A alimentação saudável é uma das pautas mais presentes nas redes sociais, porém, essa relação com a comida pode mascarar motivações perigosas. Em CLUBE ZERO, adolescentes lidam com pais distantes emocionalmente enquanto pressionados pelo sistema educacional a ter uma alta performance, até que então surge Srta. Novak com uma nova e mortal perspectiva nutricional para a escola.
Sinopse
Na história, Srta. Novak (Mia Wasikowska) é uma professora de nutrição com métodos um tanto inovadores contratada para ajudar em disciplinas extracurriculares como a ‘Alimentação Consciente’. Com uma ideologia polêmica, Novak propõe aos alunos que é possível viver sem se alimentar. Propositalmente, os alunos matriculados sofrem de carências emocionais e distúrbios psicológicos. Além disso, os pais são disfuncionais e os enxergam como maquinas de sucesso.
Sendo assim, a presença da nova professora se torna um escape para esses jovens os tornando suscetíveis as ideias mirabolantes do CLUBE ZERO. A relação entre o grupo começa a se aprofundar e os integrantes começam ter comportamentos tóxicos e anormais em relação a comida. Enquanto negligenciados pelos pais, as consequências da nova alimentação são devastadoras.
Roteiro visceral
Dirigido e escrito por Jessica Hausner em conjunto com Géraldine Bajard, o roteiro de Clube Zero nos leva a uma crítica de delírio coletivo sobre a alimentação. Utilizando do sarcasmo, a denúncia do longa é um conjunto de camadas muito simples: a suposição sendo levada como fato cientifico e pais negligentes deixando os filhos vulneráveis. Todos esses pontos são apresentados de uma maneira cômica e muito bem estruturada, trazendo o desconforto necessário sobre o tema.
Atualmente é perceptível nas redes sociais como o conteúdo sobre uma alimentação saudável vem ganhado mais destaque. Para Hausner essa pauta esconde motivações problemáticas, bem antigas, mas que com o alcance da internet ganhou proporções maiores e profundas. Utilizando da argumentação sobre saúde, a alimentação saudável se tornou um ‘culto aos corpos’ assim como o CLUBE ZERO. A representação de Novak é um direta referencia aos gurus da alimentação que prometem métodos de emagrecimento e alta performance não comprovados cientificamente.
Na construção da narrativa a diretora demonstra como a disfunção alimentar se desenvolve nos mais variados contextos e independente do gênero. Do mesmo modo, as consequências são bulimia, anorexia e complicações da diabetes. No entanto o maior dos problemas é a inércia dos pais que mesmo preocupados com o comportamento dos filhos não agem com medo de perderem a sua reputação, sendo colocados como vilões da narrativa.
Direção e atuações
A obra de Jessica Hausner tem o objetivo de gerar sensações independente de qual seja. A todo momento nos enquadramentos, trilha sonoras e fotografia a diretora busca imergir o espectador nas inúmeras camadas das ideias, quebra de crenças e problemas alimentares que a guru propõe. Por exemplo, os corpos definhando e a saúde em declínio dos personagens enquanto agem com naturalidade e o humor são alguns dos pontos mais angustiantes do filme. Além disso, há um destaque para a atuação e caracterização de Mia Wasikowska que personificou perfeitamente uma ideologia.
Mesmo trazendo esse questionamentos sobre os gurus da alimentação e as consequências de suas ideias de uma maneira diretamente polêmica. Gostando ou odiando o filme, o longa entra para a galeria dos clássicos cult com um roteiro coeso, direção sóbria, uma fotografia impecável e uma trilha sonora imersiva.
Vale a pena assistir CLUBE ZERO?
Se você já teve ou tem algum tipo de problema com alimentação e autoimagem recomendo nem pensar em assistir. Há cenas com muitos gatilhos envolvendo distúrbios que podem gerar problemas emocionai. Porém, mesmo sendo tão difícil de assistir, a crítica ao novo conceito de alimentação saudável é genuína e necessária, principalmente para o público alvo como os pais e o sistema educacional.
Indicado ao Palma de Ouro, CLUBE ZERO estreia dia 25 de abril nos cinemas brasileiros
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