Após longos meses de expectativas, teorias e especulações, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura enfim chegou aos cinemas.

O segundo filme de Stephen Strange veio para solidificar sua posição como um dos heróis mais poderosos do MCU. Para isso, é claro que a Marvel não poderia deixar de escolher uma vilã a altura para a trama.

Roteiro e personagens

A transformação de Wanda em antagonista nessa história pode vir como um choque para aqueles que não assistiram à série WandaVision. No entanto, os primeiros minutos de filme buscam explicar de maneira objetiva – e talvez um pouco apressada – os pontos mais importantes para que o espectador saiba o necessário para entender o que aconteceu e suas motivações.

Além disso, logo nas primeiras cenas do longa somos apresentados à personagem America Chavez. Então, através dela, podemos entender mais sobre o funcionamento do Multiverso, introduzido gradualmente pela Marvel ao longo das últimas produções. A jovem, interpretada por Xochiti Gomez, além de ser uma peça importante para esse filme, ainda promete render muito no futuro da franquia.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura - crítica
Divulgação: Marvel Studios

A partir desse momento, o roteiro segue um ritmo alucinante, potencializado pelas excelentes performances de Benedict Cumberbatch e Elizabeth Olsen. Ambos entregam um verdadeiro show de atuação ao receberem o desafio de interpretar diferentes versões de si mesmo, capturando com méritos as diferentes nuances e complexidades de suas variantes em cada universo.

Assim, em suas melhores aparições na franquia até o momento, Stephen e Wanda finalmente tiveram seus poderes mais amplamente explorados. Além disso, a obra ainda segue um caminho tortuoso pelos seus sentimentos e conflitos internos, tornando-se uma jornada de desenvolvimento dos personagens que coloca em pauta reflexões muito mais profundas, como a dualidade entre o bem e o mal presentes em cada pessoa.

Experiência visual e elementos de terror

A escolha de Sam Raimi como diretor dessa produção foi um dos maiores acertos da Marvel Studios. Da fotografia à caracterização dos personagens e efeitos visuais, Mutiverso da Loucura se tornou um dos filmes visualmente mais grandiosos do MCU. No entanto, o grande destaque do longa nesse aspecto é a maneira com a qual elementos do terror são inseridos na trama.

Raimi, reconhecido por seus muitos trabalhos de destaque no gênero, conseguiu trazer com muita precisão o tom sombrio que o filme precisava. Assim, com banhos de sangue, possessões, rituais, criaturas sobrenaturais e assassinatos brutais, o filme flerta com o terror e apresenta uma violência gráfica que foge muito do que estamos acostumados a ver em filmes da Marvel. Para isso, os recursos utilizados vão além do CGI, refletindo na caracterização dos personagens, paletas de cores e em uma trilha sonora que merece reconhecimento.

A liberdade dada ao diretor pode não agradar aos fãs puristas de filmes épicos de herói, mas certamente traz uma proposta corajosa que indica que os próximos lançamentos da Marvel podem apostar em narrativas menos genéricas e que fogem do “mais do mesmo” que conhecemos.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Reprodução: Marvel Studios

Easter eggs e participações especiais

As teorias e especulações quanto a possíveis participações especiais de personagens emblemáticos nas novas produções da Marvel era algo que intrigava a imaginação dos fãs – principalmente após Homem-Aranha Sem Volta Para Casa.

Tais referências e paralelos, apesar de entregarem o que os fãs pedem, implicam uma grande responsabilidade de que trazer figuras icônicas à tona não seja em vão, e sim uma peça importante na construção da história. E é isso que a Marvel faz mais uma vez em Multiverso da Loucura.

A maneira com a qual as cenas em questão são colocadas no filme não fica como algo “jogado” apenas pelo fan service. Na verdade, tais ligações parecem preparar o terreno para futuros projetos ambiciosos que só foram possíveis com a abertura do multiverso.

Reprodução: Marvel Studios

Considerações finais

Evidentemente, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura não é o filme perfeito e, como era de se esperar, sua proposta audaciosa vem dividindo opiniões.

Os meses carregados de teorias e especulações antes da estreia tornam natural que alguns fãs da franquia fiquem decepcionados ao não ter suas expectativas correspondidas; seja por participações especiais que não apareceram ou pela forma com a qual determinados acontecimentos se desenrolaram na narrativa. Além disso, críticas ao roteiro enxuto e direto ao ponto de Michael Waldron são um tópico frequente nas discussões, porém é difícil afirmar que algo muito diferente do que foi feito seria a melhor alternativa.

O multiverso é um conceito complexo, sem regras estabelecidas, onde tudo pode acontecer. Dessa forma, talvez coubessem mais explicações de alguns pontos para evitar maiores desentendimentos. Ao mesmo tempo, um roteiro mais objetivo evita o que poderia ter sido uma narrativa ainda mais confusa, que priorizasse explicações e teorias em detrimento da história em si, prejudicando seu ritmo e o processo de imersão do espectador nos acontecimentos que tomam parte no filme.

No entanto, o ritmo alucinante de cenas de ação e acontecimentos que o roteiro segue pode acabar tornando o desenvolvimento individual dos personagens mais superficial do que o ideal para um filme que também tem como pauta o aprofundamento em seus sentimentos, conflitos internos e motivações. Assim, a expectativa é que isso seja mais explorado em produções futuras.

Portanto, em linhas gerais, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um filme que cumpre o seu papel de forma grandiosa. A história faz uma ponte necessária ao conectar de maneira dinâmica o universo cinematográfico e as séries da Marvel, além de apresentar peças importantes para o futuro da franquia e desenvolver personagens que mereciam há tempos uma narrativa de tamanha magnitude.