Elvis não morreu! Essa frase é icônica assim como o próprio Elvis, e por vários motivos ela faz sentido. Elvis, o filme biográfico dirigido por Baz Luhrmann, promete contar várias partes da história que poucas pessoas sabem, e revela também o que ninguém duvida, o amor de Elvis por seus fãs, pela música, e pelos seus sonhos. Elvis foi um sonhador, e que morreu em função desses sonhos.

A música de Elvis fez parte da vida de muitas pessoas, e a música sempre fez parte da vida de Presley. Luhrmann faz questão de deixar isso claro, e a maneira como ele encontrou para contar a história do Rei do Rock Roll é o que mais agrada. Entre requebradas e gingados, uma ajeitada no topete, uma última conferida no terno brilhante, nos sapatos bem engraxados, podemos ver por que ele fez tanto sucesso.

A influência da Black Music na vida e carreira de Elvis

O berço da música de Presley veio dos negros, que àquela época ainda precisavam demonstrar sua arte quase que de maneira anônima, afinal de contas, era um período tenebroso nos Estados Unidos, e a sociedade americana passava por várias provações e ainda vivia o momento mais segregado dos Estados Unidos. Uma criança branca, crescendo em um bairro de pessoas negras, foi envolto pela beleza, poder e ousadia das músicas R&B, Soul, Blues e outros ritmos da Black music americana. Elvis se “apoderou” dessas obras primas e alcançou sucesso muito rápido, afinal de contas, ele tinha o talento e o requebrado. Amigo de vários ícones da música daquela época como BB King, que chegou a afirmar em sua biografia que reconhecia em Elvis uma amizade sincera, e que “não reconhecia naquele rapaz nenhuma gota de racismo.”

Quem é Coronel Paker?

E é justamente nesse ponto que entra Coronel Parker, o polêmico empresário do cantor interpretado por Tom Hanks. É notório o que Parker fez com Elvis, tanto no sentido de elevar o cantor a estrela mundial, mas também de como o usou para seus próprios interesses. O que Baz Luhrmann faz nesse filme é dar voz a verdade dos fatos baseado nos relatos que recolheu ao longo de anos, e transformar isso em um roteiro que fosse leve e poderoso ao mesmo tempo.

Parker era viciado em jogos de azar, e usou Elvis como aporte para seus delírios de jogador, como mostra o filme. Parker era um imigrante que vivia ilegalmente nos Estados Unidos, não tinha documentos, não existia perante a Lei, e foi à partir do sucesso de Elvis que ele acabou sendo descoberto pela policia, e precisou boicotar a vida do jovem cantor para não ser preso. Inclusive, esse é o maior motivo pelo qual o astro nunca foi para Europa fazer sua tão aguardada turnê, e nunca viajou pelo mundo.

Elvis
Foto: Cortesia da Warner Bros. Pictures

Uma das frases que mais chama a atenção no primeiro e no último ato desse longa é quando Parker insiste em dizer que ele não era o vilão dessa história, e Luhrmann claramente não faz questão de achar o culpado, deixando ao espectador digerir tudo o que viu em pouco menos de 2 horas e entender o que aconteceu. Mas é preciso dizer que Tom Hank está incrível, atuação espetacular como era de se esperar, e a equipe de maquiagem e figurino, que deixaram ele irreconhecível.

Atuação de Austin Butler está impecável

Ao nosso leitor, peço desculpas por ter deixado a melhor parte para o final. Austin Butler, um ator de 30 anos de idade e com poucos trabalhos em sua carreira, e quase nenhum sucesso para servir como referência. Pois bem, agora existe um divisor de águas graças a sua brilhante atuação nesse filme. E não somente porque Austin conseguiu se parecer fisicamente com o Rei, mas porque ele dedicou cada segundo a mostrar que Elvis era um ser humano como qualquer outro, até o momento em que ele pisava no palco, e se transformava em uma espécie de super-herói da música.

Além disso, uma questão muito interessante que o filme nos estrega é o gosto pelos quadrinhos de super-heróis que Elvis tinha. Claro que o filme exigiria que o ator que fosse dar vida ao cantor fizesse jus ao tamanho da história. A fidelidade foi tamanha que Lisa Marie Presley comentou que Elvis é o único filme que retrata seu pai da maneira correta.

Elvis
Foto: Cortesia da Warner Bros. Pictures

Butler se dedicou, fez o dever de casa e entregou um astro do rock, um marido e pai, e ainda, uma lenda para o público de casa. “Comecei a absorver as informações como uma esponja, lendo todos os livros que eu conseguia pôr as mãos, olhando qualquer coisa e qualquer imagem que encontrasse, como um detetive”, conta Austin Butler em um vídeo divulgado pelo diretor meses atrás. E para quem se perguntar se o ator realmente canta, a resposta é sim, mais especificamente na fase jovem do Elvis. Butler disse que passou por um intenso treinamento para dar conta das notas, do ritmo e ainda atuar enquanto cantava.

Trilha Sonora e desfechos

Ainda em tempo, não é preciso dizer que a trilha sonora do filme está impecável, afinal de contas, são as músicas que marcaram a carreira de Elvis. Uma das maneiras que encontraram de trazer essa atmosfera para a tela, foi através de flashbacks, e mais uma vez a estrela de Butler brilha, pois em várias cenas é impossível distinguir o que era original e o que era atuação.

Não é exagero dizer que o filme aborda o auge e a decadência do ídolo dos anos 70. Que se vê imerso em um universo de acontecimentos que ultrapassaram as condições humanas suportáveis. Ora, ele vivenciou coisas que nunca existiram, e que aconteceram pela primeira vez com ele. Acusado pela polícia, perseguido pelos federais, obrigado a se alistar e servir ao exército, enviado a Alemanha, serviu por dois anos e recebeu a Medalha de Boa Conduta, e foi dispensado. Apesar de ter conhecido Priscila, sua esposa na ocasião, de acordo com relator, foi justamente nessa época que o astro também conheceu as drogas.

Por fim, Elvis é um filme incrível, e que apesar de pequenos deslizes no roteiro e alguns furos históricos, entrega uma obra admirável. É possível que os fãs do astro possam imaginar que existiam mais coisas a se mostrar, a aprofundar, mas quem sabe isso não fica para uma próxima oportunidade. Por hora, esse longa agrada demais aos olhos e aos ouvidos, e se torna uma bela homenagem ao homem que requebrou, suou, cantou, dançou, louvou e amou. Elvis não morreu, claro, ele ainda vive bem presente na vida de milhares de fãs ao redor do mundo.

Com certeza terei que fazer uma parte 2 dessa crítica, pois a muito ainda a se falar. Elvis estreia nos cinemas brasileiros em 14 de julho.