Baseado em uma história real, Dois Corações tem chamado a atenção dos assinantes da Netflix por esses tempos. Na verdade, desde que foi lançado o filme fica indo e vindo do topo dos mais assistidos. Isso pode ter uma explicação, a história é muito boa.
Em Dois Corações acompanhamos a história de duas famílias, que desenrolam na tela paralelamente. De um lado Chris Gregory, um jovem calouro da universidade de Loyola, cheio de vontade de viver, apaixonado pela namorada, dedicado à sua família. E do outro, Jorge, um senhor que teve uma infância complicada por conta de uma doença grave em seu pulmão, mas que superando todas as expectativas, encontra o amor da sua vida em um avião e passam a ter uma bela vida juntos. Jorge Bolivar na realidade é Jorge Bacardi, dono da grande marca de bebidas Bacardi.
Como que essas duas vidas se encontrarão? Como que o destino prepara essas coisas para nos lembrar como são feitos os milagres? E principalmente, como que a família de Chris encontrou a paz ao saber que a morte do filho teria salvado cinco outras vidas com o transplante? Poderiam ser meros detalhes, se eles não estivessem todos interligados nessa história.
História consegue envolver do começo ao fim
Primeiramente eu gostaria de dizer aos leitores que nenhuma informação abaixo é spoiler. O grande plot do filme não é o transplante, isso porque essa parte da história já é notória nos livros e no trailer, ok? Porém, caso você sinta que não deva conhecer mais detalhes sobre isso, talvez não deva ler o que vem a seguir, combinado?
Obvio, que logo no começo você já imagina para onde o filme vai levar. Mas não se surpreenda se no meio da história você se pegar pensando: “Para onde essa história está caminhando”? Isso acontece principalmente pela maneira como o diretor Lance Hool decidiu separar as duas vidas na tela.
Acompanhamos Chris narrando sua vida pelo seu ponto de vista. Isso talvez se dê pelo fato de o filme ser inspirado no livro que seu pai escreveu, Jacob Elordi, que interpreta Chris, entrega uma atuação muito singela, tentando ilustrar bem como esse jovem bem humorado e amoroso seria de fato na vida. Adan Canto, que vive Jorge, também consegue passar toda a emoção de alguém que está esperando pela morte a todo momento. Um detalhe interessante de analisar, é como que as duas vidas estão em momentos diferentes da história, afinal, Jorge tinha 64 anos quando recebeu o transplante, e Chris 19. É interessante entender como tudo caminhou na vida de ambos para que se cruzassem naquele ponto especifico, naquele dia especifico. E como que isso mexeu com a vida das duas famílias, e as uniu de uma forma que ninguém esperava.
Não existe clichê quando a lição é real
Nenhum outro aspecto aqui precisa ser criticado, não vou me preocupar em dizer se a fotografia funciona, se a trilha está adequada. Nada disso importa, porque os dois elementos principais, roteiro e direção, estão em total sintonia. O espectador pode até dizer que a maneira de entrelaçar as duas jornadas, de Chris e de Jorge acontecem de forma bagunçada na tela, e isso é uma meia verdade. Em determinados momentos existe uma mistura abrupta das duas vidas na tela. Mas eu prefiro pensar que é proposital, para que possamos entender de maneira visual como que o milagre estava acontecendo. Como que da noite para o dia, a vida de Chris termina e a vida de Jorge começa.
Eu gostaria de finalizar essa minha análise, dizendo que a grande lição que fica dessa história não é somente sobre viver como se fosse o último dia, não é sobre dizer as pessoas que as amamos antes que seja tarde. A grande lição que fica é sobre a doação de órgãos, que é talvez o grande milagre que cada um de nós pode operar nessa terra, sem ser santo ou nada parecido. É a nossa chance de retribuir o dom da vida que ganhamos, distribuindo-a aos que precisam e necessitam. Dando esperança a suas famílias, e com isso, gerando uma grande rede de solidariedade e amor.
Por fim, gostaria de dizer que Dois Corações na Netflix é uma grata surpresa, com um elenco muito competente, com um diretor preocupado em passar a mensagem corretamente, e com uma história digna de filme, e que bom que ela se tornou um.