Com emoção, aventura e questionando realidade e fantasia,
Capitão Astúcia é muito mais que um filme de super-heró
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O cinema brasileiro surpreende com a chegada de Capitão Astúcia ao YouTube, novo filme independente que prova a profundidade de uma história emocionante de super-herói. O longa traz uma nova visão sobre a importância dos quadrinhos, ao mesmo tempo, sobre o envelhecer na sociedade atual, e como a nossa própria identidade às vezes é secreta para nós mesmo.

Com 90min, o longa conta com direção de Filipe Gontijo, além de Fernando Teixeira, Paulo Verlings e Nívea Maria no elenco. O longa gira em torno de Santiago (Paulo Verlings), um ex-astro mirim, frustrado com sua carreira de pianista, decide fugir de um revival na TV. Para isso, ele busca refúgio na casa do avô (Fernando Teixeira), um senhor cheio de energia e determinado a realizar um sonho inusitado: se tornar um super-herói, o Capitão Astúcia. Confira o trailer abaixo e o filme completo ao final da crítica:

Com um choque de realidade a vista, o longa desafia estereótipos de filmes de super-heróis e promete abordar um lado mais emotivo e reflexivo em sua história. Mas será que ele consegue? Afinal, Capitão Astúcia é bom?

Uma história que desafia a fantasia e a realidade

Se você acha que Capitão Astúcia é somente um filme de super-herói ou de comédia pelo seu visual, então saiba que você está enganado. Com uma trama envolvente e carismática e um desenvolvimento linear bem estruturado, Capitão Astúcia trabalha com a colisão do drama, aventura e comédia de forma formidável.

São diversas camadas que movem a narrativa e se estabelecem, a guiando de maneira tão natural, que o longa conquista a atenção de seu telespectador de maneira genuína.

Dessa forma, Capitão Astúcia oferece uma história envolvente, com elo reflexivo e emocionante do envelhecer e – se me permite o trocadilho heroico – na busca pela aceitação de nossa verdadeira identidade secreta. Logo, o que é real ou o que é fantasia é apenas uma pontinha deste iceberg. Uma pontinha que esconde a gigantesca essência de nós mesmos, e da dificuldade em mantê-la em meio ao mar gelado do tempo e da pressão social.

Elenco: o sucesso por trás da máscara

Capitão astucia Paulo verlings e fernando teixeira
Imagem: Divulgação

Um dos grandes motivos que sustentam o sucesso de Capitão Astúcia é a super-força do elenco. Em especial, a dupla protagonista Fernando Teixeira e Paulo Verlings desenvolvem genuinamente uma química familiar, apresentando a relação avô-neto que, a princípio, é tão distante, mas vai se aproximando conforme os obstáculos da história.

Ainda, Paulo Verlings ficou com a difícil missão de acompanhar a atuação convidativa e emocionante de Fernando Teixeira, o qual constrói um personagem com tantas camadas e com uma personalidade tão profunda, que consegue transpor em facetas e em simples diálogos uma identidade realista, com ideais próprios e bem estruturados.

Assim, Verlings consegue atingir o seu objetivo e completa a sua missão, entregando um personagem próprio, com personalidade própria e com dilemas, buscando desvendar seu lugar no mundo. Ou melhor, quem ele realmente é.

A kryptonita do Capitão Astúcia

O longa acerta em muitas vezes no quesito técnico, seja pela fotografia, ou pelos efeitos especiais e trilha sonora. O bacana é a própria maneira como cenas se compõem, a fotografia se constrói, as montagens de cenas: em quesito visual, Capitão Astúcia consegue brilhar muito.

Entretanto, o maior problema do longa está na edição de som. Em especial, na captura de áudio dos atores, a qual, por vezes, fica abafada ou com ruídos, dificultando um pouco a compreensão das falas. Não chega a comprometer os diálogos, e nem ocorre sempre, mas a captura de áudio deixa a desejar algumas vezes, sim.

Novamente, é importante ressaltar que os aspectos técnicos da produção são muito bem feitos. Porém, não é sempre que o microfone funciona de forma correta, infelizmente.

Afinal, Capitão Astúcia é bom?

Fernando Teixeira Paulo Verling
Imagem: Divulgação

O envelhecer é um desafio por si só. Uma luta constante em manter nossas identidades, nossos sonhos, nossos medos e vontades, desejos e amores. Enfim, envelhecer é uma luta contra o tempo e o mundo, em busca de nós mesmos. Por outro lado, e em paralelo, ao longo da caminhada da vida, buscamos nos encaixar a vontade da pressão social, em um malabarismo a procura de quem de fato somos.

Dessa forma, Capitão Astúcia traz uma narrativa que dialoga entre estes dois lados da caminhada, visando enfatizar a luta do ser-humano em assumir a identidade por trás da máscara do mundo. E, assim, se aceitar e ocupar seu lugar na sociedade, para, então, ter forças para se assumir quem realmente é.

Portanto, com uma narrativa linear, a trama de Capitão Astúcia conquista pela emoção aventuresca, questionando o que é fantasia e o que é realidade. São nas reflexões mais diversas que abre espaço para debates a respeito de etarismo, envelhecer, responsabilidade, autoconhecimento e os desafios em se descobrir neste complexo mundo.

Por fim, muito além de um filme de super-herói, Capitão Astúcia é um grito do cinema nacional a respeito das batalhas diárias do ser-humano em se encontrar na sociedade atual. Uma obra que, mesmo independente, merece a atenção e todos os holofotes possíveis.

O longa já se encontra no YouTube e de graça, para todos os públicos. Você pode assisti-lo também logo abaixo: