Tivemos a oportunidade de assistir Culpa e Desejo, filme franco-norueguês dirigido por Catherine Breillat. Com 104 min, o longa de 2023 é estrelado por Léa Drucker, além de contar com Samuel Kircher e Olivier Rabourdin. Distribuído pela Synapse Distribution, o filme é um drama que promete um relacionamento proibido. Contudo, será que é bom?
Como já dito, o longa conta com a direção de Catherine Breillat e possui uma trama que gira em torno de um relacionamento entre Anne (Léa Drucker) e Théo (Samuel Kircher). Segue a sinopse:
Anne, mãe bem-sucedida e respeitada advogada especializada em violência sexual contra menores, coloca tudo em risco ao entrar em um jogo de sedução com Théo, filho de seu marido em um casamento anterior.
Apesar de uma sinopse curta, o longa promete uma trama envolvente, com tensão e um tom polêmico por cutucar uma temática tabu. Contudo, será que Culpa e Desejo é bom?
Entre o raso e o buraco
O longa Culpa e Desejo promete polêmica e entrega: a trama traz uma forte temática para as telas, porém, a mesma não é bem elaborada. Ou melhor, se desenvolve de maneira bem rasa. Talvez esta seja a melhor maneira de descrever a trama do filme: superficial.
Assim, ao longo da trama, muitos caminhos vão surgindo para o seu desenvolvimento, porém, a história não se desenrola por nenhum deles. De fato, a história nem explora a si mesma ou seus personagens. Pelo contrário: cada personagem assume alguma característica e assim é rotulado. Dessa forma, há personagens tão rasos quanto a história, e que não são desenvolvidos diante as circunstâncias da trama.
Podemos dizer que é como uma lagoa, ou melhor: um rio. Ao invés de seguir naturalmente, o filme gira em círculos sem sair do lugar. Além disso, ele consegue apresentar grandes erros técnicos, visto que em diversas vezes, há cortes secos que literalmente retalham a cena e não se explica o que aconteceu. São furos e lacunas que se estendem pelo filme, deixando o espectador ainda mais perdido.
Uma história à deriva
Você pode ter um ótimo navio, mas se não haver um mapa, ele não chegará a lugar nenhum. Essa analogia condiz muito com Culpa e Desejo, uma vez que, mesmo havendo um esforço dos atores, tanto o roteiro quanto a direção não abrem espaços para eles mostrarem muito de seus talentos. Aliás, o filme peca não só em trazer uma trama rasa, mas também em trazer diálogos incoerentes com as cenas ou que não se conversam no momento.
Essa incoerência em conjunto as cenas rasas, poderia ser o resultado da falta de tempo para elaborar a história. O que não é o caso aqui, visto que, mais de uma vez, cenas maçantes e sem qualquer acontecimento se prolongam na tela por minutos (no plural). Dessa forma, ao invés de aproveitar o seu tempo, o mesmo é gasto em cenas vazias que não carregam o peso nem para a trama nem para uma experiência contemplativa ou aprofundada.
A fotografia até tem seus momentos em que consegue auxiliar no enriquecimento do longa, porém, não faz milagre. O mesmo se diz quanto a trilha sonora, que tenta dar um suporte, mas acaba sendo facilmente esquecível diante das cenas como um todo.
Desejo e Culpa? Ou só polêmica?
A direção do filme busca cutucar a ferida da sociedade ao trazer um assunto tão polêmico para as telas. Afinal, estamos falando do relacionamento sexual entre uma madrasta (com seus 50 e poucos anos) e seu enteado menor de idade. Assim, a ideia de cutucar um tabu pode soar como algo ousado.
Porém, a audácia morre logo na praia, não havendo a devida atenção para aprofundamento ou elaboração da ideia por trás do filme. As mensagens ficam no campo da sutileza e da implicitude. Mas, novamente, sem a devida elaboração, ficando subtendido apenas para um público mais atento.
Mas devemos sim levar em conta que o longa tenta levantar questionamentos referentes a busca do prazer e quanto a formas que o abuso de menores pode ser tão bem mascarado. Diferente do nome traduzido, a trama apresenta de fato a busca pelo desejo da protagonista, o que é bem diferente da culpa, que é deixada de lado. Aliás, ela até aparece, mas quando há outros fatores que comprometem a comodidade da personagem.
Logo, Culpa e Desejo traz reflexões interessantes quanto a assuntos secundários que beiram a trama principal. Entretanto, o longa e a direção peca ao não saber de fato como elaborar e explorar o tema central do filme. Dessa forma, o filme só apresenta desconforto e descaso diante um temática tão sensível, com narrativa bem cansativa.
Afinal, vale a pena assistir Culpa e Desejo?
Infelizmente, a resposta é não. Se formos dividir o filme em atos, podemos dizer que o primeiro consegue ser uma introdução interessante, apresentando os personagens, apesar de alguns diálogos e cenas que não se conversam. Contudo, do meio para o fim, o filme vai se perdendo em sua superficialidade.
É como se estivesse tentando se prolongar diante a uma história que não demanda tempo. Aliás, talvez, se fosse um curta de 30 minutos, é possível que Culpa e Desejo fosse melhor avaliado e apresentaria uma história mais convincente.
A trama é rasa e confusa, ao mesmo tempo em que não apresenta grandes reviravoltas ou complexidade em sua narrativa. Trata-se de uma história simples e polêmica, em que surgem diversas possibilidades para se engrandecer, mas não as aproveita. Não há oportunidades nem para os atores nem para o roteiro em si se desenvolver e ser mais profundo.
Por fim, a busca em tratar uma temática séria e polêmica, torna-se em apenas uma obra polêmica, sem conteúdo e com o total descaso com a própria temática que é sensível por si só.