Desde seu sucesso em “Stranger Things“, Millie Bobby Brown parece manter um padrão em seus papéis: mulheres ardilosas que se tornam heroínas em seus mundos. Vemos isso em “Enola Holmes”, e novamente no filme Donzela. Esta acaba sendo a terceira produção que a atriz estrela e produz em parceria com a Netflix.
Donzela é mais um filme de princesa?
O filme narra a jornada de Elodie (Millie Bobby Brown), filha mais velha de uma nobre e humilde família, que foi escolhida para se casar com o príncipe de um reino distante Henry (Nick Robinson). Visando o bem-estar do povo de seu reino, a jovem compassiva e responsável aceita seu futuro. Quando a família chega ao reino vizinho nada parece fora do comum, mas somente após o casamento oficial que a história muda de direção.
A, agora, princesa é levada a um ritual para, enfim, unir seu sangue ao da família real. Porém, em um ato inesperado, Eloide é traída pelo príncipe, que a joga em um abismo como oferenda a um dragão. Após a colonização da ilha, um dragão tem seus filhotes sacrificados pelo rei. E para coexistirem em paz, foi feito um pacto: sacrificar três filhas do rei.
Roteiro previsível
Com uma história previsível, como todos os contos de fadas são conhecidos, o ritmo do filme é um ponto que deixou a desejar. Embora a atriz se entregue ao papel de jovem mulher que está encontrando sua verdadeira força e coragem e desenvolvendo a personalidade forte da personagem, o desenvolvimento dos outros personagens fica raso e não consegue criar uma narrativa envolvente. Após isso, acompanhamos o desenrolar do filme, acompanhando a luta da personagem para sobreviver e fugir das garras do ser que habita a caverna, assim se tornando um filme focado em um só personagem.
A fúria e violência presente no longa é algo chocante para a Netflix, mas foi uma surpresa boa em um filme que a maioria torceria que isso acontecesse.
Direção de arte
A fotografia se destaca como um dos pontos mais altos da produção, mérito do diretor de fotografia Larry Fong. Através de seu trabalho meticuloso, ele cria um contraste marcante entre a riqueza do reino e a escuridão do lar da criatura. Com o intuito de representar o poder da realeza, elementos de ouro e figurinos exuberantes foram utilizados. Já o lar da criatura: tons escuros, labirintos e ambientes claustrofóbicos que provocam angústia e suspense no espectador.
Em contrapartida, o CGI deixa a desejar tendo falhas técnicas que prejudicam a estética do filme. Elementos que derretem no sopro de fogo do dragão são bem visíveis.
Feminismo
Os contos de fada sempre retratam uma donzela em perigo, que precisa de um príncipe montado em um cavalo branco para salvá-la. E em Donzela mostra-se o oposto dessa narrativa enraizada. O filme tece, de forma sutil e magistral, conceitos de empoderamento e sororidade. Mas o longa apresenta uma narrativa que não sexualiza as mulheres e tem potencial de se tornar um exemplo para as gerações atuais. A narrativa expõe os mecanismos de opressão presentes no sistema patriarcal por meio de metáforas dentro de limites de um feminismo mais leve.
Vale a pena assistir Donzela?
Donzela revelou suas melhores cenas no trailer e nos teasers promocionais, chegando à plataforma de streaming sem nenhuma novidade. Porém, Brown carregou o filme nas costas e transformou algo que ficou acomodado, surpreendendo a todos com seu talento e empenho.
Por fim, mesmo com seus pontos negativos, Donzela entrega tudo o que espera de uma aventura de fantasia que busca inverter os papéis da princesa em perigo. O filme pode não ser uma obra de arte, mas Elodie consegue cativar com sua resiliência e determinação. Sendo assim, para aqueles que querem fugir dos contos de fada tradicionais, o filme é uma boa escolha. O longa já está disponível na Netflix.
Redatora em experiência sob supervisão de Giovanna Affonso.