“Bugonia” provoca, inquieta e faz rir de nervoso. Yorgos Lanthimos entrega uma sátira sombria sobre a era da desinformação, onde acreditar em mentiras parece mais confortável do que encarar a realidade brutal.
Contexto e Direção — Lanthimos mira a desinformação com humor ácido
Yorgos Lanthimos retorna mais afiado após a irregularidade de Tipos de Gentileza (2024). Neste novo trabalho, ele encontra um equilíbrio raro entre sátira, horror psicológico e ficção científica, desse modo, criando um filme que comenta o presente com intensidade.
Primeiramente, inspirado no clássico sul-coreano Save the Green Planet!, “Bugonia” questiona o impacto das fake news, do negacionismo e do desespero social que atravessa a população marginalizada dos EUA. Além disso, a premissa absurda, dois jovens sequestrando uma CEO por acreditarem que ela é uma alienígena, funciona como ponto de partida para refletir sobre paranoia coletiva e a fragilidade emocional da sociedade contemporânea. Portanto, em outras palavras, o filme se consolida como uma análise mordaz.
Lanthimos adota uma estética mais contida, mas não perde sua estranheza. Ele constrói um mundo desconfortavelmente próximo ao real, onde o grotesco e o cômico se misturam de forma elegante.
Narrativa e Temas — Fake news, paranoia e alienação social
A trama acompanha Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbis), primos que vivem à margem da sociedade e se tornam vítimas perfeitas da pós-verdade. Nesse sentido, consumindo teorias da conspiração, vídeos manipulados e discursos vazios, eles chegam ao limite do absurdo ao acreditar que Michelle (Emma Stone), CEO de uma gigante farmacêutica, é uma alien infiltrada na Terra.
Em seguida, o filme discute a fome por sentido em um mundo em ruínas.
No entanto, os personagens não são apenas ingênuos; pelo contrário, são produtos de um sistema que os ignora. Lanthimos humaniza essa fragilidade ao mostrar traumas, perdas e uma vida miserável marcada por abuso e abandono. Consequentemente, esse contexto sustenta decisões extremas, com efeito, transformando o grotesco em algo trágico.
Da mesma forma, o cineasta também fala sobre capitalismo predatório, crise ambiental, desigualdade social e a ilusão de heroísmo individual, todos esses elementos que aproximam “Bugonia” da realidade, mesmo sob sua camada surreal.

Técnica e Estética — Surrealismo fabular com tensão constante
Filmado em 35mm, “Bugonia” carrega textura, sombras e uma atmosfera áspera. Essa estética reforça o desconforto, criando um realismo fraturado ideal para o que Lanthimos busca. A trilha sonora é pulsante e tensa. A montagem opera como motor emocional, conduzindo a narrativa por espirais de paranoia e violência.
O design de produção aposta no estranho e no simbólico, mas sem afastar o espectador. A obra nunca parece pretensiosa; é acessível, mesmo quando mergulha no bizarro.
É ficção científica sem se apoiar no espetáculo, um thriller paranoico sem recorrer ao choque vazio, e uma comédia absurda com notas trágicas que ficam ecoando após a sessão.
Elenco e Personagens — performances afiadíssimas
Jesse Plemons entrega um de seus papéis mais complexos. Ele transforma Teddy em um sujeito patético, perigoso, mas profundamente humano. Sua performance equilibra desespero, raiva e vulnerabilidade.
Emma Stone brilha como Michelle. Ambígua, calculista e fria, ela domina a tela com nuances que sustentam toda a ambiguidade temática do filme: será que ela é mesmo o que parece?
Aidan Delbis surpreende, criando um Don frágil e perdido, que amplia o impacto emocional da narrativa. O elenco de apoio reforça o caos com precisão: Alicia Silverstone entrega dor e descontrole na medida certa. Vanessa Eng, Stavros Halkias e Momma Cherri ajudam a construir o absurdo tragicômico que move a história.
Todos funcionam dentro da lógica cruel proposta por Lanthimos, evitando arquétipos óbvios e ampliando o impacto temático da obra.

Referências e Identidade — um cinema cruel, crítico e hipnotizante
“Bugonia” herda o espírito de “Dogtooth”, “O Lagosta” e “Pobres Criaturas”, mas exibe um Lanthimos ainda mais indignado com o mundo real. A narrativa brinca com os limites da razão, tensionando paranoia e crítica social de maneira quase profética.
O filme ecoa discussões sobre crise ecológica, pós-verdade e manipulação corporativa. É engraçado, perturbador e, acima de tudo, honesto na sua escuridão.
A mensagem final é brutal: não aprendemos nada como sociedade, e talvez já seja tarde demais.

Vale a pena assistir? — um dos filmes mais relevantes da década
“Bugonia” é inquietante, provocador e necessário. Lanthimos usa humor, horror e estranheza para refletir sobre um mundo sufocado por mentiras, desespero e desigualdade. É um filme que ganha força com a discussão pós-sessão, que pede releitura e que deve se firmar como forte candidato ao Oscar 2026. Tem cinema com personalidade. É cinema que incomoda. É cinema que marca.
Bugonia estreia nos cinemas em 27 de novembro de 2025.
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Imagens da capa e do texto da crítica credito: Focus Features
