e situações. Os contrapontos no filme tem um peso muito grande.
À partir desse ponto já podemos entender o que irá acontecer daqui para a frente. O roteiro de Shyamalan, Steve Desmond e Michael Sherman não guardam segredo do que irá acontecer.
A história se mantém firme do começo ao fim
Aqui as coisas são bem simples, para poder salvar o mundo, Eric e Andrew precisam decidir qual deles, incluindo a pequena Wen, deve ser sacrificado para que o apocalipse não aconteça. Obviamente essa história é macabra e inacreditável, com todos os traços de fanatismo religioso ou colapso social. Será que esse grupo de invasores são mesmo fanáticos, será que o apocalipse é real?
O grupo de invasores é bem heterogêneo, mas o que todos tem em comum são histórias de vida que fazem deles tão humanos quanto Eric e Andrew. Esse grupo de pessoas composto por um professor, uma enfermeira, um funcionário do metrô e uma cozinheira estão tentando salvar a humanidade após receber visões sobre o final dos tempos.
O primeiro ato do filme já introduz todos os elementos principais da história, deixando a cargo dos outros atos introduzir os elementos que são importantes para justificar as ações de cada personagem. A alusão as pragas do Egito enquanto a pequena Wen captura gafanhotos no jardim já demonstra claramente que estamos diante de uma história com esses contornos.
É possível que Shyamalan escolheu o caminho mais difícil para esse filme, porque em toda sua carreira ele guardou a surpresa para o final, e aqui ele se mantém fiel do começo ao fim ao mesmo plot. O filme de provoca a todo momento a duvidar de todos os personagens e suas justificativas para esse pedido bizarro. Mas os próprios personagens vão eliminando as possibilidades envolvidas no que está acontecendo.
Um outro ponto interessante é a escolha de não mostrar as mortes explicitamente. Não pareceu necessário mostrar as mortes explicitamente, afinal de contas, a história funciona melhor deixando o absurdo somente pelo suspense gerado. Não estamos falando de um filme trash ou de terror sangrento, mas de um drama e suspense que utiliza do sobrenatural para mexer com os sentimentos de seus personagens e naturalmente com os espectadores.
Roteiro fiel a si mesmo, que pode deixar perguntas importantes no ar, mas que precisam ser interpretadas nos detalhes
Uma pergunta que fica no ar em um primeiro momento é porque as mortes dos 4 invasores precisam acontecer. Seria para mostrar que de fato eles estavam levando a sério, e que não era um delírio? Ou será que foram de fato “mandados” a fazer aquilo ali?
A certeza que o final entrega é de que tudo já aconteceria de qualquer forma. Mesmo não entendendo como a família foi escolhida, e ficamos a cargo somente das visões que aquelas pessoas tiveram, aparentemente tudo fazia parte de um plano maior. O interessante, é que mesmo usando a palavra apocalipse e anjos, o filme não tem nenhum traço religioso ou de fé.
Por fim, chegamos em um ponto do filme onde os questionamentos morais são mais importantes do que os da sobrevivência. E que o amor é mais importante que a razão. Nesse ponto o roteiro acerta em cheio.