Estreia nos cinemas um dos filmes mais aguardados para o Oscar 2025, Conclave, um drama que mergulha nos bastidores de um dos momentos mais misteriosos da Igreja Católica: a escolha de um novo Papa. Sob a direção e protagonismo de Ralph Fiennes, a obra combina suspense e densidade emocional para explorar as camadas ocultas desse processo milenar.

Sobre o Filme

O filme é uma adaptação da obra homônima de Robert Harris, acompanha o cardeal Lawrence, inesperadamente escolhido para ser o decano responsável por conduzir a eleição do novo pontífice após a morte do Papa anterior. O que deveria ser uma tarefa simples logo se transforma em um campo minado de segredos e revelações polêmicas sobre os candidatos, colocando Lawrence no centro de uma trama que mistura intriga política e dilemas morais. Para evitar que o processo seja manipulado, ele precisa navegar por essa rede de conspirações e tomar decisões cruciais.

A direção de Edward Berger (“Nada de Novo no Front”), é um dos pontos altos do longa, trazendo às telas uma representação do Vaticano rara e impressionante. A fotografia, deslumbrante, revela a grandiosidade e os interiores pouco explorados das instalações do Vaticano, indo além da icônica Praça de São Pedro. Esse cuidado estético contribui para a criação de uma áurea que mistura opulência e mistério, transportando o espectador diretamente para o coração do cenário político-religioso. O uso das cores fortes, tradicionalmente usadas nas festividades católicas, são vistas aqui. Figurino impressiona pela qualidade e pela fidelidade, principalmente nas celebrações.

Outro destaque é o roteiro, que, mesmo sem depender do conhecimento profundo da obra original, se apresenta como um clássico thriller de suspense. A trama se desenvolve com uma escalada de informações e reviravoltas que mantêm o espectador imerso do início ao fim. Apesar de um ritmo mais lento em comparação a outros filmes do gênero, a narrativa é tão bem estruturada que é possível seguir as pistas sem se perder. As revelações surgem de forma gradual e impactante, prendendo a atenção com maestria.

CONCLAVE, novo filme do diretor Edward Berger ("Nada de Novo no Front")
Ralph Fiennes como Cardeal Lawrence e Stanley Tucci como Cardinal Bellini. Credito: Cortesia da Focus Features

Pontos fortes são poderosos argumentos a favor do filme para o Oscar

O elenco é outro trunfo da produção. Além de Ralph Fiennes, nomes como Isabella Rossellini, Stanley Tucci e John Lithgow entregam atuações consistentes e marcantes, contribuindo para a intensidade emocional da obra. Cada personagem adiciona camadas à trama, enriquecendo o enredo e aprofundando os dilemas apresentados.

Embora alguns críticos tenham levantado a hipótese de que o filme poderia ser interpretado como anticatólico, Conclave não se propõe a ofender a igreja, mas sim a abordar suas complexidades. Temas polêmicos como questões de sexualidade, conservadorismo e intrigas políticas são tratados de forma intensa, sem apelar para exageros ou sensacionalismo. O roteiro busca equilibrar as nuanças positivas e negativas, revisitando reflexões que vão além da fé, incluindo a dimensão política do papel do Papa, que é também chefe de Estado.

Existem críticas explicitas e algumas bem implícitas, como o papel da mulher na igreja. É curioso como esse tema em específico parece correr ao fundo da história, você sabe que está lá, mas o filme o desfoca propositalmente, quase como uma experiência sensorial. E isso é muito inteligente, porque explicita bem como elas são vistas (ou melhor, não vistas) dentro desse contexto totalmente masculino.

Um dos pontos negativos do longa são os assuntos paralelos, que parecem estar lá somente para justificar determinadas colocações. Alguns temas não têm aprofundamento, como os ataques terroristas, ou até mesmo a origem de determinados Cardeais, importantes para a trama. Acredito que o recorte final do Conclave deixa de fora temas que provavelmente iriam ser tratados, mas que poderiam alongar o filme ainda mais. De toda forma, o roteiro se mantém bem amarrado, mesmo com essas lacunas vazias. 

Vale a pena assistir? 

Por fim, Conclave é um filme que provavelmente dividirá opiniões. Não é uma obra religiosa ou que busca inspirar fé, mas um suspense contundente que utiliza o contexto da Igreja como pano de fundo para explorar temas universais e até certo ponto atuais. Para os apreciadores de thrillers complexos e bem amarrados, é uma experiência imperdível. Uma obra que provoca, intriga e reafirma a capacidade do cinema de abordar questões delicadas com profundidade e sofisticação.