Foi a quase 50 anos que vimos pela primeira vez um Creed na tela do cinema. Apollo Creed era um boxeador de peso pesado que se tornou o oponente de Rocky Balboa no primeiro filme da série em 1976. Ele é um personagem muito importante para a história, pois ajuda a definir a personalidade e a motivação de Rocky como lutador. Além disso, a relação entre eles evoluiu ao longo dos filmes, passando de rivais para amigos próximos.

Agora, quase meia década depois iremos acompanhar mais um capitulo da história de um Creed, agora Adonis. Adonis Creed, é novamente interpretado por Michael B. Jordan. Criado por sua mãe após a morte de Apollo em “Rocky IV”, sem nunca ter o conhecido de verdade. Obviamente, ele segue os mesmos passos dele, e se torna um campeão de boxe. Os primeiros filmes de 2015 e 2018 foram marcados pela emoção de ver novamente Sylvester Stallone na pele de Rocky. Pois bem, ele não está neste. É um filme pra assistir entendendo todas as complexas decisões tomadas para retirar Rocky de cena. Pode não agradar aos fãs mais fieis do ator, mas fica claro que a intenção era poder contar a história de Adonis.

Michael B. Jordan, que também dirige o filme, optou por não escalar novamente Sly. Talvez para deixar que seu personagem caminhe fora da sombra do Rocky. A verdade é que em certo ponto ele tem razão. Creed 3 funciona muito bem sem estar as sombras das construções de Sylvester na obra. Não é perfeito, tem vários problemas de roteiro, de foco, mas mostra que Adonis precisava se mostrar responsável pela sua vida, sua carreira, seus erros e seus acertos. Obvio que faz falta ter um rosto conhecido de décadas no filme, mas pela própria maturidade da história, era necessário.

Creed III
Foto: Warner Bros

O novo “Creed” sem Rocky

Em Creed III, Adonis vai ter que enfrentar uma parte do seu passado que até então ele fazia questão de esquecer. Um velho amigo retorna da prisão após 18 anos, e quer provar que é melhor que Adonis no ringue. Paralelo a isso conhecemos um pouco da sua infância, e da relação dele com o mundo do boxe. O filme também entra um pouco mais na relação familiar dele, tanto com sua mãe, quanto com sua esposa, Bianca Taylor, uma cantora e compositora talentosa. Interpretada por Tessa Thompson, ela tem um papel bem menos importante nessa trama do que foi nos dois primeiros filmes.

Conhecemos também a filha do casal, uma garotinha surda, que aparentemente tem os mesmos dons que seu pai e seu avô para a luta. Pra mim, é essa complexa e densa camada familiar que acaba enchendo o roteiro e deixando pontas soltas desnecessárias. Não podemos conhecer mais da história da filha, não podemos entender o que aconteceu com a mãe de Adonis, não sabemos mais o que aconteceu com a carreira da Bianca. Tudo é passado por cima, como se fossem assuntos desnecessários. Ledo engano, já que o próprio filme faz questão de trazer eles pra cena.

Creed III
Creed III | Foto Credito: Eli Ade

Claro que alguns acertos são muito nítidos. Achei muito importante a inserção de uma garota surda na trama, e principalmente, do uso da língua de sinais americana (American sign language, ASL). De uma forma natural, e respeitosa, e principalmente, dentro do contexto do filme. Afinal de contas, Bianca, demonstra ter um problema de deficiência auditiva no filme anterior, que a impede de trabalhar.

A amizade de Adonis com Damian (Jonathan Majors), essa sim é bem explorada. Com detalhes interessantes que mostram um pouco do sentimento de ódio e revanche que “Dame” tem. E isso é combustível puro para a luta entre dois. Mas isso, é só no final. Adonis deixou de der lutador, agora é um cara dos negócios da academia, agenciando outros lutadores. Essa situação gera mais raiva em Damian, já que ele acredita que tudo que Creed teve, na verdade ele é quem deveria ter. A história por trás da prisão dele, inclusive, é muito importante e impactante. Assim como a relação dele sua com mãe, interpretada por Phylicia Rashad.

A história que passeia entre o clássico dos filmes de Rocky e o novo da mente brilhante de Jordan

A historia traz elementos fortes sobre redenção, pertencimento, perdão e resiliência. A fotografia ficou incrível, é um filme belíssimo e com cenas de lutas muito bem coreografadas. A direção do Michael B Jordan surpreende nos detalhes. E pra quem ama uma curiosidade, Michael B Jordan é muito fã de anime, e tem vários elementos de vários mangás na trama, como Hajime no Ippo e Naruto. Esse filme se destaca bem, apesar de não superar os anteriores, mostra que Jordan conseguiu de fato ser o protagonista dentro do filme e na direção também.

Em algumas cenas é impressionante como a visão do diretor tem um peso enorme na decisão. O movimento das câmeras, as cenas passando em câmera lenta apontando não o desfecho, mas o pensamento por trás da ação. Essas caracteristicas mostram que Jordan já tinha esse filme desenhado em sua mente, e executa com muita inteligência. O uso do primeiro plano para não deixar escapar nenhum detalhe, nenhuma lagrima. Ou seja, ele nos faz ficar presos dentro da sua prisão emocional, e tentando achar uma maneira de sair daquele labirinto de emoções que descobrimos ser na verdade, tanto de Adonis quanto de Damian.

E para finalizar é preciso deixar destacado como Jonathan Majors está incrível aqui. Podemos sentir a dor de Damian, a raiva, o ódio, mas também o rancor e o amor da amizade que foi quebrado. O roteiro foi muito sensível em não transformar ninguém em vilão, somente consequências de suas próprias ações.