“Ela E Eu”, chega aos cinemas contando a história de Bia, uma ex-roqueira que desperta após 20 anos em coma. Pode parecer um roteiro simples, não fosse o fato de que a história contada por Gustavo Rosa de Moura, ser um oceano profundo de sentimentos, dúvidas e emoções.
Protagonizado por Andrea Beltrão, Eduardo Moscovis, Lara Tremouroux e Mariana Lima, “Ela e Eu” trata de traumas, não somente os físicos, mas os emocionais também. O filme aborda a história do despertar de Bia como um acontecimento extraordinário, e obviamente, esse acontecimento muda a vida da sua família da noite para o dia, assim como quando ela entrou em coma. Ou seja, no passado tiveram que aprender como seria conviver com ela estando fisicamente presente ao mesmo tempo em que ela não estava ali. Agora, como reaprender a conviver com uma pessoa que está 20 anos atrasada em todos os aspectos?
A história de Ela e Eu
Ambientado no subúrbio carioca, a vida da família de Bia durante esses 20 anos foi de cuidados, esperança e medo. A sua filha Carol, inclusive, decidi estudar medicina para tentar acordar a sua mãe. O filme trata dessa relação entre mãe e filha com muita sensibilidade. A direção decidiu usar recortes e fragmentos das memórias de Carol para ilustrar como foi conviver com a ausência de sua mãe. Desenhos, sons, cheiros, tudo isso serve para ilustrar a presença de Bia na vida deles.
Esse é o olhar do diretor, que faz toda a diferença em um filme como esse. Seria muito fácil contar essa história como um drama recheado de lágrimas e choros. Mas a intenção de Gustavo era de trazer uma reflexão muito mais profunda, sobre como não temos controle algum diante das incertezas da vida. Como não estamos preparados para mudanças bruscas e repentinas. E como devemos agir quando essas mudanças acontecem.
Basicamente o filme fala sobre emoções humanas, sem nenhum rodeio. E é impossível não se emocionar a cada nova descoberta de Bia com a nova realidade. A relação de Bia com todos a sua volta, com cada um ela tem uma necessidade diferente, mas também entrega uma possibilidade diferente. Para mim esse é o ponto mais importante dessa história, quando a Bia passa de uma pessoa incapaz para a pessoa transformadora daquela realidade. ou seja, o despertar não foi só dela, mas de todos a sua volta.
Atuações profundas e emocionantes
Andréa Beltrão é uma atriz muito versátil, consegue atuar para os diversos públicos, sob os diversos temas, sem cair na caricatura. Durante boa parte do filme, sua personagem não fala, não reage, não se comunica, mantém somente as expressões do rosto. Não dá para dizer que a ausência de ações facilita a atuação para atriz, muito pelo contrário. São nesse momento que você vê que é necessário ser uma boa atriz para interpretar uma pessoa nessa condição. À medida em que Bia vai recuperando seus movimentos, sua consciência, sua sociabilidade, Andreia cresce na personagem. da mesma forma Eduardo Moscovis mostra também toda sua qualidade como ator. Mas quem realmente rouba a cena é Lara, atriz que interpreta Carol. Mesmo com uma atuação singela e objetiva, ela consegue ser convincente e firme nas cenas mais importantes.
A direção abusa das cores e dos sons, utilizando desses artifícios para conectar o expectador a realidade do filme. Os sons são usados para ditar o ritmo da história, separados em altos e baixos, graves e agudos.
Uma das coisas que eu mais achei interessante dessa história, foi como 20 anos parecem uma eternidade atualmente. As coisas acontecem muito rapidamente na modernidade, todos os dias surgem novas coisas para nós aprendermos, novas tecnologias, novas maneiras de se comunicar novos sentimentos. E como é complicado acompanhar todas essas mudanças. Mais uma coisa não muda, o amor.
O momento mais emocionante do filme com certeza é o terceiro e último ato. É onde podemos refletir sobre quem somos, o que queremos ser, mesmo diante das adversidades da vida. Entender o papel de quem está a nossa volta, mesmo quando tudo parece perdido.