Antes de assistir Besouro Azul essa semana estava tentando lembrar como era a vida antes dos filmes de super-herói. Esse tipo de filme é uma marcação na era do cinema, é um capítulo importante, cheio de altos e baixos, e que com certeza mudou completamente a percepção das pessoas do que é cinema. Cenas pós créditos, orçamentos milionários, séries que se conectam com os filmes, filmes que se conectam com outros filmes, é tudo fruto dessa nova era. E se tratando do universo DC de filmes a coisa é um tanto quanto complicada.

Besouro Azul estreia nos cinemas em um momento bem delicado para a DC e para a Warner, isso porque a grande promessa “The Flash” foi um tremendo fracasso. E o antecessor, “Shazam”, e o antecessor também, “Adão Negro” não foram tão bem assim também. Sendo assim, não é de se surpreender que os fãs de fato fiquem com o pé atrás para essa nova produção. Ainda mais se tratando de um herói que não é tão conhecido ou famoso.

LEIA TAMBÉM: Crítica – Fale Comigo

Produção acima da média, roteiro dentro da média, filme na média

Jaime Reyes é um jovem universitário que retorna para sua casa após se formar, e após saber que sua família pode perder a casa, ele prontamente se dispõe a arrumar um emprego. É nesse momento que sua vida cruza com a de Jenny Kord (Bruna Marquezine), uma jovem que herdou a empresa do pai de tecnologia, e atua ao lado (só que não) de sua tia, Victoria Kord, que tem uma ideia para a empresa que vai contra tudo que Jenny acredita. Victoria está em busca do Escaravelho Azul, uma fonte de energia e inteligência que pode fortalecer um exército criado pela empresa Kord. É nesse cenário que Jaime acaba pegando por acaso o Escaravelho e se transformando em um simbionte, o Besouro Azul (ainda não, e você vai entender).

Uma das coisas que eu mais gostei em Besouro Azul foi sua simplicidade, e isso com certeza pode ser um dos problemas dele também. Isso porque, Angel Manuel Soto, diretor do filme fez uma escolha muito peculiar ao não gastar tanto tempo de tela para introduzir seu personagem principal. Nem Jaime, nem o Escaravelho tem suas origens explicadas, o roteiro é tão rápido na sua introdução, que parece que o diretor acredita que todos já conheçam tal história, o que não é verdade.

Um ponto que ficou faltando, explorar melhor a armadura e sua “consciência”. Ela aparece como uma personagem, mas nem de longe se parece com o Jarvis, por exemplo, ou com o Venom. Apesar de ter controle do traje e até poder assumir o controle das ações de Jaime, ela não passa tanta importância assim.

Sendo assim, eu acabei dividindo o filme é meio e fim, não temos o começo. De um zé ninguém a super-herói em 20 minutos. Mas eu quero deixar aqui um ponto importante, isso funciona muito bem para esse filme. Eu não sei se é pela nossa vasta experiência de péssimas introduções, como foi o caso de Adão Negro, que pular essa parte até foi uma vantagem.

Herói Quente, Vilão Morno, Família Reys Quentíssima

O ponto alto do filme é a família Reyes, o puro espírito latino na tela do cinema. E parafraseando o Toreto, nesse caso aqui, é tudo sobre a família mesmo. Jaime é muito ligado a sua irmã, Milagro, e seu tio Rudy. E esse trio é capaz de fazer a gente rir, chorar, torcer e vibrar. Até a matriarca da família consegue tirar boas doses de risada do espectador. Para muitos, a retratação da família Reyes pode ser clichê e até de certa forma caricata, mas eu como brasileiro, entendo muito bem o que é o calor latino. Abraçamos todo mundo, choramos facilmente, estamos sempre falando alto e comendo coisas deliciosas. Esse ponto do filme é o mais gostoso, um sentimento de familiaridade pela proximidade das culturas.

E ter a Bruna Marquezine no filme eleva isso a décima potência. A atriz brasileira parece supernatural na tela, com uma atuação consistente mesmo com um papel confuso. Sua personagem tem uma introdução até mais profunda que de Jaime, conhecemos seu passado e sua história. Mas por várias vezes sentimos uma desconexão, que é causada principalmente pelo roteiro cheio de buracos.

Agora falando de Xolo Maridueña, o rapaz tem um carisma muito legal, e coloca em seu personagem o sentimento e o coração do jovem latino. Sonhador, fiel a origem, disposto a fazer tudo pelos seus, e ainda por cima, encantar quem está ao lado. E mesmo com a precoce apresentação como herói, já que ele se transforma no Besouro Azul bem rápido, o processo de criação do personagem é consistente ao longo do filme. Isso porque, o fato de o Escaravelho precisar fazer uma simbiose com o hospedeiro, o roteiro decidiu favorecer esse crescimento dos dois. E isso sim, faz tudo valer a pena.  

Agora, em relação aos vilões, sinto muito em dizer que não são nada demais. A vilania e tirania dos vilões é quase de filme infantil, não passam o mínimo de apreensão na tela. Nem mesmo a experiência da atriz Susan Sarandon foi capaz de dar qualquer ânimo para sua personagem. Sua motivação é simplória demais, e sem explicação ou aprofundamento. Seu vilão, Conrad Carapax, não sustenta seus olhares “badass” por muito tempo, e não passam a impressão de ser um vilão que bateria de frente com um herói simbionte com poderes fantásticos.

A luta final entre os dois é até intensa, mas serve somente para mostrar que a produção investiu bastante no CGI, para não deixar um fiasco como de The Flash. Mas o resultado da luta é muito simples e fraco também.

Foto: Hopper Stone/SMPSP/™ & © DC Comics

Mas, vale a pena assistir? O filme tem um bom chamariz?

Se você veio em busca de incentivo, vou te dar bons motivos para ir ao cinema. O filme está muito bonito, colorido, com uma trilha sonora latina de tirar o fôlego. Além disso, o longa retrata a cultura latina de forma muito interessante, trazendo para a tela Maria do Bairro e uma das mais legais homenagens ao personagem de Roberto Bolãnos, Chapolin Colorado. Bruna Marquezine está impecável em seu papel, a atriz brilha e muito, com uma atuação condizendo com o tamanho do projeto, e claro, sua beleza e simpatia. E a família Reyes é demais, você pode muito bem achar que seria a sua família.

Por fim, Besouro Azul é um filme simples, um herói básico, com uma história genérica, mas que consegue ser muito melhor que seus antecessores, e isso já é uma vitória e tanto. Vale a pena assistir no cinema, na maior tela possível, porque o filme é lindíssimo!

Apoie nosso trabalho: Apoia-se – https://apoia.se/geekpopnews