Uma história que mergulha em exageros e perde o equilíbrio narrativo

Aclamada por seu estilo irreverente e tramas envolventes, a franquia Detetive Chinatown se consolidou como um dos maiores sucessos do cinema asiático contemporâneo. Desde sua estreia há uma década, a saga estrelada por Wang Baoqiang e Liu Haoran conquistou público e crítica ao redor do mundo. Agora, o universo retorna com uma nova proposta em Detetive Chinatown: O Mistério de 1900, uma prequela inesperada ambientada no final do século XIX.

Diferente dos capítulos anteriores, o novo longa nos transporta para a São Francisco de 1900, onde Qin Fu (Haoran), um médico chinês tradicional, é enviado para investigar o brutal assassinato da filha de um influente congressista americano. Enfrentando uma onda de preconceito contra imigrantes asiáticos, Qin une forças com Ah Gui (Baoqiang), um indígena de ascendência chinesa em busca de vingança pela morte de seu pai. A dupla mergulha em uma investigação repleta de pistas falsas, interesses políticos e uma atmosfera à la Sherlock Holmes, onde nem tudo é o que parece.

Crítica | Detetive Chinatown: O Mistério de 1900
Imagem: Wanda Media

A direção de Chen Sicheng, ao lado de Dai Mo, aposta em uma estética visual vibrante e em múltiplas tramas paralelas que buscam convergir em um clímax grandioso. No entanto, o excesso de reviravoltas e subtramas acaba comprometendo o ritmo da narrativa. A introdução, por exemplo, aborda um ataque europeu ao império chinês que pouco contribui com o enredo principal e serve apenas como um artifício para conectar os eventos finais.

Apesar dos problemas estruturais, Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 conta com atuações sólidas. Baoqiang e Haoran mantêm a química cativante que marcou os filmes anteriores, enquanto John Cusack oferece um vilão caricato, mas funcional, como o xenofóbico congressista Grant. Destaque também para Chow Yun-Fat, que interpreta Bai Xuanling, líder mafioso local que protege Chinatown ao mesmo tempo em que manipula os acontecimentos a seu favor. Seu filho, Bai Zhenbang (Zhang Xincheng), surge como peça-chave da resistência chinesa ao imperialismo ocidental.

Crítica | Detetive Chinatown: O Mistério de 1900
Imagem: Wanda Media

O filme busca inspiração em clássicos da literatura policial, como Sherlock Holmes e Hercule Poirot, mas se perde em um emaranhado de clichês e soluções apressadas. A tentativa de aprofundar as relações entre os personagens falha por falta de desenvolvimento adequado, resultando em uma conclusão atropelada que compromete a construção do mistério central.

Mesmo com seu apelo visual e mensagens relevantes sobre aceitação, identidade e preconceito, Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 deixa a desejar. A obra oscila entre a sátira histórica e o suspense investigativo, mas não consegue equilibrar tom e conteúdo, afastando-se do charme peculiar que consagrou a franquia. O resultado é uma experiência inconsistente, que, apesar das boas intenções e do elenco estrelado, termina com a sensação de que faltou coesão.