O filme Corisco e Dadá, lançado originalmente em 1996, teve sua reestreia em alguns cinemas brasileiros. No mês de outubro, cinco cidades foram as escolhidas para assistir o longa depois de sua restauração para a versão 4K. Com Chico Diaz e Dira Paes dividindo o protagonismo, a narrativa de Rosemberg Cariry volta aos holofotes para um novo olhar público sobre a obra clássica.

A história real, compartilhada pela verdadeira Dadá, que inspirou Cariry em a adaptar para uma versão de “Bonnie e Clyde” do cangaço. Um romance trágico, perigoso e árduo se desenrola no sertão, trazendo personagens históricos e de gigante relevância cultural nordestina.

Além de Diaz e Paes nos papéis principais, Denise Milfont, Virginia Cavendish e Regina Dourado são alguns dos nomes com quem eles dividem a tela.

A história

O enredo começa no auge do cangaço brasileiro, nos anos 1930. Corisco é do bando de Lampião, e é conhecido por ser ríspido em sua forma de agir. Um dia, vai cobrar uma dívida com um homem, ao invés de deixar o senhor pagar com seu próprio sangue, ele sequestra a sua filha adolescente, a Dadá.

Primeiramente com um começo violento, os dois seguem para uma vida de parceria no sertão. Apesar disso, o amor e companheirismo aflorar entre eles, a situação precária na qual vivem têm consequências tristes. A morte dos três filhos do casal é muito tocada com um olhar de religiosidade, mostrando uma forma de lidar com a dor e enxergando isso como um castigo divino.

Dessa forma, acompanhamos o final do bando rebelde, com as mortes de Lampião e Maria Bonita, e por último de Corisco. A conclusão é triste, mas verdadeira. O sertão como cenário de fundo ajuda a mostrar o quão penoso e impiedoso ele pode ser, causando tanto sofrimento quanto o próprio homem.

Cena do filme Corisco e Dadá, 1996.
Foto: Divulgação Cariri Filmes

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O impetuoso sertão

Antes de tudo, é impossível negar a beleza desse longa-metragem, ainda mais com sua restauração em 4k. As cores do sertão se mostram de maneira que você é capaz de sentir o calor e a sede que os personagens estão passando. É imprescindível não enxergar o próprio sertão como um personagem, a sua importância para a história é igualável a de qualquer um na trama.

Acredito que Cariry quis demonstrar isso, as cenas onde vemos indivíduos indo à loucura por conta da sede trazem essa ideia, de que apesar do amor àquela terra linda, ela também é impiedosa.

As atuações estão impecáveis, com grande clamor à Chico Diaz, que vive o Corisco. Do mesmo modo que tem seus momentos mais violentos e brutos, traz alguma redenção para o personagem em cenas como que ensina Dadá a ler.

Por outro lado, o filme é de extrema violência. Além de mortes de animais e sua esfoliação mostrada em detalhes, existe a questão da violência contra a mulher. A cena do estupro de Dadá por Corisco é muito pesada, e não existe uma forma de redimir ele depois. Além disso, a morte da personagem de Virginia cavendish também me impactou profundamente.

É um filme bruto, tenso e violento. Apesar de incomodar o público por terem visões diferentes, era a violência presente na época, e não pode ser apagada. A arte é feita para contar algo e provocar, não agradar.

Por fim, é um filme que traz uma história quase que folclórica do Nordeste brasileiro, mostrando a verdade, sem heróis e vilões claros. “Corisco e Dadá” se propõe a mostrar o que aconteceu, sem a lente de julgamentos do período que retrata.